"Irreversível, venha quem vier". É
esta a ideia deixada pelo ministro da Agricultura, Capoulas
Santos, na quinta-feira, 28 de Fevereiro, no Fundão,
quanto à conclusão do Regadio da Cova da
Beira, aquando da assinatura do contrato com a empresa
que vai construir o Circuito Hidráulico entre as
barragens da Meimoa e Sabugal.
No seu penúltimo acto oficial, o ministro garantiu
que o Regadio estará pronto em 2006 e que, nessa
data, em termos nacionais, estarão concluídos
72 mil hectares de regadio. Para além da assinatura
do contrato de construção do Circuito Hidráulico
entre a barragem do Sabugal e a da Meimoa, adjudicado
à empresa Zagope - Construções e
Engenharia, SA, no valor de 13 milhões de euros
e que prevê a construção de um túnel
de 4,2 quilómetros de extensão, a cerimónia
serviu, também, para lançar o concurso público
internacional para a concessão do terceiro e último
troço do Canal Condutor Geral. O preço base
deste troço, cuja extensão ascende aos 27,9
quilómetros, com um túnel de 416 metros
de extensão, é de 16 milhões de euros.
Segundo o vice-presidente do Instituto Hidráulico
de Engenharia Rural e Ambiente (IHERA), João Afonso,
este é um passo decisivo para se fechar o circuito
da água, pois com a construção do
Circuito Hidráulico é possível iniciar
armazenamentos de água nas barragens do Sabugal
e Meimoa, que será por sua vez distribuída
na Cova da Beira. O objectivo do Circuito é o reforço
do Regadio através da água vinda da Barragem
do Sabugal que, para além disso, abastece os concelhos
de Sabugal, Almeida e Pinhel. "A Barragem da Meimoa
não chegava. Serão, assim, transferidos
oito mil litros de água por segundo, mas sem bombagens.
É a rega sob pressão, sem gastos de energia.
Aliás, no futuro, poderá mesmo explorar-se
a energia que será produzida, através de
uma central hidroeléctrica, isto devido ao desnível
das barragens", afirma o vice-presidente do IHERA.
João Afonso garante, ainda, que o segundo troço
do Canal Condutor Geral já está em execução,
permitindo assim, no futuro, a rega nos blocos de Belmonte
e Caria. Agora, é a vez do terceiro troço
ir a concurso, um canal que vai desde o Monte do Bispo
até à Barragem da Capinha, abastecendo freguesias
do concelho do Fundão.
Também o presidente do Instituto, José Luís
Teixeira, se mostra satisfeito pela prossecução
da obra, já que, assim, "servem-se primeiro
as zonas com mais aptidões para a agricultura".
No que diz respeito ao concurso do terceiro troço,
José Luís Teixeira prevê que possa
ser consignado em Novembro e que, em Setembro, o contrato
de obra seja assinado. Já o ministro da Agricultura,
Capoulas Santos, reafirma que, em 2006, a "auto-estrada
da água" estará concluída e
lembra que foi este tipo de estrutura que deu competitividade
aos agricultores espanhóis, algo que também
se quer em Portugal. O ministro mostra-se tranquilo com
aquilo que fez na Cova da Beira e assegura haver condições
para que, "nos próximos cinco anos, estejam
concluídos os 11 mil hectares que faltam".
O "fantasma" do Tribunal de Contas
No entanto, apesar de todo o optimismo reinante na sede
da Associação de Beneficiários da
Cova da Beira, foi o próprio presidente desta instituição,
António Cardoso, a relembrar que, às vezes,
há imprevistos: "Há quatro meses atrás
dizia que o processo só seria irreversível
com o lançamento do terceiro troço, o que
acontece agora. Porém, nunca se sabe quando é
que um Tribunal de Contas (TC) nos vai ainda pôr
o processo em xeque".
António Cardoso diz que esta foi uma luta de mais
de 20 anos e fica satisfeito pelo facto do preço
da água ser mais baixo porque não há
bombagens. Porém, alerta: "Não admitiremos
que as mais valias que possam chegar, como a produção
de energia, sejam concessionadas a empresas estranhas
à região". A resposta do presidente
do IHERA não se fez esperar. José Luís
Teixeira afirma que, há excepção
de um concurso, todos os outros têm tido parecer
favorável do TC, pelo que não há
razões para que a obra "não ande dentro
dos prazos". Quanto à questão da exploração
hidroeléctrica, "é algo que ainda terá
que ser reavaliado", conclui.
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