Por
Sérgio Felizardo
Is
a woman
Lambchop
City
Slang | 2002
"Is
a woman" é uma obra-prima. Sem mais.
Depois do já de si incrivelmente belo "Nixon"
(2000), os norte-americanos Lambchop regressam
com 11 temas inesquecíveis.
Filiados naquilo a que se convencionou chamar
alt.country, ou, mais recentemente, americana,
estes residentes em Nashville, liderados pelo
carismático, mas recatado, Kurt Wagner,
têm uma formação flutuante,
que, por vezes, chega aos 15 elementos em palco.
O número é avantajado, mas permite
a construção de delicadas filigranas
semi-acústicas, que levam o ouvinte numa
viagem sem destino pela vida banal do dia-a-dia,
onde cabem os momentos passados à soleira,
com crianças e cães em brincadeiras
infindáveis e famílias em união
a prepararem o churrasco comunitário de
fim de tarde, alegres e descontraídos.
Livres de preocupações, como uma
corrida sem destino por um espaço livre
e amplo, que tanto pode ser um deserto árido,
como um mar revolto, ou um céu límpido.
As melodias dos Lambchop, trespassadas por um
piano arrepiante e envoltas numa carapaça
country, abrem-se sem restrições
a bocadinhos de soul e de blues, a Leonard Cohen,
como a Curtis Mayfield. "Is a woman"
é, por isso, imprescindível e genial
e, nesta primeira edição, traz um
disco extra com uma música que não
consta do alinhamento do álbum e duas versões:
uma de "Backstreet girl", dos Rolling
Stones, e outra de "This Corrosion",
dos Sisters of Mercy, naquilo que é o exemplo
acabado de como uma recriação pode
soar infinitamente melhor que o original.