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Candidatos ao título
e à despromoção
A expressão "promessa" ganhou rapidamente
um sentido pejorativo, vá-se lá saber porquê.
Agora, que estamos na fase delas, facilmente nos baralhamos
entre um centro-direita estranhamente impressionado pelas
vantagens da redistribuição quase marxista
e de um centro-esquerda "corajoso" e capaz de
resolver com duas ou três medidas toda a injustiça
estrutural que marca teimosamente os sistemas social,
político e económico deste país.
Ambos com culpas no cartório (como aliás
todos nós), espera-se ansiosamente os resultados
das legislativas.
O PSD troca pontes e viadutos por reformas, pensões
e outros tipos de assistência à família
e, em paralelo, promete reduções no IRS
nos estratos superiores. O PS, por seu lado, não
tem nada para dar em troca, à excepção
do Euro 2004 e a dificuldade em compatibilizá-lo
com o atraso estrutural, a assistência médica
ou a dívida pública. Paradoxalmente e no
meio de tanto generalismo, os pequenos partidos parecem
perdidos por entre os pequenos problemas que, por mais
amplos que possam parecer, nos são explicados como
mínimos políticos.
Num acto de desespero, os partidos excluídos da
luta pelo "título", procuram as pequenas
vitórias e radicalizam o discurso político-ideológico,
concentrando-o em torno de questões importantes,
mas excessivamente particulares. Podemos facilmente verificar
um reforço das bases ideológicas em formações
políticas como o PP, a CDU ou o BE.
Com um discurso fluido e acima de tudo popular, o PP reforça
crescentemente o papel dos partidos conservadores - basta
caminhar-se em três ou quatro mercados municipais,
trocar umas palavras e ganham-se facilmente argumentos
tocantes para a campanha que certamente agradará
ao geral com recursos bem particulares e quotidianos.
No meio de tanta quotidianeidade, lá poderão
ressurgir os laivos nacionalistas e propor que antes da
aula, numa postura séria, os putos cantem entusiasticamente
"a portuguesa".
A CDU, face à possibilidade de um alqueviano Alentejo
propõem a "distribuição das
terras a quem as trabalha". Escusado será
dizer que, se assim fosse (e face ao discurso excessivamente
classista do comunismo português), se correria o
risco de o PCP perder a sua base de suporte ao Sul. Que
seria do proletariado agrícola (a principal fonte
histórica de adesão ao PCP no alentejo)?
Não é de todo desconhecido do comunismo
o termo "aburguesamento" e a burguesia parece
persistir como o inimigo-chave do "partido dos trabalhadores".
Mas será que este conflito entre proletários
e burgueses existe realmente? Qual a sua expressão
na conflitualidade social, na manifestação
desse conflito, na latência desse sentimento, no
quotidiano?
O BE, por seu lado, é possivelmente o exemplo máximo
do particularismo. Assumindo claramente uma postura pós-materialista
e desprendida da ortodoxia marxista, enveredou pelos assuntos
mais particulares, como o aborto ou a despenalização
das drogas. Este discurso, com forte influência
de um sentimento hippy e nostálgico, é fundamentalmente
expressivo, pretendendo trazer um conjunto de novos assuntos
para a agenda política. Não estranha, como
tal, que seja uma formação política
bastante representada por gerações mais
novas. Mas, contrariamente à realidade de muitos
países, Portugal vive ainda (ou como nunca) a materialidade,
a sociedade de consumo e não tanto a pós-materialidade
ou a cítica pós-materialista.
Entre os que vivem na "zona de despromoção"
joga-se mais com o coração que com a cabeça,
o que não acontece tanto nos candidatos ao título,
que optam por uma lógica "ping-pong"
onde as proposta são pouco mais que respostas a
propostas, tornando a fonte das ideias algo dúbia
e indeterminável, mas apetecível, porque
potencialmente ganhadora. Supostamente, trata-se de uma
questão de cabeça e de coração
e, "quando a cabeça não tem juízo..."
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