Jesuítas, professores, alunos e outras pessoas
ligadas à universidade debateram a relação
entre religião e violência. O I Encontro
de Primavera, organizado pelo Génesis, Grupo de
Espiritualidade e Cultura, decorreu na UBI nos dias 28
de Fevereiro e 1 de Março, pelas 21 horas.
Manuel Braga da Cruz, reitor da Universidade Católica
(UCP) abordou o tema religião e violência
na perspectiva da Sociologia Política. A religião
ganha um novo papel nas sociedades contemporâneas,
devido à globalização. Existem hoje
conflitos e fronteiras internas nas próprias nações.
Para Braga da Cruz, a desvalorização da
defesa e da segurança e o crescimento da religião
contra a secularização são alguns
factores que explicam os atentados de 11 de Setembro,
nos Estados Unidos.
Para o reitor da Universidade Católica, a solução
para evitar a associação da violência
à religião é preservar a autonomia
e liberdade religiosa. "O Estado é a garantia
da liberdade religiosa. Deve existir uma diferenciação
na função que cada religião ocupa
na sociedade. Estado e religião são esferas
distintas e autónomas", sublinha. Braga da
Cruz defende que "a religião é um fenómeno
colectivo independente dos interesses individuais. A liberdade
religiosa é possível em comunidade."
Para o reitor a Católica, "a religião
só existe em liberdade e é contrária
à violência. A religião é um
direito social. Deve ser respeitada e promovida",
refere.
Manuel Braga da Cruz terminou a sua intervenção
referindo que "a absorção do Estado
pela religião (Teocratismo) e a sacralização
do Poder (Cesarismo) são exemplos errados da relação
entre o Estado e a religião".
João Duque: "Lutar
contra os outros em nome do Islão
ou do Cristianismo é usar a religião
para o mal"
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João Duque, professor de Filosofia e Teologia
na UCP, cita Girard para dizer que "todas as religiões
se baseiam na superação da violência,
enquanto desejo imitativo". Outro autor citado foi
Ricoeur: "O elemento essencial da religião
é a desproporção entre o 'excesso'
de Deus e a capacidade finita do Homem", referiu
João Duque.
Este docente vê na Cruz cristã o maior sinal
de violência, enquanto revelação e
actuação de Deus. "Jesus Cristo é
a vítima inocente. A força do amor inverte
o sentido da violência, que passa a ser dom livre
em favor do outro. A 'violência' divina é
origem da vida. O sacrifício instaura a relação
Deus-Homem como fonte de identidade pessoal", defende.
Toda a religião constitui a origem e o resultado
de uma cultura. O Professor Duque critica os mass media:
"A mediatização da violência
cria uma falsa harmonia, que silencia e esquece as vítimas
da violência, com a pretensão de que tudo
está em ordem".
Ambos os oradores consideram a religião como um
corpo de crenças, ritos e normas comuns a um determinado
grupo de pessoas. Na vida do Homem, mata-se e morre-se
em nome da religião. "Lutar contra os outros
em nome do Islão ou do Cristianismo é usar
a religião para o mal", sublinha João
Duque.
Ao longo destes dois dias de discussão o auditório
participou activamente. Mais de cem pessoas estiveram
presentes nas conferências.
Paralelamente aos debates os participantes puderam assistir
a dois filmes projectados no Teatro Cine,. Domingo, 24
de Fevereiro, passou Sleepers (Sentimentos de Revolta)
de Barry Levinson, que retrata a violência num colégio
de menores. Domingo, 3 de Março, foi a vez de Kandahar
de Mahkmalbaf sobre a violência contra a mulher
no Afeganistão.
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