Mandriões no Vale Fértil

de Albert Cossery


Por Pedro Homero

A Antígona é uma das minhas editoras preferidas e é fácil perceber porquê: uma selecção de livros que vai dos interessantes aos importantes, dos panfletários aos insolentes, mas sempre do género do 'faz-pensar', uma característica em desuso nos tempos que correm.
Este Mandriões no Vale Fértil é um bom exemplo - Cossery é um daqueles figurões que despreza o trabalho e a lógica protestante da redenção pelo esforço e que alia a este laissez-faire uma boa capacidade para gerar histórias e personagens a partir de ideias-base edificantes: neste caso, a noção de que a lei (do menor esforço) é para ser cumprida.
A estória (uma família egípcia procura eliminar os perigos que atormentam a santa sonolência que rege as suas vidas) acaba assim por servir a ideia, e não o inverso, o que não nos impede de rir a bandeiras despregadas e deliciarmo-nos com este bando de preguiçosos que, página após página, insistem em pouco ou nada fazer.