Por Ana Maria Fonseca


Serviços de Acção Social e AAUBI em "rota de colisão" sobre a exploração da Cantina da Boavista por privados

A "aposta na qualidade" levada a cabo pelos SASUBI ao concessionar a cantina da Boavista a uma empresa privada não anda de mãos dadas com a posição da AAUBI sobre a qualidade das refeições servidas neste espaço.
A AAUBI mostra-se "despontada com a administração" da qual esperava uma postura "mais responsável e dialogante", relativamente a esta e outras matérias que preocupam os estudantes.
Esta posição surge perante várias medidas tomadas durante este ano lectivo que desagradaram à direcção da Associação Académica.
Desde o aumento de preços que se verificou logo no início do primeiro semestre até à concessão da cantina da Boavista a uma empresa privada, a Eurest, o que desencadeou por parte da AAUBI uma campanha de protesto junto aos utentes da cantina, muitas são, para José Miguel Oliveira, as razões de descontentamento relativamente à administração dos SASUBI.
"Quando os preços aumentaram no início do semestre, enviámos 2 mil e 200 papéis de reclamação, escritos por vários estudantes, que foram entregues nos serviços e aos quais houve apenas uma resposta, dirigida à AAUBI", comenta o dirigente associativo.
Quanto à concessão da cantina da Boavista a uma entidade privada, a AAUBI não foi consultada sobre esta matéria e considera que esta medida "demonstra claramente uma incapacidade de gestão". Perante a justificação de concessionar a cantina com o objectivo de melhorar a qualidade, a AAUBI diz que "isto revela incapacidade dos serviços para fazer essa melhoria através dos seus próprios meios".
Para a AAUBI, a empresa procura o lucro fácil, quando devia apenas dar apoio social aos estudantes.
"Falta quantidade e qualidade", diz José Miguel.


A Cantina da Boavista registou o dobro da procura no mês de Janeiro, comparando com igual período do ano passado



"Não podemos pôr o carro à frente dos bois"

Relativamente à concessão da cantina da Boavista a uma entidade privada, Silva Raposo afirma que já há alguns anos se falava em "subir o patamar da qualidade". Se antes os serviços de acção social exploravam as cantinas e bares, este ano a administração, em conjunto com o reitor, Santos Silva, decidiram concessionar uma das cantinas a uma empresa privada, "até para comparar com o funcionamento das que continuam nas mãos dos SASUBI, exploradas pela entidade pública".
O administrador fala em "precipitação" da Associação Académica nas reivindicações sobre esta matéria, defendendo que a AAUBI devia ter esperado mais tempo para verificar o bom ou mau funcionamento da cantina. "Não podemos pôr o carro à frente dos bois", comenta. "Se houver um decréscimo na qualidade das refeições servidas, nós cá estamos para tomar nota dos erros e intervir", acrescenta.
As refeições "duplicaram de Janeiro de 2001 para o mesmo mês em 2002", garante o administrador dos SASUBI.
Silva Raposo diz "não compreender o medo dos estudantes", uma vez que a Eurest,
empresa que explora a Cantina da Boavista, serve também várias entidades a nível local e nacional, o que lhe "dá credibilidade", segundo Silva Raposo, no que respeita à "qualidade dos seus serviços". "A Câmara Municipal da Covilhã, os Serviços Municipalizados, as cantinas da RTP, em Lisboa, universidades de que é exemplo a Universidade Católica e até a Assembleia da República", são apenas alguns dos muitos clientes desta empresa, explica.
O que interessa "em primeiro lugar, relativamente à concessão, é ver se há um aumento na qualidade. Essa é que é a nossa aposta", garante.
Relativamente ao preço pago pelos SASUBI à Eurest por refeição, o administrador garante que é "quase o mesmo que gastavam quando exploravam a cantina". A verificar-se um aumento, cálculo que só poderá ser feito no final do ano, "não deverá exceder os cinco por cento". Os SASUBI pagam pouco mais de três euros por refeição, valor que gastavam antes da concessão.
Além disso, a manutenção da cantina, dos equipamentos e as contas de água e luz estão a cargo da Eurest. "A vantagem de ter uma empresa destas a trabalhar aqui é que eles têm imensa experiência".

Cinco euros por cada electrodoméstico a mais

As taxas sobre electrodomésticos são outra das reivindicações da AAUBI

"Os Serviços de Acção Social da UBI são os que mais gastam per capita com a alimentação e o alojamento dos estudantes", sublinha Silva Raposo.
Além de atenderem à maior percentagem de bolseiros do País, são os únicos que pagam 11 meses de bolsa, à excepção da Universidade de Coimbra, onde o 11º mês só é atribuído mediante um requerimento dos alunos bolseiros.
"Temos de nos comparar com outras universidades. A função de um administrador é dar o dinheiro possível e impossível aos alunos carenciados", defende.
As taxas sobre electrodomésticos são outra das reivindicações da AAUBI.
No início deste ano lectivo foi votada em Conselho de Acção Social, no qual participam o reitor da UBI, o administrador dos SASUBI, o presidente da AAUBI, um aluno bolseiro, e um funcionário dos serviços, uma medida que previa a introdução de taxas de electrodomésticos nas residências académias.
Diz esta medida que, para além dos electrodomésticos que existem nos apartamentos das residências, fornecidos pelos Serviços de Acção Social, como uma televisão ou um frigorífico, quem quiser ter um destes equipamentos seus, no quarto, por exemplo, terá de pagar uma taxa de cinco euros por cada electrodoméstico.
"O preço dos quartos nas residências da UBI não é aumentado há quatro anos", diz o administrador dos SASUBI, a propósito destas taxas, introduzidas este ano para quem quiser ter "uma televisão ou um frigorífico, além dos que nós fornecemos a todas as casas", no próprio quarto.
"As despesas com água e electricidade dispararam quando vários alunos trouxeram televisões e mesmo frigoríficos para os seus quartos", ressalva. "Em cada cozinha há estes equipamentos. Quem quiser ter um destes electrodomésticos só para si paga mais cinco euros".
A AAUBI votou contra esta medida que considera injusta, penalizando os estudantes carenciados.
No entanto, Silva Raposo diz já ter recebido cerca de 80 pedidos, "e todos eles pagam a taxa". O computador, por exemplo, não está sujeito a esta taxa.
"Diariamente me chegam pedidos de autorização sobre os electrodomésticos que os estudantes querem trazer", garante.
Na UBI há 1670 bolseiros, o que representa 36 por cento dos alunos da instituição.
"Somos uma universidade pequena mas estamos à vontade para dizer que prestamos um bom serviço no que diz respeito à Acção Social", sublinha.



Aposta na qualidade custa mais de mil contos

Durante o mês de Fevereiro foi adjudicada uma empresa de prestação de serviços no âmbito do controlo de qualidade que irá estabelecer sobre todos os serviços de alimentação da UBI.
Através desta empresa será feita uma auditoria de qualidade aos serviços de alimentação da UBI que implicam análises laboratoriais, o estabelecimento de padrões de qualidade e uma formação que será dada aos funcionários ligados aos serviços de alimentação da UBI. Esta aposta na qualidade vai custar mais de mil contos por ano, a partir deste ano lectivo. "São mais de mil contos que vamos pagar a esta empresa para que faça este controlo de qualidade sobre os serviços da UBI", afirma Silva Raposo.
"Quero estar sossegado e saber que estou a oferecer aos alunos o melhor em termos de controlo alimentar", comenta acerca da contratação desta empresa.
Ainda sobre a Cantina da Boavista, Silva Raposo diz que esta foi e será uma aposta na qualidade e que, a partir de agora podem analisar o que é melhor para a UBI, se o privado ou se o público. "Se a empresa não cumprir, voltamos nós a tomar conta da cantina. A concessão é, por enquanto, só por um ano", refere.
Por este motivo diz que a direcção da AAUBI se precipitou. "deviam ter aguardado para ver como funcionava a cantina". Estamos a implementar algo diferente para melhorar a qualidade. Se alguma coisa correr mal, cá estaremos para corrigir as falhas, garante o administrador dos SASUBI.