"O Jogo e o Trabalho.
Episódios Lúdico-Festivos das Ocupações
Agrícolas e Pastoris Colectivas" é o
título de um novo livro de Mário Cameira Serra,
professor na Escola Superior de Educação do
Instituto Politécnico da Guarda (IPG), editado em
parceria pelo INATEL e pela Colibri.
Cameira Serra refere que este livro corresponde a uma investigação
realizada durante mais de 20 anos. De acordo com o autor,
a obra "corresponde ao esclarecimento de uma dúvida
pessoal centrada na questão da separação
(e até da oposição), geralmente aceite
e defendida por vários autores, dos domínios
do trabalho e do jogo." É que Cameira Serra
afirma que para diversos autores, "o jogo e o trabalho
são actividades circunscritas no tempo e no espaço,
iniciando-se aquele quando termina a actividade laboral,
ou nos breves momentos de intervalo que a mesma possa conter.
Outros investigadores desta temática definem as práticas
lúdicas e as lidas do trabalho como actividades antagónicas"
salienta o autor. Hoje, Cameira Serra considera que, "tal
como sucede nas cidades, no mundo rural existem espaços
e tempos próprios para jogar e para trabalhar".
Neste contexto salienta que "mesmo nos meios rurais,
a mecanização crescente da agricultura e o
envelhecimento de grande parte da população
residente transformaram por completo as práticas
laborais." Acentua, deste modo que as aldeias foram
"absorvendo paulatinamente as características
da vida urbana. O trabalho individualizou-se, como as próprias
pessoas, desaparecendo progressivamente os costumes de vida
comunitária. Chegaram ao fim os trabalhos colectivos,
ou a grande maioria deles, e, do mesmo modo, jazem mortas
as práticas lúdicas tradicionais, as canções
do trabalho, as danças, os jogos tradicionais."
Valor cultural pouco cuidado
Cameira Serra evidencia que mesmo o "riquíssimo
acervo cultural da tradição oral (contos,
lendas, adivinhas, adágios e lengalengas) está
a perder-se, dado que, pelo menos em parte, não
foi passado a escrito. E, se algum deste património
foi guardado e perpetuado em livros, creio não
se ter cuidado o valiosíssimo espólio das
variações locais."
Para além disso, o autor sustenta que, "em
termos gerais, hoje o homem é, em grande medida,
escravo da máquina - seja ela agrícola,
industrial, informática - e também de um
modo notório, do relógio e da televisão.
Os espaços e os tempos actuais são especificamente
atribuídos ao trabalho, por um lado, e ao jogo
e à festa, ou seja, ao lazer, por outro."
Assim, sublinha que "se perdeu a naturalidade, espontaneidade,
variabilidade e aleatoriedade que eram as características
fundamentais dos jogos."
Para breve está previsto lançamento de um
novo livro relativo aos jogos tradicionais que aconteciam
durante os serões familiares e na taberna. "Dado
tratarem-se de duas realidades culturais e sociais já
quase totalmente extintas, creio que essa obra tem plena
justificação, tanto mais que, sobre o assunto,
não existe grande bibliografia disponível",
justifica Cameira Serra.
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