João Correia
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Urbi: Tanto Tempo
"O Urbi já
saiu", suspirou o chefe de gabinete.
O presidente, ansioso, agarrava no rato e começava
a clicar, bufando contra aquela caterva de elitistas que
desconheciam o amén que lhe era devido. Ele era
aquele social-democrata não alinhado que todas
as semanas clamava contra os riscos do urbanismo.
"Que hei-de eu fazer?"- gemia o pobre autarca.
Ele era aquele militante da chamada esquerda caviar que
lançava alfinetadas certeiras no marasmo concelhio.
Ele era aquele socialista imprevisível que não
poupava ironias irritantes. E, por último mas não
em último, aquele cartoonista que o exibia em posições
embaraçosas.
E, o presidente, impávido, gigantesco, sentia-se
a obrigação de dar respostas directas e
indirectas a este jornal paradoxal que, no seu cantinho,
se dava a ler ao mundo. O ilustre líder nunca respondeu,
por carta. Mas, todas as edições do Urbi,
estiveram sub-reptícias nas suas locubrações
doutas sobre a impunidade da imprensa. Devemos estar-lhe
gratos.
O Urbi foi uma pedrada no charco, um desassossego e uma
dor de cabeça. Em suma foi e é um jornal.
Num ápice fez o que pôde e, às vezes,
o que não podia. Trouxe análise polémica,
forjou um grupo de cronistas influentes, e ensinou, a
alguns alunos, os primeiros passos do jornalismo.
Aguardemos mais dez anos de edições ininterruptas.
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