Por Francisco Carvalho


Quando abriu a tasquinha do Sr. Matos comia-se "um bitoque por 120 escudos, um prego por 20 escudos, e bebia-se um café por 7 escudos e 50 centavos"

Quem não conhece a tasquinha do Sr. Matos? Há mais de 20 anos que os jovens da UBI frequentam este estabecimento à procura do bitoque barato e bem servido. Os alunos do então politécnico, e agora universidade, ganharam um sítio para as suas jantaradas, enchendo de alegria o sr. Matos com a sua presença e convívio.
António Vicente Matos nasceu em S. Martinho há 68 anos, corria o ano de 1934. Considera que teve uma infância díficil, porque era necessário ir trabalhar para ajudar os pais, mas refere que nunca passou miséria. Diz-nos que nessa altura "muita gente vivia de esmola", mas teve a sorte de nunca passar por essa situação. Começou a trabalhar na indústria têxtil com 12 anos, como ajudante, e aos 19 já era tecelão.
"Nessa altura a vida era muito cara, porque o dinheiro era pouco", recorda. Ficou só com a terceira classe do ensino básico, mas com o dinheiro que ganhava dava para ir ajudando a família. O pior era a falta de liberdade, causada pela ditadura. Fala-nos das constantes repressões motivadas pelas greves, mas considera que agora há "muito abusodessa liberdade" e que as pessoas têm de "encarar a liberdade de uma maneira diferente".
Casou e teve duas filhas, que já lhe deram três netos. A reforma veio aos 48 anos, devido a doença, e aí nasceu a ideia da tasquinha. Era uma forma de passar o tempo e de ir juntando algum dinheiro para um final de vida melhor.
Porque para o Sr. Matos parar significa acabar a vida num banco de jardim.
Meteu mãos à obra e a tasquinha nasceu. Na altura comia-se "um bitoque por 120 escudos, um prego por 20 escudos, e bebia-se um café por 7 escudos e 50 centavos", relembra.
Com o aparecimento da UBI o negócio prosperou, porque é a juventude que o faz sobreviver, apesar da tasquinha "ter muitos amigos covilhanenses", como referiu. Mas na sua opinião foi a UBI que "fez renascer a Covilhã depois da queda do sector têxtil".

" É uma alegria ter cá uma universidade"

O sr. Matos mostra-se satisfeito com a juventude que a universidade touxe à cidade, porque ela é que "dá vida à Covilhã", fazendo com que as casas comerciais sobrevivam durante o ano lectivo. "Porque depois nas férias a Covilhã morre" salienta. É então durante o período lectivo que o sr. Matos se mantém entretido, porque para ele é uma satisfação estar com a juventude." É uma alegria ter cá uma universidade", afirma. Mostra-se confiante no contínuo desenvolvimento tanto da cidade como da UBI e diz que a chegada do curso de Medicina foi um investimento muito importante, porque "vai dar ainda mais força à universidade e à Covilhã". Espera que neste mandato de Carlos Pinto as obras do pelourinho terminem, e que ele continue o "bom trabalho feito na cidade e aldeias vizinhas".
Diz ainda que quer ficar na Covilhã "até morrer" porque este é o seu lar, porque como contou só viajou até Fátima e França e não gostou, por isso voltou sempre. Outra das suas grandes paixões é o futebol. Relembra os tempos aúreos do Sporting da Covilhã na I Divisão e das alegrias que o "Sporting de Lisboa" lhe tem dado ao longo da vida.
Não sabe quando se vai reformar definitivamente, mas enquanto não se decide continua sempre entretido com o seu trabalho na tasquinha, sempre pronto para a juventude que lhe dá vida e alegria.