por
sérgio felizardo
Considerado
por muitos o melhor disco editado no século
XX, "What´s going on", de Marvin
Gaye, é um marco na história da música
negra com raízes no lado de lá do
Atlântico.
O álbum absolutamente incontornável,
obrigatório e de audição constante,
surge agora numa reedição de luxo,
em que as mais valias não se ficam só
pela remasterização e consequente
melhoria do som, mas também pela inclusão
de demos, takes alternativos, gravações
inéditas que ficaram de fora do alinhamento
original e pelo booklet e embalagem perfeitos, extremamente
informativos e muito completos. Dois discos em que
a autêntica soul, aquela que definiu o som
Motown (e que hoje é vista e revista por
alguns dos melhores artesãos sonoros da actualidade),
decorrente de uma depuração primorosa
do rhythm & blues, nos entra pela alma e nos
faz cantar, dançar e pensar. Sim, porque
Gaye, figura lendária da música norte-americana,
precocemente desaparecido (morto pelo próprio
pai em 1986), para além da voz de veludo
dispara palavras que ainda agora (se calhar nunca
como agora) fazem total sentido. São as preocupações
com o ambiente ("Mercy, mercy me"), com
o racismo, com a progressiva degradação
da qualidade de vida e das relações
interpessoais ("What´s going on"),
mas também com o amor, com as crianças,
com a procura da esperança, que Marvin canta
como mais ninguém. Obrigatório é
pouco.
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