Escrito e organizado pela filha do
poeta e escritor, Clara Rocha, este livro repõe Miguel
Torga no tempo em que viveu e com as pessoas com quem viveu,
única forma de perceber o seu trabalho de poeta e
ficcionista. Mostra-nos um destino único e grande:
o da humanidade que percorre toda a obra literária
e cívica do autor de "A Criação
do Mundo"
Com
muitos depoimentos, com extractos do "Diário"
e d'"A Criação do Mundo" e de poemas,
a fotobiografia transfere-se para o leitor na medida em
que transmite a grandeza do homem e da sua obra.
Rude, ou aparentemente rude, Torga foi, e será para
sempre, o poeta e o ficcionista que nunca se divorciou da
raiz que lhe fez crescer no sangue e na pele um destino
único e grande: o da humanidade. Por isso viveu em
nome da liberdade: "Só presto para ser livre".
E prestou para muito mais ao lutar pela liberdade de todos
os homens e de todos os povos.
Firme no pensamento, nos ideais e nos sentimentos, na expressão
de si, com inúmeros galardões a sublinharem
a sua arte literária e a intervenção
cívica.
A fotobiografia de Torga, ao longo de mais de duas centenas
de páginas, é um documento essencial para
melhor se conhecer o autor d'A Criação do
Mundo. Insere diversos testemunhos, nomeadamente de Mário
Soares, Sophia de Mello Breyner Andresen, António
Arnaut e Almeida Santos. Fala da vida e da obra de quem
soube viver inteiro e inteiro morrer. É assim a imortalidade.
Identidade
Matei a lua e o luar difuso.
Quero os versos de ferro e de
cimento.
E em vez de rimas, uso
As consonâncias que há
no sofrimento.
Universal e aberto, o meu instinto acode
A todo o coração
que se debate aflito.
E luta como sabe e como pode:
Dá beleza e sentido a
cada grito.
Mas como as inscrições nas penedias
Tem maior duração,
Gasto as horas e os dias
A endurecer a forma da emoção.
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