"Não tenho nada a ver com isso. Não
me diz respeito e, por isso, não comento".
Jorge Pombo reage desta forma à notícia
avançada pelo jornal Público, que dá
conta de irregularidades no processo de adjudicação
da Biblioteca Municipal da Covilhã, quando era
presidente da Câmara, e em que, alegadamente, estarão
envolvidos José Sócrates, então deputado
na Assembleia da República e Carlos Martins, então
"secretário" do autarca e actual presidente
da Junta da Conceição. Segundo o diário
explica, na sua edição de terça feira,
8, o actual ministro do Ambiente, terá estado pessoalmente
envolvido "numa operação que tudo indica
ter tido como objectivo alterar uma decisão da
Câmara da Covilhã, por forma a que esta adjudicasse
a uma empresa de um conhecido seu um concurso público
já ganho por outro concorrente".
O caso remonta a 1995. A 13 de Junho a Câmara aprova
a intenção de atribuir a empreitada da Biblioteca
à empresa Abrantina, relegando as propostas de
outras construtoras, entre as quais a Ceoga que, refere
o Público, "propusera menos oito mil contos
que a vencedora". Segundo o diário, "descontente
com a decisão camarária terá ficado
Álvaro Geraldes Pinto, um empresário do
concelho de Belmonte. Além dos interesses na Ceoga,
o empresário dirigia (e dirige, juntamente com
um irmão) a Gitap, sociedade que há muito
domina o mercado de estudos e projectos de grande parte
das câmaras socialistas de todo o País".
Já conhecedor da decisão da autarquia, José
Sócrates terá, continua o artigo, telefonado
a Geraldes Pinto no dia 21 de Junho. Só que o telefonema
foi feito para os escritórios da Gitap, que estava
a ser investigada pela Polícia Judiciária
(PJ) no âmbito de uma operação para
esclarecer as relações entre a empresa e
o ex-presidente da Câmara da Nazaré, o socialista
Luís Monterroso, e a conversa foi integralmente
gravada. Segundo o resumo da conversa feito pela PJ, prossegue
a peça do Público, "o telefonema terá
servido para o deputado se inteirar dos problemas da Ceoga
e das medidas a tomar no caso da sua preterição
na Covilhã. Em resposta à afirmação
de Geraldes Pinto de que contava reclamar contra a adjudicação
à Abrantina, Sócrates ter-lhe-á dito
que ia telefonar a Carlos Martins para lhe pedir que contactasse
o empresário, insistindo, porém, em que
este teria de ajudar o secretário de Jorge Pombo".
No entanto, e segundo o mesmo artigo, "ao longo da
conversa, constata-se que os dois homens nunca falaram
da Ceoga, nem na obra em concreto a que esta tinha concorrido,
nem na função desempenhada por Carlos Martins.
Sobre a empresa de Geraldes Pinto, a polícia presume
que se trata da Gitap, uma vez que o telefonema é
feito para os seus escritórios".
Martins ameaça com tribunal
De acordo com a PJ, prossegue o jornal, Sócrates
e Carlos Martins "terão ficado furiosos face
ao afastamento da Gitap". E, numa outra chamada interceptada
pela polícia no dia seguinte, "Carlos Martins
esclarecerá o empresário Geraldes Pinto
que não teve qualquer responsabilidade na entrega
do contrato à Abrantina, acrescentando que o presidente
da Câmara, Jorge Pombo, se encontrava em Bruxelas
com um grupo de jornalistas do Fundão, precisamente
a convite da Gitap". A empreitada da Biblioteca Municipal
acabou, assim, por ser adjudicada à Abrantina apesar
do recurso interposto pela Ceoga, que levou a autarquia
a pedir um parecer a um consultor externo. Contactado
pelo NC, Jorge Pombo afirma estar "convencido que
a obra foi adjudicada à melhor proposta".
Além disso, continua, "houve um parecer técnico
por parte de um júri que considero isento e idóneo".
O caso da viagem a Bruxelas que, segundo a peça
do Público, terá sido paga pela Gitap, também
merece reparos por parte do ex-autarca. "Essa informação
está deturpada", reitera: "Efectivamente
existiu essa viagem, mas não foi a convite da Gitap.
A iniciativa partiu de César Vila Franca (na altura
presidente da Câmara de Castelo Branco) e foi dirigida
a todas as autarquias do distrito, que pagaram a sua viagem".
De facto, conclui, "estivemos com responsáveis
da Gitap, mas também com o comissário português,
Cardoso e Cunha". Também contactado pela redacção
do NC, Carlos Martins, não quer comentar a situação.
"É um artigo difamatório e um atentado
ao meu bom nome", refere enquanto informa que o seu
advogado "já está instruído
para avançar com os devidos mecanismos judiciais
para processar os responsáveis pela publicação".
O NC tentou ainda falar com o actual ministro do Ambiente,
José Sócrates, mas até ao fecho desta
edição, na quarta-feira, 9, não foi
possível ultrapassar a "barreira imposta"
pelo Gabinete de Imprensa do seu Ministério.
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