
José Geraldes
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A idade do Euro
Com a chegada de 2002,
o euro entrou, definitivamente, em circulação
em 12 países da União Europeia, entre os
quais Portugal. E 91 anos depois da queda do real, a moeda
da Monarquia e o nascimento do escudo, após a proclamação
da República.
A introdução do euro, como moeda única
europeia, oferece vantagens para a estabilidade económica
dos países envolvidos e evita taxas cambiais e
desvalorizações para segurar as economias
nacionais..
O euro passa a servir um mercado de 300 milhões
de consumidores que, a médio prazo, tende a aumentar,
mercê do alargamento da União Europeia a
Leste.
Por agora, a nova moeda é um passo de gigante na
integração económica europeia e um
trampolim para novos índices de crescimento. O
que não significa, automaticamente, aumento de
salários como parece muita gente estar à
espera.
A este propósito, o governador do Banco de Portugal,
Vítor Constâncio, em lúcida entrevista
ao Expresso da semana passada, equaciona, em jeito de
aviso, a questão. Esclarece o Governador : "Espero
que não haja uma tendência de convergência
dos salários em alta porque (...) uma mera conversão
monetária não altera as condições
económicas." E sublinha com ênfase :
(...) "Os salários tendem a alinhar pelos
níveis de produtividade relativa dos países.
E, se tentarem não cumprir esta lei, o resultado
será, evidentemente, o desemprego." Vítor
Constâncio preconiza: "Teremos de lutar contra
essa tendência e penso que os dirigentes empresariais
e sindicais estão bem conscientes deste problema".
Por conseguinte, todos os empresários e sindicalistas
devem assumir as suas responsabilidades para que uma espiral
de reivindicações de aumentos de salários
não desemboque num cortejo fúnebre de despedimentos
e um crescimento do desemprego.
É mais seguro e prudente haver salários
para todos do que entrar em exigências irrealistas
que podem levar empresas à falência.
Depois da idade da Pedra, da idade do Ferro e da idade
do Bronze, a Europa entra na idade do Euro. Trata-se de
um facto histórico que vai apressar a união
política do Velho Continente.
A recente cimeira de Laeken, na Bélgica, propôs
uma reforma institucional através de um Convenção
que apresentará as linhas mestras de uma Constituição
Europeia onde se prevê o reforço dos poderes
do Parlamento Europeu e a eleição de um
presidente da União Europeia.
Com tantos problemas surgidos na cimeira de Nice em que
se desenharam os clubes dos grandes e dos pequenos, a
introdução do euro tem de ser bem consolidada.
E a Convenção não pode avançar
a uma velocidade desmesurada.
O euro foi um grande acto de coragem que nos fará
tomar consciência da identidade europeia. A nova
moeda é irreversível e será a partir
da sua base que as instituições políticas
têm de ser desenvolvidas.
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