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E AGORA, COVILHÃ ?
Apologista de programas de governação -
ideias e objectivos calendarizados -, mais do que de ritos
idolátricos, preocupa-me agora, findo um circo
mediático e na iminência de outro, a gestão
do vácuo, das mudanças tranquilas, e da
apropriação dos conceitos da nova vaga do
politicamente inconsequente.
O actual governo autárquico tem o dever de aproveitar
a onda de maioria e continuidade para, deixando de estar
preocupado com a sobrevivência política,
actuar e desenvolver o seu projecto político de
forma exemplar. Tem todas as condições para
que esta legislatura seja a da exigência em matéria
de qualidade de vida, Segurança Social, Educação,
Saúde e Cultura.
A Covilhã deve ser gerida com
estratégia, contrariando a tendência para
decisões casuísticas, desenvolvendo largas
directrizes orientadoras, geradoras de acção,
que permitam afirmar o seu projecto de cidade. Não
podendo mais agir como uma cidadela, tem de estabelecer
relações qualificadas com as congéneres
do interior, e perceber as particularidades da vida urbana,
semi-urbana e rural desenvolvida nas suas freguesias.
Sendo o seu património natural
mais apreciável do que o histórico, parecem-me
óbvios dois aspectos: primeiro, que o património
natural e histórico (religioso, civil e industrial)
seja conservado; segundo, que cuidemos da qualidade do
que fazemos hoje, para que o seu valor possa ser relevado
amanhã, mas também porque há sempre
um desempenho formativo das intervenções
que contrariam a mediocridade cultural e que estimam a
herança.
O actual modelo cultural, requer centros decisórios
de vanguarda e o devido envolvimento dos criadores e da
comunidade, ao invés de uma cultura de lapela postiça
e desinformada.
A julgar pelas magnitudes dispendidas
em programas re's (revalorização, reordenamento,
requalificação, reorganização,
revitalização...), somos um país
riquíssimo, que inutilmente desperdiça recursos.
Não querendo, ou não sabendo fazer bem,
precisamos lamentável e invariavelmente de segundas
e terceiras oportunidades.
País do improviso, avesso ao plano, país
de espertos míopes que tornam a paisagem construída,
florestal, agrícola e fluvial refém de vis
interesses instalados.
Urge, por isso, discutir o território, urbano e
ambiental, obviamente dentro dos limites da escala de
intervenção dos poderes públicos,
mas com ambição de ideais, dado que se não
nos propusermos a algo de válido com dificuldade
alcançaremos o razoável.
Cuidamos que está na altura de prever riscos, de
tornar as decisões participadas, atitude que compromete,
por um lado, mas também responsabiliza, esclarece
e permite que o PDM não seja desculpa de libertinagens.
A Beira, precisa orientar as suas coragem
e tenacidade para reformar e ordenar o seu território.
É especialmente importante para o Concelho da Covilhã
combater assimetrias económicas, sociais, culturais
e territoriais, mas também o é conservar
a identidade, impedindo o surgimento de focos suburbanos
que começam a despontar, à guisa de urbanizações,
empreendimentos, aldeamentos, loteamentos e demais eufemismos
ao abrigo dos quais se edificam mimos dignos do Terceiro
Mundo.
Não podemos permitir de ânimo leve a erecção
de outro Fundão - daquele Fundão entalado
entre a Av. Eugénio de Andrade e o edifício
Acrópole (veja-se o desplante dos epítetos)-,
entre a Variante e o eixo TCT.
Portanto, o eixo TCT deve tornar-se numa via com personalidade
(avenida? penetrante na malha urbana? de circunvalação?
alternativa? residêncial? comercial? de serviços?
mista?), pois já causa engulho ver tanta confusão
de cércea, tanto semáforo, focos industriais
antigos e zonas agrícolas fertilíssimas,
venderem o seu genius loci a troco de exíguas alvíssaras.
Tudo porque a Câmara não decidiu qual o cariz
dessa estrada, e não decidindo vale tudo, todas
as arbitrariedades.
Ordenar o território implica pensar no colectivo,
partilhar um desejo comum. O território luso, demonstrando
que essa vontade cívica não existe, torna
ainda plausíveis outros cancros que me eximo, agora,
de nomear.
O Governo demitiu-se do papel regulador
da construção e em particular da habitação,
tentando imiscuir-se nas ordens profissionais para compensar
a invisibilidade da sua política nesta área
- nesta matéria! Porém, competindo em primeira
linha aos orgãos de poder autárquico zelar
por melhores intervenções urbanísticas,
parece-nos lícito reivindicar a promoção
de concursos públicos transparentes para as obras
municipais. Concursos que, embora pareçam demorar
os processos, traduzem-se, em regra, em intervenções
mais qualificadas.
Arrecade-se algum do capital simbólico dos planos
paisagísticos Polis, rumo ao fim das obras de aparato,
mas não se esqueça que o essencial é
garantir dignas condições para a vida quotidiana
das comunidades.
Ouvimos de vários políticos propostas de
criação de bolsas de terrenos, como medida
conducente à acessibilidade à habitação.
Propostas desgarradas, mas com a virtude de tacitamente
reconhecerem que a especulação imobiliária
dificulta a fixação de jovens e que enquanto
a habitação for um bem de primeira necessidade
o neurónio nacional não pode pensar, e muito
menos responder, ao complexo mundo do qual depende, que
lhe franqueia as portas e patrocina o seu feliz endividamento
para a vida.
O Distrito de Castelo Branco precisa
de ser entendido simultaneamente como um todo, no dever
de harmoniosa distribuição do erário,
e como um conjunto de partes distintas, cuja interligação
com os distritos limítrofes tem sofrido alguma
obnubilação. Facto pelo qual a autarquia
deve mobilizar-se, concertando esforços, ante o
enviesamento no estabelecimento das prioridades governativas
e no sentido de corrigir os problemas não edógenos,
alguns conjunturais do país, como a debilidade
decorrente do desequilíbrio no relacionamento com
os centros decisórios, em particular os da Região(?)
Centro, evidente na concentricidade terciária coimbrã.
Comecemos a pensar Portugal a partir
do nosso Concelho, mudando a cultura do derrotismo pátrio,
a indiferença característica dos nossos
decisores e a apatia generalizada, impeditiva da melhoria
de qualidade de vida, da igualdade de oportunidades e
da alegria de viver.
Foco dinamizador de cultura e de ciência,
a Universidade da Beira Interior deve estar presente no
modelo de desenvolvimento do Concelho e do Distrito, disponibilizando
as suas qualidades para a renovação de serviços
e indústrias e dinamizando o debate das orientações
técnicas e políticas, aspecto que tem no
Parkurbis um bom presságio, caso venha a ser uma
encubadora de empresas e permita fixar indústrias
leves.
Formulo votos de que a Covilhã, que almeja tornar-se
campo de saber, evite o alheamento da ciência na
definição e gestão urbanas. Para
tal, deve convocar frequentemente a comunidade e a Universidade,
ouvi-las e torná-las parte das decisões,
por forma a evitar crimes de lesa-pátria equivalentes
aos perpetrados na Alta de Coimbra, nos anos 40, cujos
efeitos de desarticulação urbana as sucessivas
operações de cosmética não
têm corrigido (haja esperança pela execução
do projecto do Arqº Gonçalo Byrne).
Por fim, desejo que a Beira,
conhecida pelas palavras escassas, esparsas mas rectas,
contrarie a sua igualmente característica inércia
colectiva. O tempo é de acção.
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