De estatura média, aspecto simpático e
olhar carregado de tristeza, Américo Silva, 76
anos, recebeu o Urbi et Orbi na sua oficina de trabalho,
uma cave transformada em serralharia de alumínio.
Após ter concluído a instrução
primária, aos 12 anos, foi trabalhar para a oficina
do seu cunhado onde começou a ganhar experiência
na arte de trabalhar o ferro. Aí aprendeu tudo
o que sabe hoje, "nunca tive ninguém a meu
lado a dizer como se fazia. Fazia, estragava e tornava
a fazer".
Com o falecimento do seu cunhado, ficou encarregue da
oficina que trabalhava para a construção
civil e para as fábricas da Covilhã, fornecendo
chaminés, clarabóias, algerozes, vários
utensílios usados na altura.
A grande preocupação
deste artista é o destino dos seus utensílios
de trabalho quando a oficina fechar
|
As fábricas começaram
a fechar e assim deixou de ter trabalho. "Agora
só me dedico a estes pequenos trabalhos artísticos",
caixas, lanternas, candeeiros, animais feitos em
ferro, trabalhos que lhe encomendam porque não
se encontram em mais parte nenhuma.
Passados 45 anos de dedicação a este
ofício, é com mágoa e revolta
que vai fechar a sua loja. "Já estou
saturado, já não posso mais e incentivos
tenho tido poucos ou nenhuns", desabafou.
|
Obrigado a fechar a sua oficina por não ter ninguém
que lhe dê seguimento, Américo Silva reclama
o facto de nunca se terem criado condições
pelo Estado, a nível nacional, para haver aprendizagem
destas "artes que estão a morrer com os últimos
artesãos". Depois, o facto é que o
artesanato "não dá rendimento suficiente
para pagar a um aprendiz", e "o Estado é
que podia dar um incentivo, tal como estão hoje
a fazer, a gastar milhões em cursos de formação
se calhar com menos futuro profissional que esta arte".
Ao deixar a sua actividade de anos, Américo Silva
lamenta o destino das ferramentas que constituem a sua
oficina e confessa que "gostava que fossem para um
museu ou para a universidade".
Entre muitos
dos seus trabalhos, aqueles que mais se destacam
são as duas colecções da Arca
de Noé, cada uma com 25 animais elaborados
em ferro, um trabalho que, segundo Américo
Silva, "leva tempo, paciência, sensibilidade
e gosto por aquilo que se faz". Estas colecções
chegaram a participar em várias exposições,
entre elas, uma promovida pelos Lions da Covilhã
e outra em 1992, na Covifeira. A propósito
da participação das suas obras nestas
exposições, refere que "enriqueceram
a exposição e receberam eles os louros".
|
Este é um trabalho que requer tempo, paciência
e sensibilidade
|
É com muita mágoa no olhar que diz que
"é com tristeza que deixo isto", e salienta
que "quando amanhã alguém precisar
deste trabalho, não há ninguém que
o faça e depois é que vão dar valor".
|