José Geraldes
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Perdão e terrorismo
Justiça, perdão
e terrorismo são os temas de base da mensagem do
Papa João Paulo II para o Dia Mundial da Paz que
se celebra no próximo dia 1 de Janeiro de 2002.
O perdão já tinha sido objecto da mensagem
de 1997.
Na mensagem de 2002, João Paulo II usa um tom enérgico
e combativo com palavras mais fortes do que nas anteriores
mensagens. Nota-se que o atentado de 11 de Setembro e
a guerra do Médio Oriente explicitamente referidos
exerceram uma influência decisiva na sua elaboração.
O Papa vai directamente aos temas que se propôs
tratar, sem rodeios nem ambiguidades. E com propostas
de solução e apelos às autoridades
e ao empenho da sociedade civil.
O ponto de partida assenta na definição
de paz de Santo Agostinho : " A paz é a tranquilidade
na ordem." Daí que a paz seja o "fruto
da justiça" entendida no "pleno respeito
de direitos e deveres na equitativa distribuição
de benefícios e encargos." Como corolário
da justiça, segue-se o perdão.
Contra a "paz baseada na justiça e no perdão",
ergue-se o "novo nível de violência
introduzido pelo terrorismo organizado." Neste capítulo,
o Papa procede a uma anatomia do terrorismo numa linguagem
cirúrgica em que são denunciados veementemente
os seus financiadores e "o instinto de morte"
que os move. Igualmente o ódio donde provém
e " o desprezo da vida do homem" que alimenta.
Assim " o terrorismo dá origem não
só a crimes intoleráveis mas também
constitui em si, no recurso ao terror como estratégia
política e económica, um verdadeiro crime
contra a Humanidade." Daí o direito à
defesa contra o terrorismo que deve ser pautado por regras
morais e jurídicas.
O matar em nome de Deus leva o selo da profanação
da religião. Por isso, nunca os responsáveis
religiosos podem usar o mínimo de indulgência
para com os terroristas e seus protectores. A violência
em nome de Deus ultraja a dignidade humana que é
sagrada.
Na óptica do Papa o terrorismo e os ódios
da guerra na Terra Santa podem encontrar uma solução
numa "vontade de justiça e de reconciliação".
O perdão apresenta-se como caminho indispensável
para uma paz duradoura. Uma pedagogia do perdão
contra o terrorismo apresenta-se como caminho a seguir.
João Paulo II serve-se de uma fórmula-modelo
: "A paz é a condição do desenvolvimento
mas uma verdadeira paz torna-se possível somente
com o perdão."
O convite aos judeus, cristãos e muçulmanos
para a condenação pública do terrorismo
pode abrir novas perspectivas para a criação
de um ambiente propicio a soluções desejadas.
O Papa não tem ilusões mas a sua determinação
é um elemento importante na crise actual. A renovação
da iniciativa de Assis no próximo dia 24 de Janeiro
quer acentuar que os sentimentos religiosos levam à
compreensão e "neles residem o principal antídoto
contra a violência e os conflitos."
Nos tempos actuais, não se admitem tibiezas. De
qualquer religião ou de qualquer país.
Com a paz, a Humanidade só tem a ganhar. Mas impõe-se
que se dê lugar à justiça, se promova,
a todos os níveis, o perdão. Para se eliminar
esse cancro das sociedades modernas que se chama terrorismo.
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