António Soares Aparício, 94 anos, sapateiro
"Ainda leio jornais"

 Nasceu na freguesia de S. Pedro na Covilhã, na Rua Mateus Fernandes, no dia 11 de Dezembro de 1906. António Soares Aparício, 94 anos (fará 95 em breve), é sapateiro há 79 anos. Já só faz pequenos consertos. Trabalha sem óculos. Espírito jovem e amigo de conversar, reside no número 62 da Rua D. Cristóvão de Castro. Está ao cuidado da D. Maria do Céu Pires da Silva Fernandes que afirma: "Trato o sr. António como se fosse meu pai".

Marco António Antunes


"Sempre gostei da minha arte: consertar e fazer sapatos"

Urbi@Orbi - Como foi a sua infância?
António Soares Aparício - O meu pai era empregado da fábrica que fornecia o gás na Covilhã, chamava-se Joaquim Soares Aparício. A minha mãe era doméstica e chamava-se Rita de Jesus Sousa. Tive dois irmãos que já morreram. Perdi os meus pais devido à pneumónica (pneumonia) em menos de 24 horas. Fiquei órfão e fui entregue com 5 anos ao cuidado dos meus padrinhos. Mais tarde atacou-me uma dor ciática que não foi tratada a tempo. E por isso fiquei coxo. Uma senhora amiga ajudou-me... Fui para a Casa Pia em Lisboa onde aprendi a arte de sapateiro - consertar e fazer sapatos - e de alfaiate.

U@O - Como era o ambiente na Casa Pia?
ASP - Era do melhor que pode haver: boa comida e muitos amigos.

U@O - Onde trabalhou?
ASP - Trabalhei primeiro em Lisboa numa oficina junto ao Coliseu dos Recreios. Mais tarde fui para a Lardosa, no concelho de Castelo Branco. E depois vim para a Covilhã, onde sou sapateiro há mais de 40 anos. Trabalho como sapateiro desde os 15 anos.

U@O - Como era o seu trabalho?
ASP - Cheguei a ter seis trabalhadores a meu cargo na oficina da Covilhã. Sempre gostei da minha arte: consertar e fazer sapatos. Fiz sapatos para os mercados e para os militares que estavam no Regimento de Infantaria da Covilhã.

U@O - Ainda conserta sapatos?
ASP - Só faço pequenos consertos como engraxar e coser à máquina, por motivos de saúde. Mas trabalho sem óculos.

U@O - Tem filhos, netos ou bisnetos?
ASP - Tenho uma filha na Amadora. No Brasil tenho um filho, duas netas e uma bisneta.

U@O - Como vê a evolução nos meios de comunicação?
ASP - Ainda sou do tempo do comboio a carvão. Depois veio o comboio a vapor. Houve uma grande evolução na comunicação social.

U@O - Ainda vê televisão, ouve rádio ou lê jornais?
ASP - Vejo pouca televisão e ouço pouca rádio. Mas ainda leio jornais.

U@O - Como recorda a Covilhã antiga?
ASP - A Covilhã está muito mudada. No pelourinho ficava um coreto, onde tocavam bandas de música. No actual edifício da Câmara, estava a Cadeia e a Câmara da altura. Foi uma pena terem deitado abaixo este edifício muito antigo.

U@O - Como ocupa os tempos livres?
ASP - Descanso. Vou para a oficina. Ajudo as pessoas em pequenos consertos de sapatos. Vejo passar os carros. Falo com as pessoas que passam na rua.