José Geraldes
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Lei-fantasma e incentivos ao
Interior
A lei dos incentivos fiscais
para o Interior adormece nas gavetas do Ministério
das Finanças. Mais ainda: não passa de uma
lei-fantasma.
O facto é de estranhar, pois foi objecto de anúncio
solene no Fundão pelo próprio Primeiro-Ministro
António Guterres.
Para travar a desertificação do Interior,
o primeiro-ministro apontou, como uma das medidas a tomar,
a redução do IRC (Imposto de Rendimento
Colectivo) de 32 por cento para 25 por cento, ou seja,
uma descida de sete pontos percentuais. O objectivo era
atrair a fixação de novas empresas e aliviar
a carga fiscal dos empresários por aqui instalados.
Agora segue-se uma saga que ninguém entende. A
lei foi elaborada e consta do Registo de Publicações
do Diário da República. A portaria que regulamenta
a lei foi assinada mas não teve publicação.
Para compreender tal "esquecimento", só
existe a explicação de que houve um claro
recuo do Governo. Quais as razões desta atitude?
Até agora, regista-se o silêncio do Ministério
das Finanças.
Mas os empresários é que ficam largamente
prejudicados, pois arriscaram-se a novos investimentos
na base de que pagariam os seus impostos apenas pela taxa
de 25 por cento. E--pergunta-se -- quem os vai indemnizar
?
Com efeito, não se trata de quantias menores pois
há investimentos que atingem centenas de milhares
de contos. E as empresas vão ter dificuldades para
fazer face aos seus encargos.
A ANIL (Associação Nacional dos Industriais
de Lanifícios) já tomou posição
sobre o assunto. Cartas a dar conta do sucedido seguiram
para António Guterres, os ministros das Finanças,
Planeamento, e grupos parlamentares da Assembleia da República.
O Governo tem de explicar, de forma inequívoca,
o que se passa com a não publicação
da portaria regulamentadora da lei dos incentivos fiscais.
Não pode fazer "orelhas moucas" sob pena
de permitir que se levantem as piores suspeitas.
Então elabora-se a lei e, depois, congela-se a
mesma lei sem ter em conta a saúde financeira das
empresas!
O primeiro-ministro faz uma promessa pública que
não se cumpre. Onde fica a sua autoridade?
O curioso de toda esta história é que estamos
em Dezembro. E, como o IRC é pago, adiantadamente,
as empresas costumam, neste mês, proceder à
correcção dos pagamentos dos seus encargos.
Por isso, só agora se deram conta da falta da lei,
agendada para publicação desde o passado
mês de Fevereiro. Na prática, não
se verificou nenhuma redução de impostos.
E, se não houvesse a necessidade verificar os impostos
pagos, ninguém dava conta de que a lei se tinha
"evaporado".
Não queremos tirar a ilação de que
o Governo quer enganar as gentes do Interior. E que tenha
havido apenas um simples esquecimento. Mas, em assuntos
desta monta, não há desculpas para qualquer
lapso.
É imperativo que o Governo dê os esclarecimentos
necessários. E o mais depressa possível.
Estamos tão fartos de retórica que só
os actos nos convencem.
Aguarda-se a resposta à pergunta: onde pára
a malfadada lei-fantasma dita dos incentivos fiscais ao
Interior ?
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