José Geraldes
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Liberalização
dos têxteis
Os industriais portugueses
dos têxteis seguem, com atenção, as
negociações da União Europeia com
a Índia. O caso não é para menos.
Com efeito, depois da abertura ao Paquistão, por
causa da guerra contra o terrorismo, o problema adquire
novos contornos. A questão centra-se no facto de
a liberalização dos têxteis só
estar prevista para 2005.
Os industriais querem, com inteira justiça, a reciprocidade
dos mercados. Um relatório de 1996 da União
Europeia já diz que a indústria têxtil
terá futuro se a aplicação do sistema
de disciplina da Organização Mundial do
Comércio criar condições de concorrência
leal e garantir o acesso efectivo das empresas europeias
aos restantes mercados mundiais. O relatório sublinha
ainda que os acordos terão uma incidência
determinante nas importações europeias e
no desenvolvimento futuro do sector têxtil.
Daí a Covilhã e zonas da Beira Interior
onde estão sediadas fábricas, casos de Cebolais,
Seia, Gouveia e Guarda, poderem vir a sofrer consequências
gravosas. Lembre-se que 70 por cento da produção
dos lanifícios do País está concentrada
nos distritos de Castelo Branco e Guarda.
Das 124 empresas que existiam na Covilhã em 1974,
conservam-se actualmente 30. E cinco mil pessoas trabalham
em postos directos. O que significa haver uma grande parte
da população dependente dos lanifícios.
A vigilância deve ser uma constante dos sindicatos
e das associações patronais. E o Governo
não pode deixar de acompanhar esta questão
com um olhar clínico.
Vários países da Europa têm interesses
a defender no sector. E não vão permitir
que saiam prejudicados das negociações.
E, como Portugal é um pequeno país periférico,
a prudência manda que a atenção seja
redobrada. E, claro, muito tacto diplomático.
Há um pormenor importante a ter em conta. Os países
asiáticos dispõem de mão de obra
barata. Podem trabalhar em qualquer lugar sem os mínimos
requisitos de ordem ecológica e de segurança
e em unidades de tipo familiar. Não têm as
exigências sociais da Europa e usam muito trabalho
infantil. Por esta razão, conseguem praticar preços
baixos. Aliás
o mesmo acontece nos países de Leste.
Ora tais dados influenciarão as cláusulas
de qualquer acordo.
Este é mais um problema com que a Covilhã
se vai defrontar. Antecipar a sua importãncia é
contribuir para que soluções se possam começar
a equacionar.
E não se pode perder tempo.
Pois, como escreveu Mallarmé, dois meses depois
de um problema apresentado e não resolvido, deixa
de ser problema.
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