Francisco Paiva

COVILHÃ + COIMBRA = FERROVIA



Foi já exposto com clarividência, embora com pouca insistência, o problema da ligação transmontanhosa entre estas duas cidades universitárias, tanto nos textos de Santos Pereira e de A. Fidalgo (NC), como por Daniel dos Santos (JF), cujas referências às marcas dos topógrafos da CP nas fragas do Alto Ceira quando, no início do sec.XX, previam continuar a Linha da Lousã até à da Beira Baixa, não olvidamos.
Sendo consabido e até reconhecido pela CCRC (!) que carecemos de um link físico para o litoral, recorro a uma fórmula discursiva heteróclita, para defender a ligação ferroviária a Coimbra, em alternativa à Auto-Estrada.

1. Para servir as populações que resistem ao magnetismo das grandes cidades e respectivas conurbações, retomem-se as ligações ferroviárias e limite-se a expansão da estrutura viária asfaltada.
2. Há que religar as cidades médias, entre si e com os seus interstícios, para maior coesão das regiões.
3. Os meios de transporte colectivos são mais seguros para viagens de médio/longo curso.
4. A ferrovia é apropriada para regiões com condições climáticas difíceis, contribuindo decerto para o decréscimo de sinistralidade, sendo também menos dispendiosa, porquanto o seu perfil é cerca de 1/3 do da auto-estrada.
5. Os transportes colectivos permitem reduzir a área de parqueamento urbano.
6. A Lusitânia não tem política de transportes. Característica bárbara decorrente da ignorância de que os invasores actuais cuidam mais da conquista das almas do que do território!
7. A rede ferroviária europeia oitocentista mudou muito, ao contrário da portugesa, transformou-se para satisfazer as exigências dos passageiros (asseio, pontualidade e conforto) e para permitir maior eficácia nos fluxos de mercadorias (TIR forever).
8. Nós, depois da saudosa epopeia, preferimos comprar as invenzzione, brincar com os brinquedos de outros, não raras vezes em segunda mão, e somos pateticamente felizes discutindo a Alta Velocidade.
9. Firme-se um protocolo entre os municípios potencialmente servidos por essa rota (Covilhã, Arganil, Góis, Lousã, Miranda do Corvo, Coimbra, Montemor e Figueira) e faça-se railway.
10. Com a ferrovia, a Odalisca do Mondego ver-se-ia aliviada dos bólides que percorrem as suas putrefactas artérias, sobretudo a Sofia, e poderia fazer uma daquelas obras de estado- Transfert para a Linha do Norte.
11. O comboio dispensa os agentes da BT.
12. O comboio é bonito, civilizado e ecológico, uma aposta alternativa ao consumismo e às regras de obsolescência do automóvel - o bem simbólico mais querido.
13. Podemos ler no comboio, em vez de brincar às corridas, trabalhar (nalguns países dispomos de terminais web), desenhar, dormir, sonhar, olhar a paisagem que passou e aquela que há-de vir...
14. O comboio não paga IA, reduzindo o dinheiro de que o Governo dispõe para continuar a estragar o meu País (-:

PS (para sempre): talvez com um nó ferroviário na Cova da Beira a Covilhã, Fundão, Guarda e Castelo Branco se reconciliassem, e deixassem de crescer atabalhoadamente.