Por Ana Filipa Silva


José Geraldes ( à direita ), associado do Centro, oferece um saco de bonecas ao seu amigo José Amarelo, na presença de Agda Quintela

Entre o dia 5 e 8 de Dezembro, o Centro Alcoólicos Recuperados (CAR) da Cova da Beira realiza a recolha de roupas para distribuir pelas famílias carenciadas da região. Esta iniciativa realiza-se na época de Natal, porque é nesta data que mais se faz sentir o espírito de solidariedade, mas como diz José Manuel Amarelo Correia, fundador do Centro e alcoólico recuperado há mais de dois anos, "O Natal é todos os dias" e, por isso, a sede está sempre aberta a ofertas.
José Amarelo realça que roupa não são apenas camisolas, saias, calças e outras peças de vestuário, mas também engloba cobertores e lençóis, o que está em falta nesta remessa de ofertas. "Há pessoas que dormem quase vestidas, porque não têm cobertores" diz-nos. Este fundador tem visitado muitos lares, e apercebe-se das péssimas condições em que as pessoas vivem. No entanto, realça que mesmo passando por necessidades, o covilhanense tem dificuldade em pedir pois "é orgulhoso", afirma.
Assim, apenas duas pessoas ficaram encarregues de distribuir a roupa pelas famílias que precisam. Agda Quintela, secretária do C.A.R. e também ela uma alcoólica recuperada, entrega as roupas às mulheres, e José Amarelo toma conta da secção dos homens. Para além de muitos brinquedos, também têm roupa para as crianças.
Em três dias, já conseguiram juntar mais de 150 prendas para os mais pequenos, para serem dadas na festa de Natal. Quanto à roupa, só é entregue na presença daqueles que precisam, pois já houve uma senhora que se dirigiu ao Centro como "mãe de quase 50 filhos". "Na distribuição de roupa não permitimos abusos" garante o fundador. Inicialmente esta acção estava pensada apenas para as famílias dos alcoólicos recuperados, só que a oferta superou todas as expectativas e, deste modo, estendeu-se a todas as famílias da Cova da Beira que passem por problemas financeiros e se apresentem na sede.
Também foram oferecidos cabazes de Natal, e uma prenda com garrafas, mas de azeite e óleo, porque o álcool não é permitido.



O orgulho na bandeira amarela e verde. Amarela, porque o fundador tem amarelo no seu nome, e verde, porque é adepto do Sporting




Uma doença que é um problema social
 
José Geraldes, associado deste Centro, é amigo de José Amarelo, mas não se inscreveu como sócio apenas por amizade. A vontade de ajudar o próximo foi um grande incentivo. Este Natal não deixou passar a iniciativa dos Alcoólicos Recuperados sem participar com um saco cheio de brinquedos, entre eles as bonecas da sua filha que actualmente está casada e já não sente falta desses brinquedos.
É através destas e de outras contribuições que a associação progride na sua tarefa de ajudar os mais carenciados, mas José Amarelo não deixa de realçar que "isto é um trabalho que o Estado Português tinha a obrigação de fazer relativamente ao cidadão" e, por isso, considera que o discurso do director da Segurança Social, José Joaquim Antunes, não tem fundamento quando aponta o alcoolismo apenas como uma doença.
Carla Amaral, aluna do terceiro ano do curso de Sociologia, não hesita em afirmar "é óbvio que traz grandes problemas para uma sociedade" e, sobretudo, se for "considerada a esfera familiar". Mas se antes o mais normal era os homens serem afectados pelo alcoolismo, hoje em dia o número de mulheres alcoólicas está a subir em flecha.
As violações, as agressões domésticas, os divórcios, os acidentes de trabalho e de aviação são enumerados por José Amarelo no intuito de reforçar a ideia de que existe uma necessidade profunda de serem ajudados pela Segurança Social, porque para além do alcoolismo ser uma doença, também é um problema da nossa sociedade.