Projecto cultural reúne personalidades

"I Seminário de Estudos Vergilianos"

Gouveia, terra mãe de Vergílio Ferreira, propõe a imortalidade do escritor com o centro de estudos Vergílianos, para que as gerações vindouras possam conhecer o pensamento do ilustre beirão.


Por Liliana Correia e Sónia Torres

Decorreu nos passados dias 22 e 23 de Novembro, em Gouveia, o I Seminário de Estudos Vergílianos, organizado pela Câmara Municipal daquela localidade e pelo Departamento de Letras da Universidade da Beira Interior (UBI).
O seminário teve como principal objectivo a criação de um centro de estudos Vergílianos. O projecto cultural visa o estudo e divulgação da obra e vida de Vergílio Ferreira, autor de livros como "Aparição" e "Manhã Submersa".
Outro objectivo desta iniciativa é 'despertar o interesse pela leitura e pelo estudo crítico da obra, e actualizar a memória do escritor', sublinhaÂngela Prestes, professora do Departamento de Letras na UBI, que também organizou o evento.
O empenho levado a cabo pela autarquia local, no sentido de promover o seminário, 'foi realmente notável', esclarece Ângela Prestes, que realça ainda 'o esforço conjunto por parte do Departamento de Letras, nomeadamente da professora Maria Antonieta Garcia, e o apoio incontestável da UBI'.
Presenças como Malaca Casteleiro, António Fidalgo, Alípio de Melo e Luís Mourão, que compartilharam conhecimentos acerca do escritor existencialista, marcaram presença no certame.
Para além dos oradores previstos estiveram também presentes realizadores, cineastas e músicos que contribuiram para o decorrer de um seminário mais completo.
"A Mãe Genoveva" e "Vergílio Ferreira numa manhã submersa" foram os filmes projectados por Lauro António durante a noite de quinta feira, 22, tal como a apresentação do documentário sobre a vida do escritor, da cineasta Cecília Netto e do realizador Alípio de Freitas.
Ao som de Schubert, Liszt e Chopin o público viajou aquando o toque das mãos de Jorge Moyano, grande pianista que presenteou o público com um grande espectáculo. Se para Vergilio Ferreira 'a música foi-me então uma invenção de beleza...' também o foi para o público, que permitiu que a música penetrasse na alma e no espírito.
A grande afluência e satisfação geral pelo evento deixou a certeza de um
próximo seminário a realizar-se em Setembro.




Perfil de Vergílio Ferreira

 
Vergílio António Ferreira nasceu em Melo, Gouveia, a 28 de Janeiro de 1916.
Conhecido como "um escritor que se tem ocupado muito do "eu"", assim diz Vergílio Ferreira em "Um Escritor Apresenta-se", este existencialista foi desde muito novo assaltado por dúvidas, inquietações e interrogações que lhe marcaram profundamente a sua escrita e a sua personalidade.
A emigração dos pais para a América do Norte quando tinha apenas dois anos de idade "obrigou" o escritor a ser educado por uma tia e pela avó materna dentro do catolicismo. Deste modo, ingressa no seminário do Fundão aos 10 anos, idade em que se vê mergulhado numa grande rigidez interna, na solidão e na hipocrisia, que retrata com exactidão no romance "Manhã Submersa".
Depois de abandonar o seminário aos 16 anos de idade, completa o 5º ano no Liceu da Guarda. Forma-se no ano de 1940 em Filologia Clássica na Universidade de Coimbra, e dois anos mais tarde, Vergílio Ferreira é colocado como professor no Liceu de Faro, exercendo ainda a profissão nos liceus de Bragança (1944), Évora (1945), e no Liceu Camões, em Lisboa, no qual ingressa em 1959 e onde termina a sua carreira como professor.
A sua bibliografia, iniciada em 1943 com "O Caminho Fica Longe" é extensa e tem sido objecto de grande interesse, não só por estudiosos, como também por cineastas.
Da sua vasta obra, destaca-se "Manhã Submersa" (1954), romance adaptado ao cinema por Lauro António; "Aparição" (1959), destacado pela Sociedade Portuguesa de Escritores com o prémio Camilo Castelo Branco; "Cântico Final" (1960), que serviu de argumento para um filme realizado por Manuel Guimarães; "Alegria Breve" (1965), ganhou o prémio da Casa da Imprensa; "Em Nome da Terra" e "Na Tua Face".