No Orfeão
da Covilhã
José Geraldes fala de
jornalismo e sociedade
A honestidade e
a procura da objectividade constituem a identidade dos
jornalistas. "Os meios de comunicação
social devem ajudar as pessoas a serem mais felizes",
diz o Professor, Jornalista e Pe. José Geraldes.
|
Por Marco António
Antunes
|
|
|
"O jornalismo é hoje um poder de influência,
mais do que um quarto poder"
|
"O jornalismo e a
sociedade" foi o tema da conferência de José
Geraldes no auditório do Orfeão da Covilhã,
no passado dia 20 de Novembro, Quarta-feira, pelas 22 horas.
As origens do jornalismo, a necessidade do jornalismo, os
acontecimentos e as notícias, os efeitos das notícias,
o poder do jornalismo, foram os principais temas abordados
por José Geraldes num estilo de divulgação.
"Os homens usaram os meios de comunicação
ao longo da História. O progresso tecnológico
conduziu a novas formas narrativas. As notícias são
uma mercadoria da indústria jornalística.
As agências noticiosas aumentaram a informação.
A difusão em massa amplia os efeitos das notícias.
Os media jornalísticos são indispensáveis
à sociedade. A rádio, a televisão e
a internet complementam os jornais. A 'aldeia global' é
hoje uma realidade". Foram estas as conclusões
de José Geraldes.
O auditório debateu com o orador várias questões:
objectividade, rigor e honestidade dos jornalistas; concentração
económica dos media; influência do jornalismo
na opinião pública; jornalismo, propaganda
e publicidade; informação e opinião;
jornalismo e literatura.
José Geraldes afirma que "os meios de comunicação
social devem ajudar as pessoas a serem mais felizes".
A objectividade deve ser um caminho a percorrer. Mas "a
objectividade absoluta é impossível",
assegura. Para o professor da UBI, "o jornalista deve
ser honesto no relato dos factos e recusar servir a propaganda
ou a publicidade do Poder".
"O jornalista é um mediador na sociedade: não
se limita a ser um espelho frio da realidade", explica
José Geraldes. A sociedade precisa do jornalismo,
porque o jornalismo participa e faz participar cada indivíduo
e o público em geral na comunicação
política, económica, social, religiosa etc.
"O jornalista é um advogado ao serviço
das causas nobres da sociedade", salienta.
"Só a ética
e a deontologia legitimam o poder dos jornalistas"
|
Vários autores estudaram
os valores das notícias. Para transformar
um acontecimento em noticia é necessário:
oportunidade, diferença, proximidade, consequências,
humanidade, conflito, notoriedade e utilidade, segundo
Javier Munõz. A teoria do newmaking analisa
o processo produtivo da notícia em função
das rotinas e da cultura profissional do jornalista.
Galtung e Ruge assinalam factores de noticiabilidade
gerais e culturais.
|
Existem diferentes teorias sobre os efeitos da notícia.
No âmbito dos efeitos limitados, José Geraldes
salienta o paradigma de Lasswell (quem diz o quê,
em que canal, a quem e com que efeito). Nos efeitos a prazo
destaca: a teoria do agenda-setting (o poder dos media protagonizarem
a agenda da sociedade); a tematização (os
media fornecem temas para os jornalistas serem protagonistas
e mediadores) sobretudo com a teoria sistémica de
Luhmann; a espiral do silêncio de Noelle-Neumann (os
grupos minoritários têm medo de afirmarem uma
opinião pública nos media).
"O jornalismo é hoje um poder de influência,
mais do que um quarto poder", sublinha José
Geraldes. Os media vigiam os abusos das estruturas de Poder.
O orador afirma que "só a ética e a deontologia
legitimam o Poder dos jornalistas".
José Geraldes garante: "Actualmente discutem-se
os usos e as gratificações que as pessoas
obtêm com os media". Trata-se da teoria dos usos
e gratificações tematizada, entre outros,
por Elihu Katz.
Mais de 20 pessoas assistiram à conferência
de José Geraldes. No início houve um espaço
musical com a interpretação de um estudo de
Heller, Wave de João Carlos Jobim e Maria Faia (popular)
pelo Professor João Lourenço. No final, Afonso
Mesquita representante da direcção do Orfeão
da Covilhã entregou duas ofertas a José Geraldes.
|
|
Os jornais
já existem desde a Antiguidade. Mas só
aproximadamente a partir de 1850, devido às
transformações na impressão e
nas formas narrativas, se pode falar em jornalismo.
No passado, os jornais seguiam critérios linguísticos
e literários. O jornalismo contemporâneo
adopta a novidade, a importância e o interesse
como critérios daquilo que é notícia
(noticiabilidade). A guerra civil americana consagrou
a pirâmide invertida como técnica de
rotina (a notícia vai do principal para o secundário
por ordem decrescente de importância).
Os Acta Diurna foram dos primeiros manuscritos com
informação sobre jogos, casamentos e
compras no Império Romano. No século
XIII, na Itália e na Alemanha existiam as folhas
de aviso vendidas ao preço de 1 gazeta. Gutenberg,
em 1456, imprimiu em caracteres tipo resistentes a
Bíblia. Mas há notícia de livros
impressos na China no séc. VIII A. C. No século
XVII surge a Gazette dirigida por Renaudot, o primeiro
periódico regular, com oito páginas,
semanário e 1200 exemplares de tiragem.
A imprensa de massa surge a partir do séc.
XIX. Em França, o La Press de Émile
de Girardin destaca-se como um jornal popular (acessível
ao leitor médio), de baixo custo, elevadas
tiragens, com mais anúncios e informativo.
Na Inglaterra surge o The Times. Nos Estados Unidos,
Hearst e Pulitzer disputam a liderança na indústria
jornalística. Os jornais de massa beneficiaram
do aumento do nível de vida, da educação,
da invenção do caminho-de-ferro, do
telégrafo e da rotativa. O jornalismo passou
da mera ideologia para a informação
factual. Desde 1950-1960 afirma-se como jornalismo
de explicação.
|
|
|
José
de Almeida Geraldes, 63 anos, natural de Casegas e
morador na Covilhã é um homem da Igreja
Católica e do jornalismo. No âmbito religioso
é padre, cónego, arcipreste da Covilhã
e director do Centro Cultural e Social da Covilhã.
No jornalismo, tem um currículo com experiência
académica e profissional. No Centro de Formação
e Aperfeiçoamento de Jornalistas de Paris,
fez o curso de Jornalismo e foi Assistente Convidado
do curso de jornalistas portugueses da imprensa de
expansão nacional. Frequentou na Universidade
de Paris-Sorbone um curso de Língua e Literatura
Francesa. Na Universidade de Paris II, licenciou-se
em Ciências da Comunicação e possui
dois Diplomas de Estudos Aprofundados (DEA) em Ciências
da Comunicação e Ciências Políticas.
Ainda em Paris, dirigiu o Presença Portuguesa,
jornal português junto da comunidade emigrante
em França, entre 1979 e 1989. E foi correspondente
do Jornal de Notícias entre 1983 e 1987. Na
Universidade de Lovaina, fez formação
permanente e extracurricular com um curso de Jornalismo
e Comunicação. Tem carteira profissional
de jornalista desde 1988. É director do semanário
Notícias da Covilhã, onde também
chefiou a redacção entre 1972 e 1978.
Na Covilhã, foi o primeiro coordenador do curso
de Comunicação Social da Universidade
da Beira Interior em 1989. Actualmente é Assistente
Convidado na área de Jornalismo do curso de
Ciências da Comunicação da UBI.
"José Geraldes continua a desempenhar
funções de serviço à comunidade
sem remuneração", afirma José
Pinheiro da Fonseca conhecido advogado na Covilhã. |
|
|
|