António Alçada Batista:
"o homem de acção, o político
e o escritor"
|
75º
Aniversário do Orfeão da Covilhã
"A importância
da cultura na sociedade"
Na sociedade actual,
a cultura poderá ser a salvação
da alma, evitando o apaguamento da nossa identidade.
Foi com esta ideia que Alçada Batista levou à
reflexão e ao diálogo, apelando à
cultura dos afectos.
|
Por Liliana
Correia
|
|
|
"A importância
da cultura na sociedade" foi o tema escolhido pelo
escritor António Alçada Batista a propósito
das comemorações dos 75 anos do Orfeão
da Covilhã. A palestra teve lugar na passada quinta-feira,
22, no Salão Nobre da Câmara Municipal da Covilhã,
que foi pequeno para acolher as pessoas que até lá
se deslocaram para ouvirem o ilustre covilhanense.
Antes das esperadas palavras do reconhecido escritor, o
auditório foi presenteado com um momento musical
onde a voz, o violino, a viola d'arco e a guitarra se fundiram,
criando uma harmonia relaxante.
Foram muitos os aplausos quando António Alçada
Batista, "figura de cultura nacional, grande escritor
e personalidade que todos gostam de ouvir", nas palavras
de Carlos Pinto, presidente da Câmara Municipal da
Covilhã, se levantou para iniciar o seu discurso
com o objectivo de alertar as pessoas para a emergência
da cultura na sociedade.
Ao longo da sua apresentação, em tom de conversa,
remetendo-nos para factos e situações por
ele vividas, Alçada Batista debruçou-se sobre
duas formas de cultura: uma cultura tribal e uma cultura
erudita.
A primeira, constituída pelas nossas raízes,
introduz-nos na humanidade, ao passo que a segunda nos constrói
a personalidade, sendo aqui fundamentais os nossos comportamentos.
O escritor
salientou a necessidade de uma relação
entre ambas para que a humanidade possa progredir,
já que não podemos viver somente com
as normas que nos transmitiram, mas questioná-las
e construir algo de novo através dos nossos
feitos.
É com base nesta afirmação,
que o escritor chama a atenção para
a necessidade dos afectos numa sociedade em constante
desenvolvimento. A sociedade de massas que nos rodeia,
leva o Homem a perder a sua identidade.
|
Carlos Pinto, presidente da Câmara Municipal
da Covilhã, homenageando
o ilustre covilhanense
|
Os afectos podem salvar o homem na medida em que o torna
mais sensível para aquilo que o envolve, nomeadamente
na sua relação com os outros. Numa época
em constante ritmo apressado, o Homem vai caminhando para
a sua destruição. "Há que repensar
o ócio", sublinha Alçada Batista, que
defende que "o importante é que as pessoas criem
hábitos de cultura, e saibam que é preciso
ler e conversar".
Ao longo do certame, salientou-se o trabalho que o Orfeão
covilhanense tem desenvolvido já que "põe
a público vários concertos, várias
palestras com pessoas de muita qualidade", afirma Dulce
Gomes, representante do Orfeão, acrescentando que
este "continuará a manifestar uma boa actuação
em prol da cultura".
|
Perfil
António Alçada Baptista
|
António
Alçada Batista, definido por José
Pinheiro da Fonseca, apresentador da palestra, como
"homem de acção, o político
e o escritor" nasceu na Covilhã, e conta
já com um vasto currículo ligado às
manifestações culturais e atitude
activa perante a sociedade.
Como homem de acção,
Alçada Batista fundou e dirigiu a revista
"Tempo e Moda", foi
director da livraria Morais Editora e do jornal
"O Dia", no qual foi igualmente jornalista,
colaborando ainda com o jornal "A Capital".
Como escritor destacam-se
os livros "O Tempo das Palavras" e "A
Peregrinação Interior", este
último dotado de uma originalidade fascinante,
uma prosa ímpar com traços moralistas
e sublime ironia.
Como político,
é de realçar a sua constante luta
para um espírito democrático, sendo
o seu maior feito a oposição ao governo
do Estado Novo. É ainda digno de nota o seu
contributo para melhores relações
entre Portugal e os outros países de língua
portuguesa, em especial o Brasil.
|
|
|
|