Entrevista ao Candidato à Câmara da Covilhã Guerra Tavares
"É preciso coragem para apostar e rentabilizar o Turismo dentro do concelho da
Covilhã"


A candidatura do CDS-PP na pessoa do Arquitecto Guerra Tavares pretende nestas eleições a entrada para o executivo municipal tentado que certas vertentes como a acção social tenham um maior relevo. Mas a sua principal ideia roda à volta do turismo no concelho da Covilhã, que precisa de ser rentabilizado para que não sejam apenas aproveitadas as potencialidades da Serra da Estrela durante o inverno. Nesta entrevista também demonstra que é preciso um maior rigor no estudo e execução das obras por parte do Município.

Por Francisco Carvalho


Rentabilizar a "capacidade das pessoas no munícipio, levando-as num bom ambiente de trabalho a uma maior produção" é uma das propostas de Guerra Tavares para o município covilhanense

Urbi@Orbi- Quais foram os motivos para esta candidatura à Câmara Municipal da Covilhã?

Guerra Tavares- Os motivos desta candidatura à Câmara são simples, há várias forças políticas na Covilhã, o CDS-PP é uma delas e quando se deu ínicio a este processo eleitoral fui várias vezes convidado pelo Partido Popuar para encabeçar a lista. Neste momento entendi que havia particulares razões para eu aceitar,uma vez que a Câmara nestes últimos anos tem sido essencialmente gerida quer pelo PS, quer pelo PSD, com resultados diferentes, num caso notando-se mais obra feita que no outro, mas apesar de se notar mais obra era necessário uma presença que de alguma forma procura-se mais rigor no desenvolvimento de estudos, no aprofundamento das propostas e como elas são finalmente executadas, porque hoje temos a percepção de que há muitas obras, mas na práctica e vendo os últimos quatro anos assistimos com muita frequência a obras que se iniciaram e pareciam concluídas mas que eram continuamente reabertas e reconcluídas e assim sucessivamente o que revela uma precipitação de se executar a todo o custo, sem se ter em conta quer o cuidado e a qualidade das próprias obras, quer muitas vezes uma coerência na dinâmica do processo porque depois em paralelo noutras áreas onde o planeamento estava concluído, em que havia definição para o ocupamento de certas zonas o desenvolvimento tem sido bloqueado.
Portanto, neste caso específico das obras entendemos que a nossa presença poderá ser vantajosa porque iremos pressionar para que haja um maior rigor e cuidado na execução. Por outro lado, uma das nossas preocupações é a área de acção social, seja ela junto das camadas mais jovens, ao nível da pré- primária, onde a cobertura no concelho da Covilhã é extremamente reduzida, quer a nível do apoio dos cidadãos deficientes, em que este ano vimos abrir uma delegação de apoio na Covilhã, mas assistimos nestes últimos quatro anos a um apoio reduzidissímo da Câmara a uma instituição que tem desenvolvido um actividade em prol dos deficientes que é o A.C.M (Associação Cristã da Mocidade) e isto é uma questão que me toca especialmente.
Eu tenho um filho deficiente e sei os problemas que se levantam nesta área. Estaríamos à espera de um maior apoio a estas pessoas e na prática ele é reduzido e quase mendigado. Portanto, também nesta área entendemos que há um trabalho a desenvolver. Ainda a este nível, fomos confrontados no último mandato com uma boa ideia, que foi o lançamento do Cartão do Idoso, mas entendemos que o apoio às pessoas idosas não se esgota ao nível do programa deste cartão. Há que criar condições de circulação às pessoas, de acessibilidade aos edifícios, de facilidades de acesso a certos serviços que normalmente as pessoas idosas não têm. E, portanto, entendemos que este campo tem de ser mais aprofundado, ir muito mais longe do que um programa de redução dos custos de algumas infra- estruturas como é o caso do abastecimento da água, ou poder-se proporcionar uma maior cobertura às necessidades do dia à dia.
Outra das àreas que me levaram a esta candidatura foi o apoio à juventude, ainda no plano escolar que é do foro do Município onde continuamos a assistir a escolas com um mau estado de conservação, material antiquado e ambiente despido, bem diferente do que os meios de comunicação mostram como espaços de estudo e trabalho. Simultaneamente não há apoio psico-motor às crianças e há que dar uma grande volta nesta área, considerando o encerramento de algumas escolas, procurando locais indicados para a localização de equipamentos desta natureza rentabilizando ao máximos estas estruturas servidas necessáriamente por uma boa rede de transportes escolares. Porque é bom que nós nos preocupemos com as pessoas idosas mas esquecemo-nos que de algum modo o futuro dos mais idosos passa por aquilo que se construiu, criou e estabeleceu na fase de formação quando uma pessoa é mais jovem. É muito importante que a Câmara esteja atenta neste aspecto.
Outra das questões essenciais e que já falámos anteriormente é a gestão do Munícipio especialmente no campo das obras, e analisando os relatório de contas dos últimos anos, chegamos à conclusão que a Câmara propôs sempre mais do que conseguiu realizar, tendo o que se diz numa linguagem corrente "mais olhos que barriga", querendo e ambicionado muito mas que não nos pode levar a perder o sentido da realidade. Estarmos a propor anualmente um montante de obras entre os 13/14 milhões de contos e só realizar um terço, há alguma coisa que não está correcta. E entendemos que se deve realizar um grande esforço nesta área, pensando também que a gestão não é exclusivamente o controle financeiro, mas também a rentabilização da capacidade das pessoas no munícipio, levando-as num bom ambiente de trabalho a uma maior produção.


"Tem de haver uma mudança de mentalidades para se criar no concelho um campo de investimento próprio de riqueza que é fundamental para a nossa região"

Outra das áreas é a cultural, que não se esgota com a UBI, um património especial para o nosso concelho, mas tem de haver uma actividade maior nas áreas plástica e sonora, numa cidade que até tem uma apetência especial para a música. Vemos que há uma série de instituições de fomentação de cultura que tem de ser especialmente apoiadas abrindo também a perspectiva de mecenato com a constituição de uma fundação que se encarrege destes interesses culturais.

No domínio do teatro, tem havido pessoas que tem tentado desenvolver um excelente trabalho mas que não tem sido compreendidas e atendidas. Outra das questões é o melhoramento da nossa rede de transportes públicos que leve a que os cidadãos da Covilhã utilizem cada vez menos o transporte particular, dando resposta à necessidade das pessoas. Finalmente, um dos aspectos que me tem preocupado e que de alguma forma é uma batalha minha desde sempre, é termos a percepção que temos uma excelente qualidade ambiental, e com alguns motivos de atracção de certo peso não me referindo apenas à Serra da Estrela que não são aproveitados. Assistimos então a uma invasão de turistas à procura de neve num certo período mas que noutras alturas é diminuto e temos que demonstrar às pessoas que a Covilhã não é só a serra. Há já um organismo que está vocacionado para o turismo, mas numa zona com estas potencialidades julgo ser fundamental que a Câmara tenha uma política para o turismo que permita que seja de qualidade. Tem de haver uma mudança de mentalidades para se criar no concelho um campo de investimento próprio de riqueza que é fundamental para a nossa região.

U@O- Mas quais são as ideias e projectos inovadores que traz em relação aos outros candidatos para o desenvolvimento da Covilhã?

GT- Repare que o simples facto de haver uma aposta séria no Turismo é talvez das ideias mais novas. Porque o que é que nós temos de tecido produtivo na cidade: temos a indústria tradicional que tem grandes dificuldades, e olhando para o nosso parque industrial aquilo que nós assistimos é a criação de armazéns ou a relocalização da própria indústria tradicional, não me parecendo que haja uma resposta às necessidades da Covilhã. Por isso, se não é na variedade da indústria que nós conseguimos motivar as pessoas para a criação de riqueza, temos de encarar seriamente o apoio à indústria turística capitalizando a riqueza do concelho em si. Eu julgo que esta é a aposta mais forte para a renovação da vida na Covilhã, constituindo um suporte que só temos na UBI que reforçou a aposta no comércio e nos serviços, criando uma "massa cinzenta" devidamente aproveitada , mas é necessário dar um salto que renove e crie indústrias e que permita à Covilhã manter a sua independência e criadora de riqueza e essa potencialidade está no turismo. É um bem que está à vista e disposição de toda à gente mas ainda não apareceu ninguém com coragem de o rentabilizar correctamente.

U@O- Como é que pensa que tem sido a relação entre a Câmara Municipal da Covilhã e a UBI neste último mandato?

GT- Eu acho que este relacionamento tem passado por várias fases. Extravasando este mandato houve momentos que senti algum distanciamento. Neste mandato assistiu-se a algum esforço de aproximação, pelo menos ao nível de declarações de vontade que levaram à assinatura de protocolos que seria a concretizarem-se extremamente vantajosos para a Covilhã. Mas só que neste momento não passam de protocolos e de declarações de boa vontade e o que seria fundamental é que houvesse uma estreita colaboração entre Câmara e a Universidade para a concretização destas ideias. Normalmente nestas coisas há sempre um risco de uma das partes querer brilhar, e nestas coisas, eu entendo que mais do que haver um maior ou menor brilho de este ou aquele deveria era haver um maior empenhamento e portanto eu espero que seja possível neste próximo mandato.

Eu estou particularmente à vontade para falar sobre isto porque no tempo em que passei a dar aulas na UBI, não estando preocupado com protocolos mas aproveitando o próprio interesse pedagógico desenvolvi trabalhos de cooperação que eram de interesse quer ao Municipio quer para os alunos. Foram feitos estudos de acessibilidade á Covilhã, um estudo sobre a Praça do Município, trabalhos sobre as zonas históricas,etc que deram sempre novas perspectivas de trabalho à Câmara para a execução das obras, tendo mesmo vários projectos levado à avante e estando concluídos. Pode ser extremamente frutuosa a cooperação entre as duas instituições desde que haja vontade e se leve até às últimas consequências esta cooperação.


"Tive sempre uma boa ligação com o meio universitário"

U@O- Se acontecesse a sua eleição, como é que seria a sua relação com a UBI tendo em conta o seu trabalho anterior na instituição?

GT- Eu julgo que seria perfeita porque para além de já ter estado ligado por via do ensino, tive sempre uma boa ligação com o meio universitário, e sei que se deve fomentar estudos e projectos aproveitando a capacidade de tanto alunos e professores, que só beneficaria o Município. Há um campo muito largo e que tem de ser aproveitado na área dos estudos levando a que tanto a Câmara da Covilhã como a UBI saiam beneficiados.

U@O- Qual é a sua opinião sobre o trabalho de Carlos Pinto nestes últimos anos à frente da Covilhã?

GT- Em relação aos últimos quatro anos assistimos ao aparecimento de obras, que de alguma forma é motivador de alguma esperança e julgo que haver iniciativa e dinamismo é extremamente importante. Mas como já disse anteriormente julgo que é importante aprofundar os estudos e preparar o trabalho de uma melhor forma.

U@O- Como é pensa que tem sido a relação entre o Município e o Governo Central?

GT- Julgo que deveria haver uma maior reinvidicação por parte do Município, não havendo capacidade de sensibilizar o Governo para a importância das necessidades e realizações que a Covilhã carece. Pode ter a haver com uma questão de estilo, de linguagem, mas tirando a questão do projecto Pólis, practicamente não temos tido apoio do Governo, revelando falta de iniciativa para mudar este pouco apoio. E, se calhar, se um dos membros do Governo não fosse originário da Covilhã, duvido que tivessemos acedido ao programa Pólis. Ainda bem que isso aconteceu e poderemos beneficiar grandemente.

U@O- Para terminar, quais são as suas perspectivas para as eleições de 16 de Dezembro?

GT- Eu não gosto de fazer prognósticos, nem de entrar em matemáticas, porque a força política por qual eu concorro tem perdido força, mas se esta Câmara viesse a ter nove elementos eu estaria à vontade para me bater por uma entrada no executivo municipal. Mas ciente das dificuldades, tenho de me entregar e esforçar-me mais para convencer as pessoas e fazê-las compreender das minhas ideias.









Perfil José Guerra Tavares

 

 
José Guerra Tavares tem 52 Anos,é casado e tem quatro Filhos. Licenciou-se em Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e é Arquitecto Assessor Principal na Câmara Municipal da Covilhã. É Co-Coordenador do Projecto Merec na Covilhã e Membro da Ordem dos Arquitectos e da Associação Internacional de Arquitectos. Militante do CDS - PP de 1977 a 1994 foi diversas vezes Presidente da Comissão Poliítica e da Concelhia do CDS da Covilhã. Membro do Conselho Nacional do CDS de 1978 a 1981 foi Coordenador Local de Formação Política - IDL, de 1978 a 1981.Apresentou-se como candidato à Assembleia da República em 1980 e 1992. Foi membro Fundador da Federação dos Trabalhadores Democrata Cristãos. Foi Adjunto do Ministro das Obras Públicas no VI Governo Constitucional e convidado para Adjunto do Ministro dos Assuntos Sociais no VII Governo Constitucional (requisição recusada pela Câmara Municipal da Covilhã). Esteve como assistente Convidado da Universidade da Beira Interior de 1994 a 1998.