Urbi@Orbi: Quais
são os motivos que movem a sua candidatura à
presidência da Câmara Municipal da Covilhã?
João Carlos Lavrador: A minha candidatura
contém razões do coração e razões
da razão, propriamente dita.
Uma razão do coração é o facto
de me realizar profissionalmente nesta cidade desde há
um quarto de século para cá, e também
devido aos meus filhos que, apesar de não terem nascido
na Covilhã, são covilhanenses. Isso cria raízes
e dá-nos "carta" de cidadão covilhanense,
que é como me sinto.
Outra razão do coração é que
ao longo de muitos anos fui construindo um conjunto de grandes
amizades, pessoas por quem nutro grande simpatia, a quem
devia também uma satisfação, pois pediram
para me candidatar.
Um dos motivos da razão é o meu passado político.
Este permite-me apresentar perante o eleitorado, com credenciais
suficientes para que eles acreditem que eu possa trazer
algo novo à Covilhã, ao futuro dos covilhanenses
e ao Concelho da Covilhã.
Depois, porque quem está no Partido Socialista sabe
que aí há princípios éticos
que transcendem as conveniências pessoais e há
momentos que só uma palavra é possível,
a palavra Sim.
Estou, portanto, de alma e coração a assumir
a minha candidatura que não é apenas pessoal,
mas uma candidatura de um conjunto de pessoas que constituem
as várias listas, entre eles vários jovens.
U@O: No caso de ser eleito para a Câmara, quais
são os projectos que apresenta para o Concelho da
Covilhã e para a cidade?
J.C.L.: Desde logo, o urbanismo e o ordenamento do
território da cidade e do Concelho. Pensamos que
há excesso de ocupação, desordenada,
pouca diversificação em termos de espaços
de lazer e serviços alternados com espaços
habitacionais, arquitectura de gosto duvidoso e o não
planeamento da zona nova da cidade, que está em crescimento.
No entanto, com a ajuda do programa Polis, tentaremos a
requalificação, se formos eleitos, de zonas
suburbanas, nomeadamente do Refúgio, Santo António,
Boidobra e Cantar Galo, que carecem de uma intervenção
profunda de requalificação urbana.
Por outro lado, achamos que a actual variante à Covilhã,
a curto prazo, deixará de suportar o trânsito
de passagem, que será transladado para o novo IP2,
ainda em construção. Portanto, será
a grande oportunidade de, na zona de expansão da
cidade, termos o eixo estruturante em que se faça
um plano exigente e exemplar em termos de distribuição
urbana.
Sob o ponto de vista dos transportes, preocupa-nos a acessibilidade
dos mesmos. A cidade é difícil, uma cidade
de montanha, com um núcleo antigo apertado e, por
isso, achamos que a construção do Silo-Auto
é um erro crasso. Isto porque contraria todas as
orientações que, a nível europeu, vão
sendo dadas a cidades, desta ou de outra dimensão,
com centros históricos. A Covilhã vai funcionar
exactamente ao contrário, pois vai atrair para o
centro da cidade o trânsito automóvel, quando
o que devemos privilegiar são pequenos factos periféricos
que funcionem como uma constelação à
volta da cidade. A circular envolvente à Covilhã
deve confluir, de modo radial, para o centro da cidade onde
o transporte público sairá privilegiado.
Outro ponto de intervenção social que julgamos
positivo e queremos continuar é o Cartão Municipal
do Idoso. Estamos a trabalhar no seu enriquecimento e, seguramente,
vamos propô-lo também como medida social de
compensação em termos de justiça social
das camadas mais desfavorecidas, neste caso a da terceira
idade.
Em relação à cultura, somos muito críticos
da situação actual. Tem sido feito muito pouco.
Não é utilizado o potencial endógeno
da cidade e do Concelho, das suas múltiplas associações
e grupos. Contaremos com os nossos próprios recursos
e tentaremos estabelecer uma relação de complementaridade
com os restantes Concelhos, nomeadamente Castelo Branco,
Guarda e Fundão.
Preocupa-nos a relação entre a Universidade
e a Câmara Municipal da Covilhã. Achamos que
a Universidade é hoje um meio inestimável.
Portanto, devem ser concluídas as sinergias próprias
de modo a complementarem-se na sua acção e
a interligarem-se em acções comuns sobre expansão,
planeamento e, inclusivamente, de conhecimento de quadros
que são necessários à Câmara
para a expansão da cidade e para a própria
expansão e funcionamento da UBI. Isso consegue-se,
na nossa opinião, constituindo um grupo misto que
funcione com reuniões periódicas e fixas.
Iremos propor a criação do Provedor Municipal
do Cidadão, facto que não existe sob o ponto
de vista institucional. Terá por função
mediar os conflitos entre a administração
autárquica e o cidadão.
Consideramos emblemática a obra que iremos propor
que é a construção de um centro de
estágio de altitude das Penhas da Saúde. Será
um centro de estágio único no País
que visa, não só o apoio a atletas portugueses,
em complementaridade com o complexo desportivo, mas também
com qualidade para acolher atletas dos vários pontos
da Europa que queiram cá vir estagiar em altitude.
Nas cidades de hoje, a criação de pólos
de atracção funciona como a grande causa-efeito.
Assim, outra das grandes obras inseridas no nosso projecto
é a criação de um parque temático,
atendendo ao carácter emblemático da Serra
da Estrela, baseado na água e em tudo o resto, isto
é, na etnografia, nas variedades botânicas,
zoológicas, na sua história, arqueologia,
nos costumes, nas potencialidades turísticas. Este
parque temático, que edificará na encosta
sul da Serra da Estrela e, portanto, ligado à Covilhã,
vai fazer uma interligação estreita com o
museu da UBI e deve constituir um elemento de atracção
que representa tudo o que a Serra tem de grande e de bom.
"...Há uma crítica de fundo. Essa,
não tanto a ver com obras, mas com princípios,
com valores"
U@O: Já apontou algumas críticas
ao mandato de Carlos Pinto. Quer fazer mais algum comentário
acerca disso?
J.C.L.: Tenho um conjunto de críticas a
fazer, mas que ninguém espere de mim uma atitude
de que tudo está mal, como foi apanágio
dos vereadores do PSD na Câmara anterior. Achamos
que, por exemplo, na questão das acessibilidades
à cidade, se tem feito uma obra com qualidade,
mas discordamos do arranjo que foi feito no jardim, porque
descaracterizou e varreu do mapa a memória histórica
daquela área da cidade.
Somos extremamente críticos em relação
ao Silo-Auto, mas há uma crítica de fundo.
Essa, não tanto a ver com obras, mas com princípios,
com valores.
De facto, vivemos num sistema, num regime democrático.
As instituições e aqueles que as dirigem
e representam têm de se comportar de um modo exemplarmente
democrático.
Assistimos há poucos dias a uma situação
que é de uma gravidade absoluta, é um ultraje
à prática democrática. Trata-se da
distribuição de uns panfletos por parte
da Câmara pelas diferentes freguesias, em que aparecem
um conjunto de verbas supostamente atribuídas e
obras fantasma. As populações, perante tal
informação, tendem a questionar o Presidente
da Junta sobre o que fez com as tais verbas, quando elas
não foram sequer atribuídas à Junta
de Freguesia. Actos desses só podem ser praticados
por quem não tem escrúpulos e não
se importa de ferir a dignidade das pessoas. Por consequência,
a honorabilidade pessoal dos Presidentes da Junta é
posta em causa e isso não permitiremos.
Fiquei também chocado quando me apercebi de que
há associações onde os auxílios
da Câmara em forma de cheque, são apresentados
em fotocópia, expostos nas associações,
dizendo que a Câmara Municipal contribuiu com importância
tal para essa associação. Isto é
inacreditável, para já não falar
na segregação e marginalização
de que foram vítimas as Freguesias Socialistas,
nomeadamente nos últimos tempos.
U@O: Está confiante na vitória?
J.C.L.: Quem concorre pelo Partido Socialista arrisca-se
sempre a ganhar, sobretudo com a população
de um Concelho que sabe distinguir as situações
e sabe que há percalços, coisas que correm
menos bem, mas no fim de contas é o Partido em
quem confiam esmagadoramente.
Há um pormenor extremamente importante que é
o facto de não nos envergonharmos do Partido a
que pertencemos. Pertencemos com grande orgulho ao PS,
apresentando-nos enquanto candidatos.
U@O: Em caso de derrota admite desistir de lutar
pela presidência da Câmara da Covilhã?
J.C.L.: Digamos que tenho um passado que fala por
mim no campo político e estarei de acordo com as
minhas convicções numa atitude de bem servir
a terra que me acolheu.
Estarei disponível em determinadas circunstâncias,
para aquilo que entender melhor para o meu Partido, para
o meu Concelho e para o meu país. Daqui a quatro
anos será o que Deus quiser, mas o sinal claro
é que apostamos na renovação do Partido,
temos grandes quadros que se irão afirmar nestes
quatro anos.
U@O: Tem alguma palavra a dizer ao eleitorado em
geral?
J.C.L.: Para o eleitorado, em geral, peço
que reflictam no sentido do seu voto e tenham em atenção,
não à publicidade enganosa, não à
poeira que anda no ar, mas que procurem reflectir em profundidade
sobre os valores e sobre as pessoas. Tentem perceber quem
é que lhes dá as garantias de, no futuro,
os ouvir, de os respeitar e de, ao ouvir e respeitar a
sua opinião, procurar agir em conformidade com
elas. Comigo na Câmara terão sempre um amigo,
sempre disponível para os ouvir.
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