TELEPATIA
Edmundo Cordeiro
PETER SLOTERDIJK, ENSAIO SOBRE A INTOXICAÇÃO
VOLUNTÁRIA, Um diálogo com Carlos Oliveira,
tradução de Cristina Peres, Edições
Fenda, Lisboa, 2001. Um excerto, páginas 131-132.
P.S.: "(
) Estamos ainda
no princípio da nossa compreensão das telepatias
escritas, ao mesmo tempo que as telepatias electrónicas
nos inundam já.
C.O.: E nós repelimos esta inundação
injuriando os novos média.
P.S.: Talvez fosse mais produtivo
deixarmo-nos engolir pela inundação e frui-la
sem a mínima vergonha: Vem, mostra-me, dá-me,
sigo-te
A televisão é o sétimo
céu
Mais, mais, venho-me! Bem, e depois?
Toda a gente sabe, ficamos ali plantados na nossa entrega,
entediamo-nos cada vez mais, fazemos "zapping",
uma meia-hora aqui, alguns minutos ali - o novo média
não está à altura. Por trás
disso está a informação de todas
as informações. O forno mediático
apagou-se, é disso que se trata. Se a televisão
é a nossa melhor amiga, é na medida em que,
afinal de contas, nos deixa frios. Sim, é verdade,
ela deixa-nos em paz quando queremos. Ela só tem
programas mas não tem mensagem, não tem
missão, não tem dever educativo, e é
qualquer coisa de incrivelmente libertador. É a
razão pela qual os novos média libertadores
devem finalmente tornar-se aparelhos, os aparelhos são
desinteressados, mas quanto ao redentores nunca se sabe
muito bem. No caso dos aparelhos, podemos supor que estão
mortos quando estão apagados porque nunca viveram.
(
) Qual é a diferença entre um televisor
ligado e um televisor desligado? Reflictam bem! Para mim,
não há diferença nenhuma, é
só um ritmo, tam-tam, som-pausa, ligado-desligado,
é o mundo tal como o conhecemos. Olhar, não
olhar, acontecimento, não-acontecimento, imagens,
não-imagens, percebes?"
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