Por Marco António Antunes


"A CDU tem um património de dedicação à causa pública unicamente para servir o povo e nunca para nos servirmos"

URBI @ ORBI - Quais as razões que o levam a candidatar-se à Câmara da Covilhã?
Luís Garra - A decisão da minha candidatura demorou algum tempo. Tratava-se de conciliar a minha actividade sindical com a possível presidência da Câmara da Covilhã. Concluí que se for eleito vou continuar a ser dirigente sindical: é só aliviar as tarefas executivas. Há quadros sindicais que podem garantir o trabalho sindical. Acredito que a tarefa autárquica e sindical são complementares, pois satisfazer as necessidades dos trabalhadores é servir as populações. Penso que posso introduzir uma nova dinâmica de poder e de fazer oposição: mais mobilização política e mais reivindicação para as populações. As autarquias da CDU têm provas dadas a nível nacional. Honestidade, rigor, competência e eficácia são a nossa identidade.

U@O - Quais os objectivos eleitorais da CDU para o concelho da Covilhã?
LG - Ganhar é ser eleito presidente da Câmara da Covilhã, ou aumentar a votação e o número de mandatos no concelho. Empatar é manter a votação e os mandatos já conquistados. Perder é diminuir a votação e ficarmos sem o vereador da CDU na Câmara.

"Estamos a ouvir opiniões da população. É partir daqui que construímos o nosso projecto"


U@O - Se for eleito presidente quais os seus projectos para a Covilhã e para o concelho?
LG - Não sabemos tudo. O poder baseia-se na participação das pessoas. Estamos a ouvir opiniões da população. É partir daqui que construímos o nosso projecto.
Queremos reivindicar mais apoio, junto do Governo, para a fixação de empresas no concelho da Covilhã. Tem de haver mais turismo. Procuraremos a satisfação das necessidades básicas das populações, por exemplo: combater a poluição no Zêzere e alargar o cartão do idoso a todos os reformados. Como é possível que a Câmara do PSD dê descontos no preço da água, e ao mesmo tempo aumente a água 60 por cento?
Desejamos uma melhor política cultural, sem tutelas e sem contrapartidas. Hoje as associações estão mais ricas em infra-estruturas, mas não melhorou a oferta cultural. A Câmara deve contratar animadores culturais para apoiarem as actividades das associações.
Temos um olhar atento ao urbanismo: é lamentável que o POLIS (Programa de apoio ao desenvolvimento das cidades) exclua a recuperação do centro histórico da Covilhã. Tem de acabar o clima de suspeição no urbanismo: José Carlos Lavrador, candidato do Partido Socialista, diz que há linhas obscuras no urbanismo da Covilhã; e Carlos Pinto diz que o senhor Lavrador esteja calado e não me obrigue a abrir o saco. Nós solicitámos a intervenção das entidades competentes para a averiguação dos factos.
É preciso rever o Plano Director Municipal. Trata-se de um documento sem rigor técnico, que atrofia as freguesias da Covilhã no eixo Teixoso-Covilhã-Tortosendo.
É nosso objectivo aprofundar a ligação com a Universidade da Beira Interior como factor de progresso económico, cultural, científico e tecnológico. A UBI deve continuar a recuperação do património arquitectónico da Covilhã. E não pode ser usada como palco para as lutas políticas.
A Covilhã precisa de um estudo de viabilidade económica para a resolução do problema dos transportes. É urgente constituir uma empresa municipal de transportes que sirva a população As pessoas queixam-se dos horários escassos e desajustados. Os transportes não são um negócio, mas sim um bem social. A Câmara da Covilhã tem de dar o exemplo: tem de existir um novo e melhor parque automóvel.
Apoiaremos a melhoria da rede de centros de dia e de infantários. O Partido Comunista Português sempre lutou por uma política social mais justa e solidária.




"A gestão do PSD foi uma gestão de fachada: o estrutural está por fazer"

U@O - Como avalia o mandato de Carlos Pinto e do Partido Social Democrata à frente da Câmara da Covilhã?
LG - Com uma grande preocupação. A gestão do PSD foi uma gestão de fachada: o estrutural está por fazer. Num quadro em que o Partido Socialista não fez nada, o pouco trabalho de Carlos Pinto parece muito.
O Partido Social Democrata deu atenção, sobretudo, às colectividades e ao cartão do idoso. Era urgente dar melhores infra-estruturas às colectividades. Por este motivo, o vereador da CDU apoiou as propostas de Carlos Pinto. É preciso repôr alguma verdade: o cartão do idoso é inédito no distrito de Castelo Branco, mas não foi uma ideia do PSD. Há mais de quatro anos atrás, já a então vereadora da CDU Isaura Reis propunha descontos no preço da água, nos transportes, e a construção da sede de reformados do concelho da Covilhã. Carlos Pinto apenas aproveitou a ideia da CDU e colocou-a em prática com o nome cartão do idoso. A CDU também tem provas dadas na luta por melhores pensões e reformas na Assembleia da República.
Aquilo que era estrutural ficou por fazer: o complexo desportivo, a estrada periférica à Covilhã, a variante Penedos Altos-São Domingos-Vila do Carvalho, o Centro de Artes, que com tudo aprovado, voltou para trás. A Câmara do PSD ainda não concretizou a ligação rodoviária dos extremos do concelho, por exemplo de São Jorge da Beira à Covilhã. É essencial apostar na ligação da Covilhã ao IP2 e ao IC6. A fixação da população passa por melhores vias de comunicação.


"Sou o único candidato, que respeita o resultado do eleitorado"

U@O - Qual a vantagem do voto na CDU?
LG - A CDU tem um património de dedicação à causa pública, unicamente para servir o povo, e nunca para nos servirmos. As pessoas sabem que não tenho horários, não olho a dificuldades. Da minha parte haverá sempre determinação e frontalidade. Neste confronto político, só há dois projectos: o projecto de direita, de Carlos Pinto, e o projecto de esquerda protagonizado por mim e pela CDU. O Partido Socialista provou que não sabe ser poder nem fazer oposição construtiva. Sou o único candidato, que respeita o resultado do eleitorado. Se o povo quiser fico na Câmara da Covilhã como presidente ou vereador. Ambos os candidatos, já afirmaram publicamente que se perderem não ficam na Câmara: Carlos Pinto vai para casa, e José Carlos Lavrador fica na Assembleia da República.


"As pessoas sabem que não tenho horários, não olho a dificuldades"

U@O - Carlos Pinto afirmou recentemente no Tortosendo (ver notícia URBI: Bairro do Cabeço com mais habitação e melhor desporto) que ultrapassou a meta de 400 fogos previstos em termos de habitação social. Quais as propostas da CDU em termos de incentivos à habitação?
LG - Até podia ter feito 600 casas. O problema é diferente. Despejam as pessoas em bairros de habitação social e criam-se autênticos guetos. Ora, as pessoas precisam é de acompanhamento por técnicos de saúde e de assistência social. Os critérios de selecção para as casas de habitação social são pouco rigorosos. É preciso mais transparência. Há muitas pessoas com graves carências que são excluídas. Sabemos que há pessoas que pagam 50 a 60 contos de renda mensal. É a isto que chamam habitação social?
Sou mais adepto da recuperação de imóveis degradados e de incentivos à auto-construção. No âmbito da habitação, é fundamental apoiar os jovens na compra de casa própria.


"Decidimos fazer a nossa discussão política. Como está tudo decidido, não vamos ganhar na secretaria o que perdemos no debate político"


U@O - Carlos Pinto afirmou que o "Concelho da Covilhã está à frente na rede de infantários do distrito de Castelo Branco" (ver notícia URBI: Novo Jardim de Infância no Tortosendo). Como comenta esta afirmação?
LG - Presunção e água benta cada um toma a que quer. É fácil fazer este tipo de afirmações quando não há ninguém do outro lado a contrapor. O concelho da Covilhã ainda está muito deficitário em termos de infantários. Muitas famílias têm de recorrer a familiares, porque não têm dinheiro para pagar a creche. Esta afirmação carece de sustentação. Não foram analisados todos os dados. Toma-se a parte pelo todo.

U@O - Houve alguma polémica em relação às obras do silo-auto na Praça do Município. Pensa que Carlos Pinto e o PSD agiram correctamente neste processo?
LG - O PSD agiu mal nas obras do silo-auto. A CDU é contra desde a primeira hora. Havia necessidade de renovar o Pelourinho. Contudo não há carência de estacionamento no centro da Covilhã. A escassos cem ou 200 metros existe o silo-auto do Sporting, o estacionamento no mercado municipal e no campo das festas.
O problema do Pelourinho é regularizar o trânsito e retirá-lo do centro da cidade. O projecto do silo-auto tinha problemas de ordem legal. Podíamos ter requerido uma providência cautelar. Mas decidimos fazer a nossa discussão política. Como está tudo decidido, não vamos ganhar na secretaria o que perdemos no debate político. Estas obras não são necessárias à Covilhã. Nunca mais os comerciantes vão recuperar o prejuízo que tiveram. Agora só pedimos que acabem depressa.

U@O - Como pretende resolver o problema do estacionamento e do trânsito na Covilhã?
LG - Temos de aceitar que todas as construções devem garantir o estacionamento. A política do PSD e do PS é construir betão, sem cuidar do estacionamento, dos espaços verdes, dos espaços culturais, dos equipamentos de saúde... Onde está a qualidade de vida? A Rua da Saudade, a zona do Modelo, o Bairro da Alâmpada, são exemplos desta má política. Tem de haver mais estacionamento no Campo das Festas, na Rua da Saudade e na Rua Mateus Fernandes.
Em relação ao trânsito, não há soluções milagrosas. É urgente fazer a estrada periférica à Covilhã. E evitar que as pessoas passem pelo centro. O trânsito é um problema para especialistas. Apresentem-se estudos e alternativas. Depois os políticos fazem as opções.

U@O - Qual a mensagem que gostaria de deixar aos eleitores do concelho da Covilhã?
LG - As pessoas sabem do meu empenho nas causas nobres. Na Câmara e no sindicalismo serei sempre o mesmo: combativo, determinado e tolerante.




 


Luís Garra candidato da CDU à Câmara Municipal da Covilhã




PERFIL Luís Garra
 
Nasceu em Manteigas a 26 de Janeiro de 1957. Está no sindicalismo desde os 18 anos (primeiro como delegado sindical). É dirigente sindical a tempo inteiro, desde os 22 anos, "paixão" que nunca mais abandonou. Ex-operário têxtil na empresa Gitextil, tem actualmente 44 anos. Concorre pela primeira vez à Câmara da Covilhã pela Coligação Democrática Unitária (que integra o Partido Comunista Português e o Partido Ecologista "Os verdes").
Luís Pereira Garra veio para a Covilhã com apenas nove anos, e cedo começou a trabalhar. Aos dez anos, trabalhava já numa alfaiataria. Aos 11, mudou-se para a empresa Sá Pessoa e Irmãos. Mais tarde, fez o curso de debuxo na Escola Técnica Campos Melo (Covilhã).
"Tenho sempre tempos livres para tudo. Aprecio muito um encontro e uma boa cavaqueira com os amigos", salienta. Gosta de teatro. Tem uma especial "devoção" pela música de intervenção de cariz social. Costuma também ouvir Trovante, Brigada Vitor Jara, Sérgio Godinho, "rock português" (do qual destaca os Xutos e Pontapés), e música clássica. É casado e pai de dois filhos.
No âmbito sindical, coordena a União de Sindicatos do Distrito de Castelo Branco, e os sindicatos têxteis da Beira Baixa (ambos afectos à Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses - CGTP).
A nível político, é membro da Assembleia Municipal da Covilhã, eleito pela CDU. Ocupa cargos de destaque no Partido Comunista Português: membro do Comité Central, da Direcção Regional de Castelo Branco e da Concelhia da Covilhã. Para Luís Garra, o PCP tem "um património rico e importante na melhoria das condições de vida dos trabalhadores". O dirigente comunista salienta: "O objectivo do PCP é acabar com a exploração do homem pelo homem e construir uma sociedade mais justa".
A educação também o preocupa. É presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Básica Integrada de S. Domingos.