Algures
num limbo em que balançam a soul, o
jazz, o funk, o hip-hop mais atmosférico
e o groove próprio de toda a música
negra, "Curvatia" aparece como um
ser estranhamente familiar. Numa época
que parece não ser a sua, o álbum
de estreia dos ingleses Spacek é, no
entanto, ele próprio, uma entidade
musical capaz de ultrapassar o tempo e colocar-se
num patamar reservado apenas a alguns. Aqueles
que inovam sem pretensiosismos e sem fórmulas
altamente limitadas.
É inegável que o trio liderado
por Steve Spacek (composto ainda por Edmund
Cavill e Morgan Zarate) tem nas figuras de
Marvin Gaye e Curtis Mayfield referências
incontornáveis, mas também é
indesmentivel que "Curvatia" é,
acima de tudo, um ponto de partida para uma
nova sensibilidade da música popular.
Não é por acaso que o líder
do grupo, em entrevista recente ao jornal
Público diz: "Marvin e Curtis
foram tão ou mais essenciais para a
música popular do que Steve Reich,
Sun Ra ou Stockhausen. Fizeram música
simples, mas absolutamente revolucionárias".
E é nesta vertente de ruptura e inovação
que se posicionam as estruturas sonoras dos
Spacek. A música respira, solta, embelezada
por uma voz quente e orquestrações
sem mácula por entre composições
eminentemente soul baptizadas com palavras
doces, sensuais e esperançadas. Ouça-se
"Getaway", "Smiles and Roses",
ou "How", por exemplo, e comprove-se
a excelência do projecto.
por
sérgio felizardo
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