O cartaz da International Conference on Network Culture
2001 anunciava a presença de seis oradores internacionais,
entre os quais Jonathan Crary, que não pôde
estar presente devido aos problemas que assolam a sua
pátria, os Estados Unidos da América.
A primeira a discursar foi a antropóloga Jacalyn
Harden, da Seattle University. O seu trabalho centrou-se
no que a tecnologia trouxe para as nossas vidas. O binómio
natural- artificial mereceu algumas palavras nesta nova
concepção do humano. As novas tecnologias
passam a imagem de libertadoras das nossas mentes, no
entanto são apenas escapes para a mentira, através
por exemplo da criação de novas personagens
para nós mesmos. A oradora apresentou-se muito
expressiva, utilizando um pouco de ironia e humor no seu
discurso. O seu texto era longo, mas nem isso fez com
que o público ficasse decepcionado.
Henri-Pierre Jeudy, escritor, dissertou acerca de como
viver o corpo em imagem e morrer em imagem. Falou da banalidade
partilhada em que vivemos, entre o exibicionismo e o voyeurismo.
Deu como exemplo a versão francesa do Big Brother
e as webcams, distinguindo-se estas últimas pelo
facto de aí não existir expulsão
real como no programa televisivo. Deixou a mensagem de
que o simbólico é uma arma da virtualização.
Se este fosse efectivo, não seria virtual.
Mark Poster, da University
of California- Irvine, foi o último orador
internacional a discursar
|
A terceira figura internacional
a discursar foi Ieda Tucherman. Esta professora
da Universidade do Rio de Janeiro colocou a questão
"Quais são as experiências necessárias
e as desejadas?". Para Claudia Giannetti a
problemática é outra. Nessa o Ciborg
ocupa um lugar de destaque. O seu texto foi exposto
acompanhado por alguns excertos ilustrativos de
um filme chamado 13º Andar em que podemos ver
o conflito entre os seres supostamente reais e os
pseudo-virtuais, suscitando a dúvida do que
afinal é realmente humano.
|
"O Ciberespaço é algo de conservador"
Mark Poster, da University of California- Irvine, encerrou
o leque dos oradores internacionais. De entre os oradores
portugueses destaca-se António Fernando Cascais,
da Universidade Nova de Lisboa, que apresentou uma palestra
baseada nas ideias de Foucault e que lhe deu o nome de
"O Insacrificável". É próprio
do Humano a não- sacrificabilidade, no sentido
de que a morte impedia a sua circulação,
ou a sua vida em rede. Na nossa época, o corpo
é pura informação manipulável
e, por isso, o genoma humano é o elemento característico
do que é Humano. Tal é reforçado
quando a UNESCO o declara intocável. Neste caso,
a fala humana passa a ser a do gene.
Luís Carlos Nogueira, doutorando da Universidade
da Beira Interior, também lançou alguns
tópicos para discussão, um deles é
o de que "O Ciberespaço é algo de conservador",
pois promete o absoluto, mas quem controla esse espaço
são as leis humanas e não as da natureza
ou as leis divinas, o que gera algumas injustiças
e particularidades. O filme Matrix fora várias
vezes referido como um exemplo de humanos que entram na
virtualidade através das novas tecnologias. Inclusive
existe uma personagem dessa produção que
provoca o pensamento de que apesar de existir a possibilidade
desse "novo mundo" não ser nem belo nem
libertador, tal não significa que não se
queira participar nele.
António Fidalgo, professor da UBI, falou da experiência
e da relação entre sensação
e percepção, apresentando como exemplo a
diferença da ida a uma biblioteca física
e a uma on-line. Afinal, trata-se do "pai da BOCC",
a biblioteca que da rede faz cultura.
Foram três dias em que todos estiveram conectados
ao conhecimento das novas tecnologias, e a todas as dúvidas
e fascínio que essas suscitam. O Ministro da Cultura,
Augusto Santos Silva, abriu os trabalhos, mas o Secretário
de Estado da Comunicação Social, Alberto
Arons de Carvalho, não esteve na sessão
de encerramento, pois sofreu um pequeno acidente que impossibilitou
a sua presença nesta conferência.
|