"Ben" e "Gus"
as personagens de "O Serviço"
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O "Serviço"
no GICC
Harold Pinter enche o
GICC na Covilhã
João Saboga
e Vitor Correia fecham-se num quarto e maravilham a cidade
da Covilhã com um diálogo em que as palavras
saltitam como peças num tabuleiro de xadrez.
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Por Sílvia
Lopes
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O teatro GICC viu sala
cheia no passado sábado, dia 3, pela encenação
dos Artistas Unidos da peça de Harold Pinter inserida
no programa do Festival de Teatro da Covilhã 2001.
João Saboga e Vitor Correia deram vida a Ben e Gus
em "O Serviço", uma peça que gira
em volta da troca de palavras enigmáticas, repletas
de segundos sentidos e sujeitas a más interpretações.
"É uma peça fantástica" afirma
João Saboga "joga imenso com as palavras, mostra
a impotência de pessoas que não sabem para
que estão ali". Ben e Gus são dois assassinos
que estão num quarto à espera que lhes indiquem
o seu próximo serviço. É durante essa
espera que toda a peça se desenrola. A ansiedade
de Gus, as suas perguntas incoerentes, contrasta com a passividade
de Ben, que se limita a ler um jornal e aguardar que o tempo
passe. É neste contexto que se avivam memórias,
se regressa ao passado e se interroga o futuro. Dos mais
triviais assuntos acende-se uma discussão e Ben,
apesar de ser o mais calmo, torna-se, por vezes, um pouco
agressivo.
Este ambiente de tensão,
que tanto pode cingir-se ao silêncio como
resultar numa cena de violência, não
deixa de se tornar cómico e enigmático,
e todo o mistério que o rodeia revela-se
apenas o espelho da vida do mais comum dos mortais.
Esta sensação de ver a própria
vida retratada no palco leva o público
a meditar sobre as trivialidades quotidianas,
sobre o que os move. É esse o objectivo
da peça. Como Ben e Gus, não seremos
todos marionetas de um sistema?
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João Saboga e Vítor Correia protagonizaram
dois assassinos à espera do próximo
"serviço"
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A estreia da peça ocorreu em Portalegre, e a Covilhã
foi a segunda cidade onde encenaram. "O teatro estava
cheio e isso é sempre confortador" aponta Vitor
Correia que, como antigo actor do Teatro das Beiras, estava
habituado a ver a sala muitas vezes vazia. "Mas também
não nos podemos esquecer que um ciclo de teatro atrai
sempre mais publico que uma peça singular" acrescenta.
Mesmo assim, o espectáculo excedeu as expectativas
porque devido ao fim de semana prolongado não se
encontravam praticamente nenhuns estudantes universitários
na cidade o que poderia influenciar a afluência ao
teatro.
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