Por Liliana Correia


A tradição, manifestada através dos trajes, instrumentos e objectos, está bem presente em toda a performance das Adufeiras de Monsanto

No passado 27 de Outubro, as Adufeiras de Monsanto encerraram o Art'UBI - Mostra de Artes da Universidade da Beira Interior, com um concerto no auditório das Sessões Solenes da UBI.
Preservar o cariz próprio de uma região é o objectivo fundamental das Adufeiras de Monsanto, que empregam a alma à sobrevivência de uma cultura tradicional. Cirandas, adufes, matracas, trajes tradicionais e todo um conjunto de objectos antigos permitiram a realização de um espectáculo único, que retoma os costumes e as nossas origens.
As adufeiras da "aldeia mais portuguesa" não se limitaram apenas a cantar as músicas, mas a representá-las, pois o que importa é "trazer para o palco a tradição de Monsanto que vai desde cantigas de trabalho, a cantigas de religião e de romaria, dando uma imagem mais real às pessoas", sublinha Maria Amélia Fonseca, responsável pelo grupo.
Todo o espectáculo, que vai desde a representação ao canto, dos instrumentos ao traje, tem um sentido revestido de muita simbologia: dar a conhecer as crenças e o dia-a-dia dos nossos antepassados.
Deste modo, as adufeiras envergam nas suas actuações o traje de romaria constituído por saias garridas, xailes bordados à mão e lenços antigos, pois "cada espectáculo é uma festa", refere Maria Amélia Fonseca.
As matracas substituem os sinos que, em sinal de luto, não tocam no canto da Verónica, um canto religioso e tradicional.


A arte de bordar também é acompanhada por uma cantiga bem popular

As flores e as marafonas (bonecas de trapo) remontam a lendas antigas e simbolizam, respectivamente, a fartura e a fertilidade.
Embora as adufeiras tenham a adesão de muitos jovens nos espectáculos, o grupo apenas conta com Patrícia Rafael, de 17 anos, para perpetuar a tradição monsantina, a qual acredita que esta situação se deve não só à escassez de pessoas jovens na aldeia, mas também ao facto de "os jovens que existem não se interessarem por manter a tradição da terra", acrescenta.

Conscientes deste problema, que põe em causa a sobrevivência da cultura e da essência de Monsanto, as adufeiras têm o cuidado de proteger este património cultural, registando sonoramente estas músicas antigas, para que não se percam nem no tempo nem no esquecimento.

Uma experiência ligada à tradição

As adufeiras são oriundas do rancho folclórico da Casa do Povo de Monsanto e surgiram aquando do concurso da aldeia mais portuguesa.
No seu currículo contam já com um leque vasto de concertos, não só em Portugal, como no exterior, além de colaborarem com músicos de renome.
Em 1997, ano da sua constituição, as adufeiras participaram num concerto em Paris, realizado por Ricardo Pais, director do teatro de S. João do Porto, e pelo pianista Mário Laginha.
Regressadas de França, onde tiveram espectáculo lotado todos os dias, retomaram-no em Lisboa, no Teatro da Trindade, onde actuaram para Mário Soares e sua esposa, Maria Barroso.

Actuaram pela primeira vez na Covilhã no Art'UBI do ano passado, aquando do lançamento do álbum "Chorinho Feliz" de Maria João e Mário Laginha, já que participaram com um tema nesse CD, além de existir uma grande relação de amizade.
A presença das Adufeiras de Monsanto na Covilhã passa também pela actuação destas no Éthnicu passado, actividade realizada igualmente pela AAUBI - Associação Académica da Universidade da Beira Interior.


"Moda da Azeitona": uma cantiga de trabalho interpretada pelas Adufeiras

 



O balanço do Art'UBI

 
O Art'UBI deste ano encerraria apenas com o espectáculo do Balleteatro do Porto, que foi cancelado pela própria companhia, "alegando dificuldades técnicas", esclarece Ricardo Abreu, responsável pela secção cultural da AAUBI.
A performance, intitulada "Delete" conjugava a dança contemporânea com outras artes, nomeadamente a representação.
Segundo Ricardo Abreu, "Art'UBI deste ano apostou na variedade, desde teatro, dança, música, cinema e uma exposição", considerando que, apesar da pouca adesão das pessoas, as que assistiram mostraram-se muito satisfeitas com a qualidade apresentada.