"Queremos mudar mentalidades",
diz Adelino Fernandes, presidente da nova delegação
da Associação Portuguesa de Deficientes (APD)
do distrito de Castelo Branco.
Tudo começou num café, onde Adelino e mais
seis amigos se reuniam regularmente. Em comum tinham o facto
de todos serem deficientes. Todos os dias sentiam na pele
as dificuldades que a sua deficiência lhes causava,
a maior das quais "a discriminação de
que somos alvo por parte da sociedade", afirma. Surgiu
então a ideia de criar uma associação
que ajudasse, sem excepção, todos os deficientes.
Há 30 anos o Ultramar "roubou" a Adelino
Fernandes uma perna e retirou-lhe a possibilidade de prosseguir
a sua vida "normal". A sociedade passou a olhá-lo
de forma diferente, como "um coitadinho".
Diz que os deficientes se sentem "ofendidos quando
os tratam assim", e foi precisamente este o motivo
que o levou a pensar na criação de uma associação
que defendesse os interesses dos deficientes e que "os
ajudasse numa melhor integração na sociedade",
explica.
Adelino não queria uma associação qualquer,
mas uma que abrangesse todo o tipo de deficientes, que defendesse
os seus direitos e os ajudasse a encontrar soluções,
daí a escolha da APD. Como exemplo, Adelino Fernandes
lembra que "uma lei criada em 1997 diz que todos os
espaços
públicos construídos a partir dessa data devem
ter rampas de acesso entre outras condições
que facilitem o acesso aos deficientes, mas essa lei simplesmente
não é cumprida".
"Feliz? Só
quando isto estiver de pedra e cal..."
Durante a apresentação
de um livro seu, aproveitou a presença
de diversas entidades camarárias para lançar
o repto. "A vereadora da cultura respondeu
favoravelmente e disse-nos que estava connosco",
recorda. Surgiram então os primeiros contactos
com a APD que aprovou a criação
de uma nova delegação que abrangesse
todo o distrito de Castelo Branco. A Câmara
cedeu o espaço gratuitamente, na rua Comendador
Mendes Veiga.
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No Dia da Cidade da Covilhã, o sonho de uma
delegação na Covilhã tornou-se
realidade
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No passado dia 20 de Outubro, dia em que a Covilhã
comemorava 131 anos de elevação a cidade,
Adelino Fernandes e os seus amigos viram o seu sonho tornar-se
realidade. Garante que só ficará totalmente
satisfeito quando "a delegação estiver
de pedra e cal". Para já os dois mil sócios
da delegação têm um espaço
onde podem dirigir-se e expôr os seus problemas
e dificuldades. "Ainda não temos advogado,
mas quando há casos mais complexos contamos com
o apoio da APD", explica. A longo prazo gostava de
poder contar com um espaço maior "onde os
sócios possam passar alguns momentos de convívio
com jogos, televisão, e outras formas de passar
o tempo", adianta o presidente da delegação
da APD.
A nível nacional, a APD conta neste momento com
cerca de 22 mil sócios. Os dois mil da delegação
de Castelo Branco pagam uma cota simbólica de 100
escudos por mês, sendo esta uma das poucas fontes
de rendimento da associação. Adelino Fernandes
anuncia ainda algumas iniciativas que a
delegação pretende levar a cabo nos próximos
tempos, tais como a "realização de
um torneio de andebol de deficientes, a realizar na Covilhã,
com data ainda por definir". O objectivo mantém-se:
"Proporcionar o convívio entre os deficientes
e a sociedade em geral", reforça.
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