Inevitável e garantida, à
morte, a única réstia de imprevisto que
se lhe conhece é o momento de entrada em cena.
Apesar disto, paradoxalmente, insistimos em encará-la
com surpresa, com total surpresa quando antecipado o "timing"
do costume.
É a partir de uma situação de morte
que se organiza o último livro de Rui Zink. A morte
como perda dolorosa e as consequentes estratégias
para lhe sobreviver. Enquanto situação limite,
servirá ao autor para construir uma narrativa que
não é mais do que uma espreitadela ao melhor
e ao pior dos Humanos. Quanto ao tema, Rui Zink arrisca
um particularmente difícil. Pelo dramatismo, que
faria resvalar um novato para o terreno da lamechice;
mas também pelo momento em que introduz o acontecimento
trágico: depois de um leve intróito, leve
mesmo, assim, a seco, como um murro no estômago.
O Suplente conta uma história. Mas a história
é também pretexto para uma moral: suplentes
somos todos nós; e para uma "filosofia":
postos a ridículo pela nossa finitude, o que nos
move? Num tempo em que Deus, "apesar de tudo, melhor
interlocutor que o vazio", se resume a ser "o
presidente da Associação Portuguesa de Surdos
Mudos", onde encontrar um sentido? E, perante uma
perda irremediável e antecipada, não deveríamos
nós ter vergonha de conseguir sobreviver?
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