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Dolenti declinare
Roubo descaradamente a
epígrafe a Umberto Eco, da última das suas
crónicas do Diário Mínimo, como síntese
de motivação ou pretexto para falar do Ensino
em Portugal.
Diante dos olhos tenho já, por antecipação,
a imagem dos rituais da praxe académica previstos
para o proscénio da Av. Marquês d'Ávila
e Bolama, ao cabo de um primeiro mês de actividades
lectivas, em que os veteranos (papas, dux?!) exprimiram
os seus fracos dotes artísticos nas telas vivas
que os caloiros encarnam.
A falta de criatividade, aliada a alguma inconsciência,
conduziu à substituição do que os
latinos designaram "serio ludere" (jogar seriamente)
por actos de recreação, nada abonatórios,
em que o caloiro - esse ente de casta inferior ávido
de aceitação na trupe - suporta, atónito,
vilipêndios e boçalidades várias,
personificando o mártir voluntário da barbárie,
anacronicamente civilizada, que perseverantemente vai
minando o Ensino.
Não posso, portanto, deixar de apelar à
razão dos alunos, quando nos deparamos com graves
problemas de financiamento e, como em qualquer época
de crise, confluem para o sector da educação
muitas forças antagónicas. Num mundo no
qual 2/3 dos jovens não vão à escola,
a sua situação é privilegiada. Aspecto
que devem relevar, não desperdiçando os
recursos disponíveis, nem alienando direitos ou
a sua própria liberdade individual. Devendo, ainda,
lutar para que o princípio da gratuitidade, consagrado
na Constituição da República, não
sofra mais um revés, com a canalização
directa das propinas (valor actual ou aumentado) para
o pagamento dos salários dos professores e funcionários,
porque isso será legitimar a demissão do
Estado do seu dever de fraternidade.
Há todo um conjunto de factores políticos
a condicionarem a vida académica e a actual relação
simbólica desta com a sociedade não suporta
leviandades. Substituir progressivamente a suposta tradição
por programas de interacção mais edificantes
entre os recém-chegados e os iniciados, consciencializando-os
da contingência em que se movem, é o mínimo
que me ocorre sugerir-lhes, como forma de ultrapassar
o sonambulismo do "statu quo" social do País
e, fiéis à memória dos nobres rituais,
contribuirem para renovar do ponto de vista do significado
a Universidade.
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