Todos os anos os fogos
florestais consomem importantes parcelas da floresta que
existe em Portugal. A área consumida este ano foi
de 87 mil 406 hectares, pouco mais de metade da ardida em
2000, 153 mil 805 hectares (ver última edição
do NC). Uma diminuição a que as condições
atmosféricas não são alheias. O distrito
de Castelo Branco, sobretudo o concelho da Covilhã,
por estar rodeado por uma importante mancha verde, não
escapa às chamas. O NC foi à procura das causas
e razões junto dos principais intervenientes no combate
aos incêndios: as corporações de bombeiros.
Segundo o comandante dos Bombeiros Voluntários da
Covilhã (BVC), José Flávio, "a
falta de planeamento florestal, os difíceis acessos
e o excesso de manta morta nos terrenos" são
factores determinantes na rápida propagação
dos incêndios. "Se tivermos uma floresta devidamente
organizada com acessos, em que haja faixas de contenção
de fogo, pontos de água a que as viaturas possam
chegar para se abastecer e os caminhos reparados, torna-se
mais fácil controlar qualquer foco de incêndio",
explica Flávio. O corte dos caminhos com pedras por
parte dos proprietários é outra realidade
com a qual os bombeiros têm de lidar. "Há
falta de vigilância e fiscalização por
parte das entidades competentes", assegura, por sua
vez, Virgílio Borges, no comando dos Bombeiros Voluntários
de Seia há quatro meses. Mas os obstáculos
ao trabalho dos bombeiros não ficam por aqui. O desconhecimento
dos donos das parcelas que são atingidas pelas chamas
é outro dos problemas. "Temos de saber a floresta
que temos e a quem pertence", sublinha Flávio.
A solução para o comandante dos BVC parece
ser fácil: "Quem trata da floresta particular
tem direito a ela, quem não trata tem de a passar
para o Estado, mas depois este não a pode abandonar".
Depois de terminada a época oficial dos incêndios
que decorreu entre Julho e Setembro, José Flávio
defende que se deve arregaçar as mangas e começar
já a preparar a próxima. "Os fogos de
Verão devem ser apagados no Inverno", sugere.
Penas mais pesadas para incendiários
Os inúmeros focos de incêndio que deflagram
durante o Verão denunciam, essencialmente, queimadas
que fogem ao controlo de quem as coloca e fogo posto,
duas das origens dos sinistros.
Carlos Zorrinho, secretário de Estado Adjunto do
ministro da Administração Interna propõe
uma reflexão sobre a moldura penal em vigor para
quem seja acusado de provocar incêndios. Rui Esteves,
presidente da Federação de Bombeiros do
Distrito de Castelo Branco, por seu turno, defende o agravamento
das penas para os incendiários. Já José
Flávio afirma ser necessário acabar com
falsas desculpas e punir os incendiários com uma
"lei dura". "Cada vez que é apanhado
algum incendiário logo a seguir aparece uma equipa
médica a dizer que o indivíduo sofre de
perturbações mentais". O comandante
dos BVC vai mais longe e adianta: "Os fogos florestais
são, também, um tipo de terrorismo que tem
de ser combatido".
Mas nem sempre é fácil recrutar bombeiros
voluntários, na opinião do adjunto de comando
dos Bombeiros Voluntários de Idanha-a-Nova, João
Costa. "O voluntariado precisa de ser incentivado
com novas regalias", explica Flávio. Já
para Virgílio Borges, dos Bombeiros Voluntários
de Seia, o "voluntariado continua vivo e de boa saúde".
A grande dificuldade para esta corporação
é ter um piquete de efectivos durante o dia para
assegurar a primeira intervenção aos sinistros.
Também os meios de combate nunca são os
suficientes, Flávio destaca a necessidade da pista
da Covilhã que, na sua opinião, apresenta
"condições estratégicas extraordinárias",
desde que seja dotada de um helicóptero pesado
com capacidade de três mil e 500 litros e um avião
de combate a incêndios.
Apesar de representarem apenas sete por cento das actividades
dos bombeiros durante o ano, os fogos florestais merecem
sempre uma atenção especial por parte do
Governo que este ano investiu 120 milhões de contos
na prevenção. No entanto os soldados da
paz continuam a acusar o executivo governamental de falta
de uma política de protecção à
floresta. "Quem quiser fazer uma verdadeira política
de prevenção à floresta não
pode preparar-se para ganhar eleições",
conclui o comandante covilhanense.
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