Por Ana Filipa Silva


O II Congresso da SOPCOM contou com nomes sonantes da área da comunicação.
Da esquerda para a direita, José Magalhães, António Fidalgo, Pinto Balsemão e Armando Oliveira


A Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação intitulara o seu primeiro congresso como "As Ciências da Comunicação na Viragem do Século", o que já revelava uma preocupação com o destino da área. Mas a "sociedade da comunicação" ganhou uma importância extraordinária. Assim, sob o título "Rumos da Sociedade da Comunicação", o II Congresso da SOPCOM instalou-se na Fundação Calouste Gulbenkian durante os dias 15, 16 e 17 de Outubro.
Este ano, o acontecimento mais enunciado durante o congresso foram os atentados de 11 de Setembro do corrente ano. Peter Golding, da Universidade de Loughborough - Reino Unido, chamou a atenção para o facto de que as pessoas, antes do ataque ao World Trade Center, já tinham ouvido falar de Osama Bin Liden e sabiam que o terrorismo existia. O mundo, segundo ele, "não vai mudar radicalmente", "o que mudará é o modo como se olha agora essas duas identidades". Parés y Maicas, da Universidade Autónoma de Barcelona - Espanha, ainda alertou para o perigo dos media tornarem Bin Laden num mártir ou num mito.
António Costa, da Universidade do Porto, apresentou a guerra como um "jogo invertido" e afirmou que o Homem é um jogador nato, tanto mais que a linguagem desportiva é, na sua perspectiva, a única linguagem universal, pois perante um golo, seja um engenheiro ou um pedreiro, todos se manifestam com os mesmos gestos e gritaria.

Futebol e religião


Da esquerda para a direita, José Bragança de Miranda, Moisés Lemos e Eduardo Prado Coelho durante uma "mesa redonda"
Também António Câmara, da Universidade Nova de Lisboa, elogiou a arte desportiva em detrimento das práticas académicas. É que no futebol valorizam-se os talentos, e nas escolas o processo é ao contrário: dá-se uma enorme importância aos que se mostram inteligentes e depois espera-se que eles venham a ter "o dom".
Para além do futebol, também se falou sobre a religião. José Augusto Mourão, da Universidade Nova de Lisboa, apresentou um trabalho de hermenêutica intitulado "O inferno da interpretação. O Segredo de Fátima". Entre o público do congresso sentia-se uma grande expectativa em relação a tal comunicação, tanto que depois de ser proferida, o público na sala diminuiu substancialmente.
Mais vazio do que em Março de 1999 estava o local do congresso, inclusivamente não se verificou a mesma cobertura fotográfica que existiu no I Congresso. Uma das razões foi apresentada por Aníbal Alves, da Universidade do Minho, aquando da Sessão de Abertura, o facto de "estarmos em começo de actividades lectivas e profissionais". Mas também se ouviram comentários acerca da organização do congresso. Mário Mesquita, da Universidade Nova de Lisboa, foi uma das pessoas que se manifestou a propósito de, em algumas sessões temáticas, existirem oradores com vinte minutos para falar, e noutras apenas com cinco.
Na conferência de encerramento, o novo presidente da SOPCOM - José Manuel Paquete de Oliveira, do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, convidou os presentes a apresentarem sugestões para o III Congresso das Ciências da Comunicação. As dificuldades deste não são problemáticas, até porque, como afirmou Luís Magalhães, Presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, "há não muito tempo, não existíamos em termos científicos. Agora, estamos a meio caminho.". Os investigadores, os estudantes e os restantes interessados ficam à espera do III Congresso da SOPCOM, sabendo que o trabalho nas Ciências da Comunicação não se faz apenas de 2 em 2 anos, mas todos os dias.



Foram 10 os representantes da UBI neste II congresso da SOPCOM, entre docentes e licenciados em Ciências da Comunicação pela UBI

UBI marca forte presença

 
A UBI esteve bem representada na II edição do Congresso da SOPCOM. Dois licenciados em Ciências da Comunicação e vários docentes do Departamento de Comunicação e Artes apresentaram comunicações e intervieram de várias formas naquele que é o maior congresso sobre Comunicação do nosso país.
Uma presença forte que afirma a UBI, através dos seus docentes e alunos, como uma universidade onde a Licenciatura em Ciências da Comunicação, cuja qualidade é já reconhecida a nível nacional, se afirma cada vez mais.
Não estão só em causa os meios técnicos mas também a forte investigação que tem vindo a ser desenvolvida nesta área.
António Fidalgo, docente da UBI coordenou, logo no primeiro dia a mesa redonda subordinada ao tema " Tendências e políticas da Sociedade da Informação" onde estiveram presentes nomes como José Magalhães, Secretário de Estado para os Assuntos Parlamentares e Francisco Pinto Balsemão.
Na sessão temática moderada por António Marques, da Universidade Nova de Lisboa, José Domingues, Assistente no Departamento de Comunicação e Artes da UBI, apresentou a comunicação " A mediação dentro dos limites ontológicos-perspectiva heideggeriana.", numa sessão em que se procurava abordar a filosofia da comunicação como reflexão sobre a possibilidade, as condições e os limites da comunicação.
Américo de Sousa, mestre em Ciências da Comunicação pela UBI, e cuja tese é a mais recente obra da série Estudos em Comunicação publicada pelos serviços gráficos da UBI, apresentou a comunicação "Retórica e Discussão política". Nesta sessão procurava-se problematizar as formas de representação democrática em contextos de mediocracia. O coordenador foi Joel Frederico da Silveira.
João Carlos Correia, que apresentou em finais do passado ano lectivo a dissertação de Doutoramento, apresentou duas comunicações. " Opinião pública e consensos nas sociedades pluralistas" e "Novas configurações da identidade. Os media electrónicos e a reflexividade moderna". Esta última numa sessão moderada por João Pissarra Esteves, seu orientador de doutoramento.
João Canavilhas, licenciado em Ciências da Comunicação pela UBI, a tirar doutoramento na Universidade de Salamanca é Assistente convidado no Departamento de Comunicação e Artes e é o responsável pelo projecto Tubi (Televisão Interna da UBI). Durante o SOPCOM apresentou "Novas formas de jornalismo: webjornalismo " numa sessão onde foram debatidas as potencialidades e riscos das novas formas de jornalismo.
José Manuel Santos, até ao ano passado director da Licenciatura em Ciências da Comunicação e actualmente director da Licenciatura em Filosofia, foi o responsável pela sessão subordinada à Ética e Comunicação. Apresentou a comunicação "A ética face às dinâmicas da sociedade da comunicação". Nesta mesma sessão participou Joaquim Paulo Serra, Assistente no Departamento de Comunicação e Artes, Mestre pela UBI e a concluir doutoramento, apresentou "Ética, mediatização e proximidade: alguns paradoxos éticos da sociedade da comunicação".
Manuela Penafria, licenciada pela UBI e assistente no departamento, está a preparar doutoramento. Tem publicado o livro O filme documentário.História, identidade, tecnologia. É a ela que se deve a página doc-online. Falou sobre "Um fora de campo no cinema:o filme documentário".


A "Retórica na época da Internet" e "O mundo como base de dados" foram as propostas dirigidas às novas tecnologias

Licenciados pela UBI debatem Novas Tecnologias

 
Na sessão temática destinada à "Comunicação e Novas tecnologias" moderada por António Fidalgo (UBI) e Graça Rocha Simões (UNL), Luís Nogueira e Ivone Ferreira, dois licenciados em Ciências da Comunicação pela UBI, apresentaram dois temas direccionados para as novas tecnologias.
Luís Nogueira licenciou-se na UBI e é mestre por esta universidade. É bolseiro de doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia e o seu orientador é o professor António Fidalgo.
Ivone Ferreira é recém-licenciada pela UBI e pretende doutorar-se nesta instituição.
Luís Nogueira apresentou "O mundo como base de dados", focando a vasta e lata informação que cada vez mais se dirige a diferentes campos.
" O surgimento da lógica das hiperligações terá consequências enormes e ainda insuspeitas na recepção das mensagens, na arquitectura dos processos mentais e semióticos, na gestão e navegação no mundo de dados armazenados e o desenvolvimento dos motores de pesquisa será outro aspecto fundamental para a instauração de novos regimes de uso e pesquisa de informação e construção de sentidos e quadros referenciais", sublinhou.
Ivone Ferreira dissertou sobre "A retórica na época da Internet". Na sua comunicação abordou a nova perspectiva da retórica na era digital e as recentes faces da persuasão, revelando que cada vez é mais comum o dizer sem palavras, usando apenas expressões, imagens, cores. "Na web, é o trabalho dos designers e dos escritores dos sistemas online que deve desaparecer, deixando vir à luz uma mensagem que prima pela eficácia, uma vez que o objectivo é provocar a adesão do auditório e não criar um objecto estético", defendeu.
A UBI figurou no II Congresso da SOPCOM com 10 representantes.