"Até conheço
os protagonistas, mas sou contra aquilo que estão
a fazer em Lisboa". É assim que o fundador do
grupo SOS Estrela, José Maria Salvado, reage à
intenção do Serviço Nacional de Protecção
Civil (SNPC) pôr a funcionar, até final do
ano, equipas especializadas para intervenções
em zonas montanhosas e em tempestades de neve.
Recorde-se que o Grupo SOS Estrela está em actividade
desde 1996 e tem como função, acima de tudo,
este tipo de acções de salvamento na Serra
da Estrela. No dia 7 de Setembro, após uma viagem
a Espanha para participar no resgate de João Pinto,
uma portuguesa que perdeu a vida nos Picos da Europa, o
SOS Estrela teceu duras críticas à Protecção
Civil, considerando que este órgão "não
tem capacidade para coordenar um acidente destes na Serra
da Estrela". José Maria Saraiva considera, inclusive,
não haver operacionais bem qualificados para estes
casos, pelo que há a necessidade de realizar vários
simulacros, uma intenção que se torna também
bastante difícil.
A verdade é que agora, o Serviço Nacional
de Protecção Civil avança com esta
medida, um serviço de salvamento que será
prestado por 15 voluntários, que já receberam
formação em Espanha, num curso organizado
pelo Clube Ibérico de Montanhismo, presidido pelo
português Carlos Teixeira. Ao todo serão três
equipas de cinco voluntários cada, cujo a acção
decorrerá no âmbito de um protocolo assinado
em Março pelo SPNC e pela Federação
Portuguesa de Campismo (FPC). Estes elementos aguardam o
fornecimento de equipamentos individuais, além de
uma maca especial já encomendada pelo SNPC. Segundo
o jornal Expresso , foi o desaparecimento de Maria João
Pinto que contribuiu para acentuar a necessidade da existência
de equipas portuguesas especializadas em montanhismo.
Para o responsável pelo SOS Estrela, José
Maria Saraiva, esta medida não é mais que
"a procura de protagonismo. Não tem nada a ver
com a realidade. Não é em Lisboa que se formam
equipas." Este responsável pergunta ainda porque
é "a Protecção Civil não
aproveita os voluntários que já cá
estão. Nós também já recebemos
formação em Espanha". José Maria
Saraiva salienta ainda não concordar com o voluntariado,
"que só praticamos aqui porque existe esta lacuna"
e deixa um alerta: "criem essa equipa e depois quando
houver um acidente na Serra, venham chamar-nos a nós.
Para mim, isto é só mais um 'bluff' que não
vai trazer nenhum valor acrescentado". As novas equipas
do SNPC irão actuar no Gerês ou Serra da Estrela.
A Federação de Campismo assegurará,
durante 24 horas, uma equipa de cinco voluntários
aptos a actuar no período máximo de quatro
horas após uma convocação da Protecção.
"SOS Estrela não está acima da
lei"
Para do delegado distrital da Protecção
Civil, Rui Esteves, toda esta situação está
a ser tratada em Lisboa e o caso da Serra da Estrela "será
equacionado consoante os meios existentes".
Quanto às críticas apontadas pelo SOS Estrela
sobre a falta de coordenação em operações
de salvamento na Serra, Rui Esteves é taxativo.
"O SOS Estrela não pode levar a cabo operações
de coordenação. Não estão
acima da lei. Poderão, quando muito, fazer parte
desta equipa de voluntários. Às vezes, as
pessoas falam é de mais. Eu ainda gostava de saber
o que eles foram lá fazer a Espanha. Foi a Guardia
Civil e a Protecção Civil espanhol que coordenaram
todas as acções, não foram eles".
Rui Esteves salienta ainda que, há já alguns
anos que a Protecção Civil tem um plano
especial para situações de tempestade e
neve na Serra da Estrela, "ao qual recorremos quando
é preciso. Nele, também contamos com as
forças existentes no terreno".
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