Nitin Sawhney

"Prophesy"

V2 Music Limited, 2001




Nitin Sawhney pode não ser um profeta, mas carrega consigo uma aura de espiritualidade que os seus trabalhos revelam a quem os ouve.
A música do britânico de origem indiana corre suave, sem pressas, por entre paisagens electrónicas emaranhadas em estruturas que tanto bebem no free jazz, como na música oriental, ou mesmo em estruturas derivadas do drum&bass. Nada que Sawhney não tivesse já mostrado em anteriores discos, principalmente no último "Beyond skin", mas agora com um ainda maior grau de elegância e um olhar mais aprofundado à soul e aos ritmos downtempo. A "Prophesy" não falta, também, o cariz político-interventivo do artista. E se no livreto do álbum anterior, Nitin abordava a questão das guerras iminentes, da postura nuclear do país de origem dos seus pais e de tudo o que isso representava de mal para a humanidade, desta vez é a tecnologia o alvo das suas reflexões. "A tecnologia é uma droga", escreve Sawhney, para depois explicar: "Liguem a televisão e alguém vos diz que na Índia morreram 50 mil pessoas. Dois segundos depois estão a ver uma comédia. A tecnologia permite isso. Dá-nos realidades simuladas que nos tornam indiferentes ao mundo real. A heroína faz a mesma coisa. Basicamente somos todos viciados no conforto e conveniência que a tecnologia nos proporciona". Uma espécie de alerta vindo de um meio (o musical) em que, hoje, as mensagens escasseiam, para ler, ouvir e reflectir. Sem esquecer, como lembra o músico britânico, as palavras de Nelson Mandela (que se podem ouvir em "Breathing Light", acompanhadas por uma estrutura sonora arrepiante): "Somos livres de sermos livres".


por sérgio felizardo