Nitin
Sawhney pode não ser um profeta, mas
carrega consigo uma aura de espiritualidade
que os seus trabalhos revelam a quem os ouve.
A música do britânico de origem
indiana corre suave, sem pressas, por entre
paisagens electrónicas emaranhadas
em estruturas que tanto bebem no free jazz,
como na música oriental, ou mesmo em
estruturas derivadas do drum&bass. Nada
que Sawhney não tivesse já mostrado
em anteriores discos, principalmente no último
"Beyond skin", mas agora com um
ainda maior grau de elegância e um olhar
mais aprofundado à soul e aos ritmos
downtempo. A "Prophesy" não
falta, também, o cariz político-interventivo
do artista. E se no livreto do álbum
anterior, Nitin abordava a questão
das guerras iminentes, da postura nuclear
do país de origem dos seus pais e de
tudo o que isso representava de mal para a
humanidade, desta vez é a tecnologia
o alvo das suas reflexões. "A
tecnologia é uma droga", escreve
Sawhney, para depois explicar: "Liguem
a televisão e alguém vos diz
que na Índia morreram 50 mil pessoas.
Dois segundos depois estão a ver uma
comédia. A tecnologia permite isso.
Dá-nos realidades simuladas que nos
tornam indiferentes ao mundo real. A heroína
faz a mesma coisa. Basicamente somos todos
viciados no conforto e conveniência
que a tecnologia nos proporciona". Uma
espécie de alerta vindo de um meio
(o musical) em que, hoje, as mensagens escasseiam,
para ler, ouvir e reflectir. Sem esquecer,
como lembra o músico britânico,
as palavras de Nelson Mandela (que se podem
ouvir em "Breathing Light", acompanhadas
por uma estrutura sonora arrepiante): "Somos
livres de sermos livres".
por
sérgio felizardo
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