Por João Alves
NC/ Urbi et Orbi


Luís Garra recusa a ideia de haver uma crise nos têxteis

São cerca de 1050 os trabalhadores de empresas da Beira Interior que têm o seu lugar em risco, ou seja, que podem ver as suas empresas fecharem a qualquer momento. A situação é denunciada pelo coordenador da União dos Sindicatos de Castelo Branco, Luís Garra, que confia no entanto, que as empresas possam ultrapassar os problemas que as afectam, não dando origem a despedimentos.
Segundo este sindicalista, são quatro as empresas que estão nesta situação. A fábrica de transformação de madeiras, a Sotima, em Proença-a-Nova, que tem ao seu serviço 200 trabalhadores, mas que se encontra a laborar ao abrigo de um processo de recuperação e que não está a pagar pontualmente. No Fundão, as confecções Eres são também um dos casos problemáticos apontados por Garra, já que esta multinacional suíça alberga 500 trabalhadores, que em 2001 está dependente de objectivos. Caso contrário, "a multinacional decidiu que se não o conseguir terá que adoptar outras medidas que até ao momento se desconhecem". Em Belmonte, as confecções Montebela, com 250 trabalhadores, está em processo de recuperação para ser decidido este mês, mas com desfecho ainda imprevisível. No Tortosendo, as Confecções Gil&Almeida, com 100 trabalhadores, tem um processo de execução fiscal em curso. Luís Garra recusa a ideia que haja crise nas confecções, mas salienta serem necessárias medidas governamentais para fazer face à concorrência estrangeira. E deixa um recado a algumas destas empresas: "terão que apostar na qualidade e em novos modelos de gestão profissionalizada".
No diagnóstico efectuado pela União dos Sindicatos às empresas da Beira Baixa, são denunciados ainda quatro mortes, em 2001, por acidentes de trabalho, 165 processos de acidentes nos tribunais de Covilhã e Castelo Branco e rescisões por "mútuo acordo", mas que o Sindicato considera despedimentos de facto. Cerca de 50 rescisões aconteceram na Nova Penteação, 20 na Delphi em Castelo Branco, e 40 nas empresas Danone e Lusitana, também na cidade albicastrense. Luís Garra denuncia ainda 19 despedimentos nas Confecções Serratex, no Tortosendo e 140 nas Confecções Camila (empresa que encerrou), em Castelo Branco . E adianta que tudo fará para travar a discriminação salarial, "como aconteceu na Paulo de Oliveira, em que se deu 40 contos de gratificação aos trabalhadores. No entanto, os dirigentes, delegados sindicais e trabalhadores que tiveram faltas, mesmo de baixa médica, foram excluídos".

Aumento de seis por cento nos salários

Na origem de todas estas situações estão, segundo Luís Garra, a falta de obras estruturantes como são as acessibilidades. "Os Censos 2001 dizem que o distrito continua a desertificar. Haver emprego de qualidade é fundamental para haver fixação". É que para o sindicalista, agora que a CGTP festeja 31 anos de existência, a produtividade das empresas aproximou-se dos níveis da União Europeia, "mas os salários não". De acordo com o Sindicato, os salários praticados no distrito são três quartos dos praticados no continente. Por isso, no que concerne ao poder de compra, a Covilhã, por exemplo, aparece como o 67º concelho no nosso País.
Luís Garra salienta que os problemas de fundo da economia nacional não assenta nos salários, já que "o volume de vendas em 1998 foi de 303 milhões de contos e os salários pagos ascendem a cerca de 27 milhões de contos". A União dos Sindicatos diz que o problema reside, por exemplo, na destruição do aparelho produtivo e na contenção salarial. Por isso a CGTP propõe para este ano aumentos salariais de seis por cento, a fixação do salário mínimo nacional em 73 mil escudos (364,12 Euros), 35 horas semanais, 25 dias úteis de férias, o combate à precaridade de emprego e o cumprimento das leis do trabalho. Para o próximo dia 7 de Novembro, o sindicato tem marcada uma jornada de luta nacional.