José Geraldes

Terrorismo, liberdades e guerra santa


O atentado bárbaro do 11 de Setembro veio revelar que o terrorismo tem raízes muito mais profundas, a nível mundial, para além do que se podia supor. Trata-se de um autêntico polvo em que se misturam negócios, especulação na bolsa, política e extremismo religioso.
A aparência de que se reveste é outra surpresa: homens comuns, com ar de modernos, sem levantarem a mínima suspeita. E normalmente jovens com namoradas e idas às discotecas.
O perfil destes suicidas mostra um nível académico superior, com idades entre os 18 e 30 anos e uso de cartões de crédito.
Como explicar os ataques suicidas quando o Islão proíbe o suicídio e o profeta Maomé condena o acto de matar inocentes? Os fundamentalistas islâmicos não concordam com esta forma de entender o Islão. Matar com ataques de homens-bomba tem o valor de sacrifício heróico.
O suicídio leva ao martírio na guerra santa. Os bombistas suicidas acreditam que, na prática de tais actos, têm o maior grau no paraíso e ali gozam para sempre de 72 virgens.
Esta interpretação do Corão aliada à teoria da guerra santa para eliminar os infiéis - os que não são mulçumanos - cria grupos de extremistas dispostos a todo o tipo de terrorismo na óptica do Ocidente.
E, como os Estados Unidos representam o símbolo da civilização com os valores da democracia e liberdade, o ataque às Torres Gémeas e ao Pentágono era um alvo perfeito. O World Trade Center, coração financeiro do mundo, prestava-se à mensagem que os terroristas islamistas pretendiam passar. E o espectáculo mediático foi previsto para causar mais impacto.
A declaração de um ulema -teólogo extremista - de que só descansaria quando visse a bandeira do Islão flutuar na Wall Street, causa arrepios. O objectivo é, pois, muito claro: a destruição da civilização ocidental.
Os terroristas como Ossama Bin Laden à cabeça, conseguiram já uma vitória: a instalação do medo. Hoje toda a gente levanta o problema da segurança. Aqui surge o problema das liberdades, conquista dos países do Ocidente. Aliar a segurança dos cidadãos à manutenção das liberdades democráticas, eis o grande desafio que se coloca na sequência do dia negro de 11 de Setembro.
Os portugueses já responderam a este desafio em sondagem recente com o sim à limitação das liberdades no combate ao terrorismo. Terrorismo que pode usar novas formas tais como o recurso às armas químicas e biológicas e à disseminação de vírus pela água e alimentos.
Entrámos no séc.XXI com um novo tipo de guerra. E só o concerto das nações lhe pode fazer frente. Os dados a utilizar neste combate diferem de todas as tácticas das guerras clássicas. E será uma batalha longa. Tanto mais que os rostos desta guerra são invisíveis. Mas a democracia nunca pode estar em causa.
O analista Álvaro Vasconcelos escreve a este propósito: "A grande distinção a operar é, evidentemente, entre grupos terroristas e mundo árabe e islâmico, mas outras há: distinção entre islamismo político mais ou menos radical e grupos terroristas como o de Ossama Bin Laden". Mas a firmeza contra o terrorismo não pode agora afrouxar. Como observa Alain Touraine, "a tomada do poder pelos movimentos religiosos tornou-se mais importante do que a afirmação da fé".
A América, com toda a justiça, tem de retaliar. Mas não de qualquer forma. Carlos Alonso Saldívar, diplomata espanhol, dá uma norma importante: "Só o desesperado morre matando, o que tem esperança prefere viver lutando. O grande repto do Ocidente não é matar umas centenas de assassinos suicidas. Se isso é tudo o que fazemos aparecerão outros. O repto consiste em pôr fim a situações que fazem surgir milhares de desesperados dispostos a morrer matando". Palavras sábias e oportunas.