Os habitantes chamam-lhe "o cabo do mundo"
e não é por acaso. À chegada a São
Jorge da Beira, bem como à localidade vizinha das
Minas da Panasqueira, a sensação que assola
o visitante é uma: abandono.
De entre os principais problemas levantados pela população,
alguns assumem contornos preocupantes. Um exemplo é
o estado da estrada entre a Barroca Grande e São
Jorge. Uma via que, de tão degradada, praticamente
não existe, apesar de, segundo o presidente da
Câmara, Carlos Pinto, os respectivos arranjos estarem
adjudicados. A questão arrasta-se há alguns
anos, tal como o autêntico atentado à saúde
pública "plantado" mesmo à entrada
da aldeia. Numa zona em que a paisagem assume contornos
infernais, depois dos recentes incêndios que devastaram
a região, existe uma lixeira de dimensões
consideráveis, a céu aberto e a cerca de
150 metros da Escola Primária das Minas.
Um perigo dizem os populares que, embora preferindo o
anonimato, revelam: "Se no Verão é
o cheiro nauseabundo, as moscas e toda uma série
de bicharada que incomodam e assustam, no Inverno é
o lixo queimado a libertar um fumo intenso que se espalha
por todo o lado e perturba drasticamente as crianças
da Escola Primária".
Vereador assegura contentores esta semana
Segundo conseguimos apurar, os detritos, provenientes
das duas localidades vizinhas, são despejados à
entrada de São Jorge da Beira desde há pelo
menos 15 anos, embora se tenham vindo, progressivamente,
a afastar da população. O representante
da CDU na Assembleia de Freguesia, Amadeu Rocha, afirma
até que já desistiu de levantar o problema
nas reuniões, pois, sublinha, "está
farto de falar e de ver tudo na mesma".
Com um novo ano lectivo a arrancar os protestos sobem
de tom e os habitantes prometem não se calar até
que a situação esteja resolvida. As preocupações
centram-se, essencialmente, na saúde pública,
pois, lembra Amadeu Rocha, "já há aqui
outros atentados, como a falta de saneamento, os esgotos
a céu aberto e os cortes de água sucessivos
durante os meses de Verão, pelo que São
Jorge e as Minas necessitam de tudo menos de lixeiras
à beira da estrada". Preocupado está,
também, o presidente da Junta de Freguesia de São
Jorge da Beira. Em declarações, o socialista
José Alves Pacheco dá razão às
queixas e assegura que, por sua vontade, o problema já
estaria solucionado. No entanto, avança, "há
algum tempo que existe a promessa por parte dos Serviços
de Recolha de Resíduos Sólidos Urbanos da
Câmara da Covilhã para a colocação
de 10 contentores perto da zona onde está a lixeira".
Só que, antes, continua o autarca, os Serviços
exigem a intervenção de uma máquina
retroescavadora que limpe o local de todos os detritos.
Máquina que, afirma José Pacheco, "dificilmente
poderá actuar antes do alcatroamento da estrada,
que estava previsto para Setembro, mas até agora
ainda não avançou".
Ouvimos ainda, o vereador da Câmara covilhanense
responsável pelo pelouro do Ambiente, Joaquim Matias,
que garante ter já enviado elementos dos Serviços
ao local, de forma a tentar resolver o problema. No entender
do vereador, "a responsabilidade pela situação
de degradação ambiental é inteiramente
da Junta". "Em reunião do Conselho de
Administração dos Serviços Municipalizados,
que tutelam a Recolha dos Resíduos, realizada no
dia 3 deste mês, decidiu-se notificar o presidente
da Junta para resolver a questão da lixeira. Quando
o problema estivesse solucionado seriam colocados os contentores
nas Minas, de forma a que o lixo recolhido aí fosse
depositado. Mas nada foi feito até agora",
explica Matias. De qualquer maneira, revela o responsável
municipal pelo Ambiente, os contentores são instalados
até ao final desta semana, "pois a situação
é insustentável e representa um contrasenso
para a política camarária a este nível".
"Já selámos mais de 70 lixeiras em
todo o concelho, não podemos, por isso, tolerar
que este trabalho seja manchado por irresponsabilidades
de outros", sublinha o vereador. Joaquim matias contesta
ainda que a máquina de que fala José Pacheco
não possa actuar, até porque, justifica,
"terá sido algo semelhante a depositar o lixo".
E remata: "Espero que a Junta tenha sensibilidade
para desmantelar o que criou. Caso contrário, cá
estaremos para actuar".
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