Nos últimos dias, o Parque Natural da Serra da
Estrela (PNSE) foi novamente fustigado pelas chamas. Num
fim-de-semana onde praticamente todos os centros de coordenação
operacional do País registaram fogos, o incêndio
que desvastou milhares de hectares no PNSE foi o caso
mais grave.
No combate ao incêndio estiveram envolvidos cerca
de 350 bombeiros, de 53 corporações dos
vários distritos do País, apoiados por 95
viaturas e seis meios aéreos, entre helicópteros
e aviões pesados.
Pedro Lopes, Inspector Nacional de Bombeiros adjunto refere
que, na origem deste incêndio pode estar "um
descuido ou uma queimada que terá fugido ao controlo
de quem a executou". O fogo começou em Balocas,
concelho de Seia, no Domingo de manhã, 9, e rapidamente
se propagou para as zonas de São Jorge da Beira
e Sobral de S.Miguel, na Covilhã, e Piódão,
concelho de Arganil, já na Serra do Açor.
A topografia acidentada do terreno, o excesso de manta
morta, as altas temperaturas, os fortes ventos instáveis,
a falta de acessos e a dificuldade em encontrar locais
para abastecimento dos meios aéreos, impediram
que o fogo fosse circunscrito mais rapidamente. "Os
bombeiros chegaram a descer e subir por uma espia, para
conseguir combater algumas frentes do incêndio",
sublinha Rui Esteves, comandante de sector operacional
distrital de Castelo Branco.
Durante o incêndio, algumas povoações
estiveram em perigo. Duas mulheres residentes em Teixeira
de Cima, chegaram mesmo a ser surpreendidas pelas chamas
quando, depois de tentarem salvar o gado que tinham fechado
num curral, procuraram refúgio num campo de milho.
As vítimas, 57 e 67 anos, foram transportadas para
o Hospital de Seia com queimaduras de 2º e 3º
graus nas pernas e braços.
Estragos irreversíveis
Apesar de ainda não ter sido contabilizada a área
queimada durante este último incêndio que
deflagrou no Parque Natural da Serra da Estrela, Fernando
Matos, director do PNSE, alerta para a necessidade de
ser feita uma avaliação correcta de toda
a zona que ardeu e para a criação de um
projecto específico que resolva o rasto de destruição
que o fogo deixou.
As consequências desta catástrofe fazem-se
sentir a todos os níveis. "Foram destruídas
áreas que ficaram sem vegetação e
propensas a erosão, mas o problema dos incêndios
não tem reflexo só no terreno. A própria
erosão vai fazer com que as bacias hidrográficas
do Mondego e do Zêzere tenham poblemas daqui até
à foz", explica Fernando Matos.
A reserva biogenética do Parque Natural da Serra
da Estrela também não escapou a este incêndio
de grandes proporções. O fogo causou estragos
na denominada zona B desta reserva, considerada como "tampão",
que inclui o Covão d'Ametade, o Vale do Rossim
ou a Lagoa Comprida.
Depois de três dias a lavrar, na altura do fecho
desta edição, o incêndio estava em
fase de vigilância e rescaldo. "Não
temos nenhuma frente activa. Mantemos as máquinas
em algumas zonas para consolidar e evitar reacendimentos",
sublinha Rui Esteves.
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