António Fidalgo
|
Avaliações e
avestruzes
É incompreensível
a crítica de alguns sindicatos de professores à
divulgação das notas nacionais do ensino
secundário. É caso para perguntar: quem
tem medo da verdade? Será que a ignorância
indolente é melhor que a consciência angustiante
de que algo vai muito mal no ensino em Portugal? Não
é escandalosa a enorme diferença entre as
notas internas e as externas, como bem escreveu Luís
Salgado de Matos no jornal O Público de 10 de Setembro
de 2001? Não é um tremendo logro nacional
que as notas internas contem muito mais do que as externas
para a média de entrada no ensino superior? Quem
está interessado no engano em que o país
vive desde há anos?
Perante as desgraças há quem prefira fazer
como as avestruzes, enfiar a cabeça na areia. Mas
as avaliações são feitas justamente
para saber como decorrem as coisas, para censurar o que
está mal, louvar o que está bem, e num e
outro caso retirar as conclusões devidas e melhorar.
Haja a coragem de olhar a realidade de frente, por pior
que seja, e encontrar as soluções necessárias,
por mais difíceis que sejam.
A culpa não é só do governo, melhor
dos sucessivos governos, laranjas e rosas, mas de toda
a sociedade portuguesa, que, no caso do ensino, parece
viver num mundo do faz de conta. Desde que haja sucesso
escolar, que os alunos passem de ano, ninguém parece
preocupar-se. Face a essa imposição da sociedade,
sucesso fácil, o grau de exigência baixa,
e os alunos chegam ao ensino superior com deficiências
em princípio inadmissíveis no básico.
E os poucos professores que persistem em lutar contra
a demissão generalizada, que têm a coragem
de dizer não, de chumbar, são classificados
de maus professores, sem capacidade pedagógica.
Ah, mas como o povo muito bem sabe, cá se fazem,
cá se pagam. E vamos pagá-las, lá
isso vamos. Com língua de palmo. Se alguém
tem dúvidas, olhe para lá das fronteiras
e veja como o ensino é coisa a sério, exigente.
|