João
Botelho ganhou com "Quem és tu",
no Festival de Veneza deste ano, um prémio
que visa distinguir os realizadores que, através
da sua obra, contribuem para valorizar a estética
no cinema.
O filme foi também candidato ao prémio
máximo do festival, o Leão de
Ouro.
A obra de João Botelho é uma
adaptação em três actos
da peça "Frei Luís de Sousa",
de Almeida Garrett.
Disse Botelho sobre os actores de "Quem
És Tu?" que são apenas
"portadores" da beleza do texto
de Garrett. Não têm interior,
só exterior.
Diz da obra que é um filme duro, "mas
é, na minha opinião, o que deve
ser dito sobre os portugueses e a memória
dos portugueses".
O objectivo do filme parece ser reconciliar
os portugueses com os seus autores e, simultaneamente,
com a identidade que caracteriza o povo luso.
"A alma dos portugueses está no
Camões, no Gil Vicente, no Garrett,
no Pessoa, em pessoas que ainda escrevem hoje
e em vários cineastas portugueses".
"Quem És Tu?" torna-se, na
óptica de Botelho, uma interrogação
dirigida aos portugueses e uma revolta pela
identidade ferida. "Quem és tu,
Portugal, quem somos nós, portugueses,
qual é a nossa identidade... O nosso
país vive em esquizofrenia: só
temos o chão que pisamos, os capitais
estrangeiros são donos do centro de
Lisboa e há uma periferia cheia de
jovens e famílias sem nada, só
com um sonho, o imaginário americano.
E eu não acredito que o cinema americano
ganhou a guerra. Quem ganhou foi o modo de
vida americano que agora reina. Não
vou separar o cinema da realidade, tal como
a vejo".
Rodado no Convento de Cristo, em Tomar, o
filme conta com prestações de
um elenco de vários actores portugueses.
Patrícia Barbosa , Suzana Borges ,
Rui Morrison , Rogério Samora e José
Pinto.
por
ana maria fonseca
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