CHILLIDA, Eduardo


Por Francisco Paiva

As férias de Verão permitem-nos suspender o tempo, autorizam a deriva do
desenho, o livre deambular por exposições e museus, uma jornada de leitura
ou a sesta de janela aberta, povoada de ruídos que nos fazem imaginar as
suas fontes, a forma e o desenvolvimento das acções que indiciam.

Agora que o ano recomeça e passamos a regular as actividades em função do
tempo, dos espartilhos cronométricos, geradores de um precipitado ciclo de
novas urgências, sinto já não ter o tempo que queria para falar-vos da
redescoberta de Eduardo Chillida, grave escultor basco.
Ainda que a memória das férias retenha fragmentos perspécticos e outros
apontamentos visuais, a complexidade sensorial da relação com as suas
esculturas é bem mais corpórea e cinestésica. Decorre sobretudo do
afrontamento que a escala e implantação produzem.
Há em Chillida, antes da forma, o gesto. Gesto ciclópico de energia
sobre-humana, perpetuado num ténue equilíbrio entre a vontade e a matéria.
A partir dos anos 60 o autor desenvolve esta competição (vontade/matéria) em
vias divergentes: por um lado esventra montanhas de granito e peças de
alabastro até à transparência, fixando a geometria da luz que desmaterializa
e regula os percursos do olhar; e por outro, ao invés, exterioriza a
irracionalidade da força com que transforma perfis de aço de secção colossal
segundo preceitos mais orgânicos.

Agora, até 16 de Setembro, a Galerie Nationale du Jeu de Paume em Paris,
exibe uma exposição retrospectiva dos seus 50 anos de carreira, na qual
remanesce uma coerência quase obcessiva.
Perseguido pela afirmação: "Je sentais que ma main faisait ces dessins si
vite que ma tête et mes sens n'étaient pas capables d'aller si vite qu'elle
(...)", referente à sua facilidade gráfica, Chillida passou, por meio da
escultura, a desenhar tridimensionalmente com materiais infinitamente mais
hostis do que o carvão e a grafite, os enunciados de problemas estéticos.

Links:
http://www.eduardo-chillida.com/