Foram oito os covilhanenses que partiram para os Picos da Europa em resposta ao apelo feito pela família de Maria João Pinto
Após participação na operação de resgate nas Astúrias
SOS estrela preocupada com falta de condições na Serra da Estrela

Dos cerca de 60 portugueses que participaram na operação de resgate de Maria João Pinto nos Picos da Europa, oito eram covilhanenses. Da experiência nos Picos da Europa resultou uma maior consciência de que as condições da Serra da Estrela para acudir a uma tragédia semelhante são deficientes.

Por Ana Maria Fonseca


A equipa SOS Estrela, da secção de montanha dos Amigos da Serra da Estrela, foi sensível ao apelo dos familiares de Maria João Pinto. A portuguesa esteve desaparecida durante seis dias e acabou por ser encontrada morta no passado dia 2.
Um grupo de oito covilhanenses ligados à SOS Estrela partiu para as Astúrias, onde permaneceu durante vários dias e participou na operação de resgate de Maria João Pinto. Os homens que partiram da Covilhã na quinta feira 30 de Agosto encontraram à chegada "um ambiente muito tenso", relata José Maria Saraiva responsável pela SOS Estrela.
Foram dias de tensão enquanto não foi encontrada a vítima.
"Há uma coordenação muito grande entre as várias entidades no processo", conta José Maria Saraiva. As buscas eram orientadas pela Guarda Civil de Espanha, mas estavam também envolvidas a Protecção Civil espanhola e o Parque Nacional dos Picos da Europa.
Há cerca de "150 casos anuais de desaparecimentos naquela área", comenta o coordenador da equipa SOS Estrela. Também por isso a preparação é maior.
"Na nossa Serra, não há muitos casos", por isso, "temos de fazer simulacros para estarmos preparados", defende.
A experiência nos Picos da Europa, veio realçar a falta de meios materiais e humanos qualificados para acudir a uma situação semelhante na Serra da Estrela. "É importante formar equipas capazes de intervir no terreno", sublinha.

Falta de apoio e coordenação das entidades regionais

José Maria salienta a falta de coordenação entre as entidades portuguesas e regionais, bem como a falta de apoio das várias entidades regionais. O Parque Natural da Serra da Estrela, onde é funcionário, a protecção Civil dos Distritos de Castelo Branco e Guarda, bem como a Câmara Municipal de Manteigas "Não são sensíveis à falta de condições ou ao nosso trabalho", refere.
Exceptuando a falta do helicóptero meio essencial para evacuar e transportar sinistrados, "Temos material necessário para a realidade da Serra da Estrela e a minha equipa está altamente qualificada para salvamentos mas não está preparada para enfrentar uma situação de falta de coordenação", salienta José Maria Saraiva.
Na Serra da Estrela, "A realidade passa sempre pelos bombeiros, mas tem de passar por profissionais que não sejam os mesmos que andam a apagar fogos", afirma.
A equipa SOS Estrela existe desde 1996. Começaram a ser solicitados para acudir a situações de algum risco até que decidiram formar a equipa. Para o equipamento que possuem, no valor de nove mil contos, "não há uma única entidade pública que tenha dado um tostão", refere o responsável pela equipa. Nem sequer há verbas para pagar um seguro de vida. Mas "O mais grave é que não há reconhecimento da equipa por parte dessas entidades", acrescenta.
O esforço que realizaram no sentido de dar formação a algumas equipas de bombeiros foi também infrutífero porque "há pouca disponibilidade em relação a esta matéria". José Saraiva garante que "Quando uma entidade ligada à Serra da Estrela nos garantir que é capaz de fazer o que nós fazemos, saímos imediatamente de cena".