Daria vem da Croácia e é já a quarta
vez que participa num campo de trabalho. Os olhos expressivos
mostram como está a gostar desta dia. "A Serra
da Estrela agrada-me muito, hoje estou a passar um dia
muito especial. Os outros dias também foram bons,
mas este está a ser mesmo especial". Os destinos
que elegeu anteriormente para participar em campos de
trabalho foram a Aústria, a Eslovénia e
a Croácia, onde chegou a coordenar as actividades.
Agora, queria conhecer Portugal. Como se preocupa com
o ambiente e procura novas experiências decidiu
vir.
Em relação a Portugal, acha devíamos
cuidar do nosso património, "muito bonito
para ver e para mostrar". O melhor no nosso ambiente
"é a paisagem que continua de certo modo selvagem.
É muito natural, como eu acho que deve ser, sem
muita "mão humana"", comenta.
Daria é uma dos 18 jovens que escolheram a Cova
da Beira para passar férias e trabalhar durante
15 dias. Chegaram Segunda feira à Covilhã
e daí partiram para aquela que será a sua
casa durante duas semanas. Uma quinta na Atalaia, longe
da confusão citadina, onde é possível
estar mais perto da natureza.
Um francês, três belgas, uma croata, duas
alemãs, jovens de Lisboa, do Porto, do Centro do
País e da região da Cova da Beira. Ao todo,
cerca de 20 pessoas participam num campo organizado pela
Quercus da Cova da Beira pelo segundo ano consecutivo,
com o apoio da delegação de Castelo Branco
do Instituto Português da Juventude (IPJ).
O objectivo é sensibilizar os jovens para as questões
ambientais mas também dar a conhecer a região
e conviver durante duas semanas num ambiente intercultural.
A troca de experiências é de facto, uma das
mais importantes razões que levaram jovens de diferentes
países europeus a reunirem-se no Teixoso. Muitos
tinham também vontade de conhecer Portugal e esta
parece ser uma boa forma de o fazer. Aliar as novas experiências
e o conhecimento de um novo país com a preservação
do ambiente parece, na visão destes jovens, um
bom programa para umas férias em Portugal.
O horror dos fogos florestais
Ana Sofia vem de Tires e estuda Química no Instituto
Superior Técnico.
Não sabia como funcionavam os campos mas uma amiga
já tinha vindo, gostaram do tema do campo, e resolveram
inscrever-se no IPJ. Até agora tem gostado muito
do campo. Gosta do convívio com estrangeiros, de
encontrar pontos em comum com culturas diferentes e do
contacto com a natureza.
O que mais a chocou até agora foi "A quantidade
de incêndios e também a enorme área
queimada".
De facto, os incêndios e as áreas devastadas
por eles são uma das maiores preocupações
e incómodos, quer de portugueses quer de estrangeiros.
Tom tem 21 anos e vem da Bélgica. Queria vir para
um país mais quente. Gosta da Cova da Beira. "O
clima é muito atractivo, porque na Bélgica
está sempre a chover e não faz tanto calor",
diz. Além do mau tempo, a Bélgica também
não cuida muito bem do ambiente, na opinião
de Tom. "Na Bélgica as leis não protegem
muito o ambiente. Há sempre muito lixo no chão
porque as pessoas deitam o lixo para o chão. Como
existe uma máquina que passa pela rua e aspira
o lixo, acham que têm todo o direito de sujar",
explica.
Quanto ao campo de trabalho, acha que "o grupo tem
muito cuidado com o ambiente e trata bem de cada sítio
por onde passamos". Por outro lado, "Vêem-se
muitos incêndios e isso é muito triste".
"As pessoas deviam perceber que precisam da natureza
e deviam preservá-la", defende.
Este estudante de Engenharia Civil está pela primeira
vez num campo de trabalho. Estava apreensivo de inicio
porque não sabia o que esperar. "É
diferente das férias convencionais. "Acho
que é especial, tem sido muito divertido Acho bom
não ir para as áreas de turismo, onde tudo
é confortável, mas artificial". Aqui
pode ver-se realmente como as pessoas vivem e trocar experiências
culturais. São as melhores férias que já
tive e vou voltar a um campo para o próximo ano".
Tom costuma andar de bicicleta e, quando precisa de fazer
viagens maiores prefere o comboio ao carro, porque é
menos poluente. "Tento sensibilizar os meus colegas
de faculdade para as questões ambientais, mas há
pessoas que atiram os restos de comida pela janela. Não
se devia fazer isso. No país que vivem não
têm consciência do ambiente", conclui.
Umas
férias diferentes
A grande maioria dos jovens que participam neste campo
de trabalho são estudantes universitários.
Vêm à procura de uma aventura num país
diferente e de pessoas com quem possam trocar experiências
e ideias. O ambiente não é o primeiro impulso
da sua escolha, mas depois de uma semana de campo, é
notória a preocupação com o meio
envolvente. Para esta "educação ambiental"
muito contribuem os membros da Quercus, presentes na organização
deste evento.
Susana Pinto, 23 anos, é da Covilhã e pertence
à Quercus. "Os campos de trabalho são
muito bons para fazer amizades", afirma. Em relação
ao ambiente "neste campo a dedicação
vai para a limpeza de matas e caminhos". Há
outra vertente que é "mostrar às pessoas
participantes o património natural da região
da Cova da Beira".
Margarida, também é uma voluntária
da Quercus. Trabalha no INATEL da Covilhã e gosta
de alertar os mais pequenos no sentido de os sensibilizar
para o meio ambiente.
"O que me dá prazer nestes campos é
conhecer pessoas novas, o convívio, o poder ajudar
e voltar a sítios que já conheço
mas que se tornam diferentes".
Em relação à região, o que
mais a preocupa é o lixo que se encontra na Serra,
"deixado por pessoas que não sabem respeitar
o espaço". Na cidade da Covilhã, "a
paisagística é um pouco confusa mas o resto
está mais ou menos controlado", diz.
Telma Madaleno, responsável pela organização
deste encontro, diz que "o objectivo deste campo
de trabalho vai de encontro aos objectivos da Quercus
Cova da Beira:
A preservação do ambiente". Esta é
uma maneira de encontrarem novas visões sobre o
ambiente e "novas ideias para educação
ambiental". Os participantes também trabalham
pela preservação do ambiente da região.
Os trabalhos agendados para este campo são de limpeza
em caminhos públicos, perto de matas e limpeza
de zonas ribeirinhas. Os jovens estão também
a fazer alguns trabalhos de educação ambiental
para futuras exposições da Quercus.
"Para a semana vão continuar a limpar o caminho
público", refere Telma Madaleno, enquanto
salienta a ajuda dada pela Junta de Freguesia do Teixoso,
que disponibilizou ferramentas e funcionários para
ajudarem à limpeza.
Mas nem tudo é trabalho. Além das questões
ambientais, interessa também à organização
que os participantes aprendam alguma coisa sobre os portugueses,
sobre a sua cultura e também sobre a região.
Assim, os jovens vão continuar a passear pela Cova
da Beira.
Durante a próxima semana vão a Belmonte
onde serão recebidos na Câmara Municipal,
e visitar a praia fluvial de Valhelhas. "Estarão
em permanente contacto com a natureza", conclui a
organizadora.
|