António Fidalgo
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O Interior e as notas do secundário
Não é de
mais realçar a importância da divulgação
das notas de exame do ensino secundário. Foi um
passo de gigante, que é de assinalar e de louvar.
Agora há que continuar. E isso significa estender
a avaliação a todos os graus de ensino e
respectiva divulgação. Haverá certamente
muitas resistências, mas terão de ser vencidas.
O trilho da transparência, que reflecte o mérito
e o demérito, deve ser prosseguido.
As escolas do Interior, como se adivinhava, não
se classificaram bem. Na listagem do Expresso, havia duas
escolas entre as piores do país, uma da Sertã
e outra de Penamacor. Ressaltou aliás da divulgação
que há um fosso claro entre as escolas do Litoral
e as do Interior. Há razões exógenas
às escolas, razões sociais, culturais e
económicas, que ultrapassam as escolas, mas há
também razões intrínsecas, de organização
e de motivação.
Ninguém ignora que a rotação de professores
é muito mais elevada nas pequenas vilas do que
nas cidades de média e grande dimensão.
Com grande número de professores deslocados, as
escolas dos lugares mais interiores do Interior têm
também as maiores taxas de absentismo. Há
turmas que durante o ano estiveram mais tempo sem professor
do que com professor. E isto não diz respeito só
ao secundário, mas sobretudo nos diferentes níveis
do ensino básico. Ora quem já vem coxo do
básico, só muito dificilmente recupera no
secundário. As notas agora divulgadas são
do secundário, mas elas traduzem todo o ensino
anterior, desde a primária até ao fim do
décimo segundo ano. Uma disciplina que ficou meses
e meses sem professor, um professor que faltou muito,
uma professora parturiente que não foi substituída,
representam lacunas graves que se irão reflectir
daí em diante. Com alunos que vêm mal preparados
do básico, as escolas secundárias não
podem fazer milagres.
Depois é óbvio que o ambiente familiar também
desempenha um papel crucial. É no litoral que se
concentram as famílias com maior formação
escolar. Um aluno com pais licenciados estará em
princípio em vantagem relativamente a um aluno
cujos pais têm poucas habilitações
literárias. E esta é também uma razão
por que as escolas do Interior não se classificam
tão bem como as do Litoral. Mas as melhores razões,
as mais óbvias e compreensivas, não escamoteiam
o facto de que o Interior precisa de boas escolas, básicas
e secundárias.
Quem se desloca para o Interior quer um bom ensino para
os seus filhos. Está mesmo pronto a pagar para
isso. Como obter esse ensino? Com bons professores, com
uma boa organização, com uma cultura de
exigência. Um bom colégio no Interior é
uma necessidade premente para o seu desenvolvimento, e
será um factor de estímulo para as outras
escolas, públicas e privadas.
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