Santos
Silva espera rectificação do orçamento
"Defendo os interesses
da UBI acima de tudo"
Santos Silva diz
que fez da UBI um pouco da razão de ser da sua
vida.
Entre os problemas financeiros do País e os que
se adivinham para as universidades durante este ano
lectivo, o Reitor da UBI fala dos projectos que tem
para a Universidade e das novas licenciaturas que abrirão
as portas em Outubro. Esperam-se dias difíceis,
mas a UBI não pára de crescer.
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Por Ana Maria
Fonseca
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"Há uma série de indefinições
a nível nacional no que diz respeito ao ensino
Superior, que é absolutamente necessário
clarificar", comenta o Reitor da UBI.
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U@O: Sr. Reitor, o seu mandato termina em 2004.
Este ano foi lançado o Plano de Desenvolvimento
2001/2006. Vai estar à frente da execução
deste plano?
Reitor Santos Silva: Essa é uma pergunta
de certa forma complexa.
O meu mandato termina entre Fevereiro e Março de
2004. Neste momento ainda é muito cedo para falar
no final do mandato e no que irá acontecer a seguir.
É evidente que elaborei um plano de desenvolvimento
para a Universidade de 2002 a 2006. É normal que
se faça um planeamento adequado para a instituição
e que todos os anos se faça um ajustamento desse
planeamento. De qualquer modo não podemos deixar
de apontar metas a atingir, fazendo as devidas correcções
à medida que a instituição e a universidade
evoluem. As universidades não se podem considerar
elementos totalmente isolados da sociedade. Haverá,
certamente, questões que estamos a planear para
determinado momento e condicionantes que nada têm
a ver com a universidade, questões da sociedade
em geral que nos podem impedir de a realizar.
Eu tracei, de facto, um plano de 2002 a 2006 e estou a
tentar cumpri-lo, como é evidente, lutando para
atingir as metas que aí foram traçadas.
U@O: Mas pretende acompanhar a execução
desse plano até ao fim?
S.S.: Quer dizer por o meu mandato terminar em
2004 e o plano ser até 2006?
Eu já disse várias vezes que fiz um pouco
desta instituição a razão de ser
da minha vida. E a ela, parece-me, pelo menos moralmente
estou tranquilo, dediquei o melhor da minha vida nestes
últimos anos e se calhar os melhores anos da minha
vida. Praticamente digamos, já não sei viver
sem ela. E embora termine o meu mandato como Reitor, continuarei
a ser professor nesta instituição e é
evidente que continuarei a lutar, como sempre fiz, mesmo
antes de ser Reitor, pelo bem da instituição.
U@O: Isso significa que não pretende recandidatar-se?
S.S.: Os estatutos da Universidade não impedem
uma recandidatura, mas eu julgo que ainda é muito
cedo para falar numa questão dessas. Até
lá muitas coisas podem acontecer.
Eu sou a favor da remodelação de pessoas
à frente de determinados cargos, e também,
neste caso não estou, digamos, preso ao lugar.
Não é pelo facto de ser ou não ser
Reitor que defendo os interesses da instituição
como o demonstrei ao longo da minha vida. Se eu deixar
de ser Reitor continuarei a defender os interesses da
UBI como sempre fiz. Uma recandidatura, será pensada
e discutida na altura própria.
Se houver outros candidatos que possam defender melhor
os interesses da instituição, julgo que
será melhor nem apresentar a minha candidatura.
Eu ponho a instituição acima de tudo Em
2003, se formos vivos, faremos a análise que será
sempre feita desta forma: será bom para a instituição
que eu apresente uma nova candidatura? Haverá elementos
que defendam melhor os interesses da instituição?
Eu digo-lhe mais uma vez que ponho os interesses da UBI
acima de tudo e é ainda muito cedo para estarmos
a falar de recandidatura.
U@O: Que áreas serão desenvolvidas
em termos de Licenciaturas nos próximos anos?
S.S.: Nós traçámos um plano
de desenvolvimento que foi apresentado e aprovado pelo
Senado. Enviámos este plano para o Ministério
da Educação e este é um plano que
deverá ser ajustado anualmente. Não podemos
esquecer que a necessidade de formação em
determinadas áreas varia de ano para ano e as universidades
devem ser suficientemente flexíveis para se adaptarem.
O que eu lhe posso dizer é que todos os cursos
que nos propusemos abrir em 2001/2002 vão abrir
em Outubro próximo. É claro que para 2002/2003
fixámos outras metas. Metas essas que teremos de
ponderar. No último trimestre do ano, em conjunto
com os diversos órgãos da Universidade,
vai ser feito um debate para se decidir se criarmos mais
cursos. É claro que depende também de questões
externas, algumas decorrentes da própria Lei. Estamos
numa altura em que temos um novo Ministério da
Educação. Ainda não se sabe muito
bem o que é que este pensa em relação,
por exemplo, à declaração de Bolonha,
o que é que vai acontecer aos graus académicos.
Haverá ou não uma restruturação
no ensino superior? A tudo isto a Universidade tem de
estar atenta. Estamos enquadrados numa sociedade, temos
um Governo e uma Europa, não estamos isolados.
O que lhe posso dizer é que estão a ser
feitos estudos de viabilidade relativos aos cursos que
serão propostos. Neste momento temos estudos bastante
avançados nas áreas que nos propusemos abrir
em 2002/2003. Vamos ver o que é que acontece no
último trimestre deste ano, também em função
do que o Ministério da Educação tenha
para dizer. Porque há de facto uma série
de indefinições a nível nacional
no que diz respeito ao ensino Superior, que é absolutamente
necessário clarificar. E há uma esperança
que o Ministro da Educação e a sua equipa
venham clarificar estas posições agora no
início do ano lectivo.
U@O: Atendendo ao facto de a UBI ter captado uma
das mais importantes áreas de Ensino Superior no
nosso País, o que continua ou fica a faltar para
se afirmar em definitivo no panorama universitário
nacional?
S.S.:A UBI este ano vai abrir sete licenciaturas
novas. Duas delas são reconversões das antigas
mas, de qualquer maneira é um esforço enorme
que a instituição está a fazer e
é também, de alguma forma, a consolidação
de todo este projecto que é a Universidade da Beira
Interior. Abrimos áreas que são, digamos,
a alma da universidade encarada em termos clássicos
como a Filosofia e a Medicina. É evidente que há
outras áreas para as quais a universidade começa
a ganhar competências.
Há uma questão de fundo que, enquanto eu
for Reitor vai manter-se. Nós não vamos
abrir cursos enquanto não tivermos meios humanos
e materiais qualificados para que os cursos tenham a qualidade
desejada. Hoje estamos mais na época da qualidade
do que da quantidade e é isso que nos interessa
como universidade, para nos afirmarmos.
É evidente que temos a Medicina, por exemplo, mas
somos ainda essencialmente uma escola de engenharia. Toda
a gente sabe que existe uma falta de vocação
digamos, para as engenharias mas de qualquer maneira o
país está a ser extremamente penalizado.
E não só o país, isto é um
problema europeu e até quase mundial, mas o País
não pode evoluir tecnologicamente se não
houver engenheiros. Temos de fazer um esforço para
que haja mais vocações para as engenharias
o que provavelmente tem a ver com a formação
que os alunos trazem do Ensino Secundário. Mas
podemos, por exemplo, criar mais ramos na Engenharia Electrotécnica,
temos capacidade e temos corpo docente qualificado. Dentro
das engenharias, temos uma componente muito forte na área
dos materiais. Provavelmente faz sentido que abramos uma
licenciatura em Engenharia Biomédica ou na área
dos Biomateriais. É uma das hipóteses, mas
estamos a fazer estudos.
Posso-lhe dizer que o Departamento de Engenharia Civil
tem andado com especialistas externos à universidade,
a fazer estudos no sentido de ver se é viável
ou não avançarmos com um curso de Arquitectura.
Temos também na área da Gestão uma
especialidade bastante desenvolvida e que outras universidades
já estão a tornar como licenciatura: a área
do Marketing.
Por exemplo, nós temos uma licenciatura em Sociologia.
Temos um corpo docente qualificado na área da antropologia.
Faria sentido abrir uma licenciatura em Antropologia?
Mas são áreas que não têm emprego.
O mercado em Portugal está saturado. Embora tenhamos
corpo docente qualificado, provavelmente não faz
sentido, nem o ministério nos iria, provavelmente,
autorizar.
Tudo isto são questões que estão
a ser ponderadas e que fazem parte do nosso plano de desenvolvimento.
Agora há- que fazer os estudos.
No que diz respeito à área da saúde,
o nosso plano de desenvolvimento apontava para a criação
de Ciências Farmacêuticas entre outras licenciaturas
como a radiologia e a radioterapia, porque como temos
optometria, uma componente muito desenvolvida na física
estamos em condições de arrancar com um
curso dessa natureza.
Mas por exemplo, o anterior ministro da Educação
não estava de acordo que as tecnologias da saúde
fossem ministradas nas universidades. Será que
este Ministério vai estar de acordo ou não?
Ministrar a Medicina e outros cursos na área da
saúde, no meu entender faz sentido porque é
uma questão de rentabilizarmos meios humanos qualificados
e meios materiais. Há laboratórios que só
para fazer a formação dos alunos de medicina
ficam subutilizados. Haveria que os rentabilizar. E há
outra questão que é muito mais importante.
A formação de profissionais da Saúde,
médicos e outros profissionais, se for feita no
mesmo ambiente, na mesma instituição, o
facto de se encontrarem nos mesmos locais, frequentarem
a mesma biblioteca, até os mesmos bares, começa
a criar uma certa forma de trabalhar em grupo que pode
resolver mais tarde os problemas de integração
na vida profissional.
U@O: A tendência continuará a ser
a de apostar no investimento dirigido para as engenharias?
A UBI continua a ser uma escola de engenheiros?
S.S.: Na UBI é evidente que tratamos todas
as unidades da mesma forma. Quando eu digo que a Beira
Interior é uma escola essencialmente de engenharia
é porque, de facto, até o número
de cursos e o número de alunos nas engenharias
tem uma certa preponderância em relação
às outras áreas. E fizemos investimentos
demasiado fortes nos últimos anos na área
das Ciências da Engenharia. Isto não quer
dizer que não estejamos a dar toda a atenção
às outras áreas. Quando abrimos uma área
nova damos-lhe toda a importância e tentamos que
ela tenha as melhores condições para funcionar.
Basta olhar para o caso da Medicina e a atenção
que nos tem merecido. O caso dos cursos de Design e na
área da comunicação. Julgo que haverá
poucas instituições que ofereçam
as condições de formação que
nós oferecemos em áreas novas. A nossa política,
é dar a melhor qualidade possível ao ensino
e à investigação que se faz nesta
instituição. Essa é a nossa aposta.
É evidente que a UBI, ao longo destes anos foi
adquirindo competências na área das engenharias
e temos recursos materiais e humanos subutilizados pela
falta de alunos que tem havido nas engenharias. Temos
capacidade de formar mais alunos nos cursos de engenharia.
Simplesmente os alunos também não chegam
à universidade nessas áreas. Esse é
um fenómeno europeu e até mundial. Há
uma falta de vocações para essa área,
mas isso não quer dizer que não se lhe dê
a importância que ela merece porque um país
não pode evoluir tecnologicamente se não
tiver uma engenharia forte.
U@O: A qualificação do corpo docente
é uma forte bandeira do seu reitorado. Quando espera
ver atingido o índice ideal de doutorados ao serviço
da UBI?
S.S.: Nós estabelecemos uma meta para 2005:
50 por cento de docentes doutorados. Eu julgo que essa
meta será cumprida. Neste momento já temos
mais de 35 por cento do corpo docente doutorado e, tendo
em consideração que temos mais de 40 por
cento do corpo docente em formação, e que
36 por cento está dispensado do serviço
para fazer o doutoramento parece-me que ultrapassaremos
a barreira dos 50 por cento.
Eu julgo que com algum optimismo iremos atingir os 50
por cento de doutorados na UBI muito antes de 2005. E
há departamentos que já há muito
tempo ultrapassaram essa barreira. E até departamentos
críticos. A Física já ultrapassou,
a Química, o Têxtil, e o Papel que este ano
fica com 80 por cento dos docentes doutorados. Há
departamentos onde a meta já foi atingida e até
ultrapassada. Claro que há outras áreas
onde temos mais dificuldade. Por exemplo na Matemática
há uma falta de doutores a nível nacional.
Mas na UBI temos uma percentagem significativa de docentes
em doutoramento, mesmo na Matemática e esperamos
que a situação venha a melhorar nos próximos
tempos. Penso que a meta a que nos propusemos poderá
ser atingida em 2003 ou 2004, tendo em consideração
o número de doutorados que temos neste momento.
U@O: Em espaço a UBI tem crescido bastante
nos últimos anos. Projectos como a Biblioteca Central
ou a residência Roque Cabral ficarão emblemáticos
deste mandato. O que vai ainda crescer?
S.S.: Este ano será inaugurada a Biblioteca
Central em Outubro ou Novembro. Vamos também praticamente
concluir a recuperação da Fábrica
do Moço para as Ciências da Saúde
que, não havendo acidentes de percurso, deverá
estar concluída em Dezembro ou Janeiro. Vamos iniciar
a construção da Faculdade das Ciências
da Saúde. Neste momento está a ser elaborado
o projecto mas esperamos lançar a obra a concurso
lá para o mês de Abril. Vamos lançar
a construção dos Serviços Centrais
da Reitoria, vamos também construir um complexo
pedagógico para as Ciências do Desporto,
que neste momento é uma licenciatura bastante carenciada
em termos de infra-estruturas.
Serão também iniciadas, com apoio externo,
ainda este durante 2001, as obras de construção
para o segundo núcleo do Museu de Lanifícios.
Gostaríamos também de iniciar outras obras
mas as restrições financeiras não
nos permitem lançá-las. Gostaria muito de
iniciar a construção da cantina do Pólo
IV. Tivemos a promessa de inscrição em PIDACC
2002, mas a obra acabou por não ser contemplada.
Irei tentar negociar com o ME, no sentido de, de alguma
forma, podermos iniciar as obras dessa cantina que é
um problema grande que temos na Universidade.
Eu tenho esperança que possamos iniciar a obra
ainda durante o próximo ano. O projecto está
candidatado ao PRODEP. A universidade já comprou
o edifício com receitas próprias, já
suportou os custos da elaboração do projecto
também com receitas próprias, mas é
evidente que não podemos fazer tudo com receitas
próprias e precisamos de uma ajuda do PRODEP ou
PIDACCC/PRODEP para que se possa iniciar essa construção.
Gostaríamos também de começar com
o projecto da Faculdade de Artes e Letras, para a recuperação
do edifício II do Ernesto Cruz, uma vez que a área
das Ciências Sociais e Humanas está em ruptura.
Estamos a fazer alguma força junto do Ministério
para que a obra se possa iniciar. A UBI já tem
o edifício que também adquiriu com receitas
próprias, já mandámos elaborar o
programa preliminar, pelo menos gostaríamos de
ter o dinheiro para o projecto. Também era uma
promessa que tínhamos do PIDACC 2001 que acabou
por não ser contemplada.
Ainda durante este ano adquirimos o edifício da
antiga Maximauto, no Pólo I e vamos recupera-lo
com alguma urgência para alojar os Serviços
Técnicos. A aquisição e recuperação
são feitas também com receitas próprias.
Contávamos sobretudo que houvesse algum apoio do
ME para iniciarmos a Cantina do Pólo IV e o projecto
das Artes e Letras.
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"Estamos
a entrar numa fase de contenção de despesas".
U@O:
O corte para o orçamento das universidades
veio comprometer alguma destas obras?
S.S.: Na universidade, uma coisa é
o orçamento de Estado que paga os salários
e o funcionamento e outra coisa é o PIDACC/PRODEP
que paga os investimentos e as construções.
As universidades em geral, em termos de PIDACC não
foram penalizadas, pelo contrário. No caso
concreto da UBI, temos várias obras abrangidas
pelo PIDACC. Neste sentido a situação
não é tão má como isso,
tendo em consideração as restrições
financeiras que o País vive neste momento.
A UBI tem neste momento um conjunto de projectos
em PIDACC significativo e, como tal, não
nos estamos a queixar dessa componente. Os únicos
problemas põem-se no caso dos outros dois
projectos que gostaríamos de ver contemplados.
Eles são fundamentais e a Universidade pode
entrar em ruptura. Aliás, a cantina do Pólo
IV é um problema que tentamos resolver desde
1996 e os alunos das Ciências Sociais e Humanas
e das Artes e Letras não cabem no edifício.
Temos 1,1 m2 para cada aluno. Esta é a única
situação de ruptura que a UBI vive
neste momento.
Na questão dos investimentos, as universidades
em geral não estão penalizadas, muito
pelo contrário. O problema reside no orçamento
de funcionamento.
Considerando que ainda não nos deram o aumento
para os salários e considerando que também
a verba das Ciências da Saúde não
foi transferida para a UBI, neste preciso momento
os salários da Universidade representam 97,5
por cento do orçamento de Estado transferido.
Isto quer dizer que praticamente todo o funcionamento
está a ser suportado com receitas próprias.
As universidades vivem um problema difícil
de financiamento no que diz respeito ao orçamento
de Estado para salários e funcionamento e
digamos que o que as universidades estão
a receber está muito longe do que a Lei de
financiamento das universidades prevê. O plafond
que nos foi atribuído para 2002 é
extremamente reduzido. Não nos permite funcionar
nas melhores condições.
Há cursos novos a arrancar e temos necessariamente
de contratar docentes. Vai ser extremamente difícil.
Há também outras áreas em que
não há absolutamente hipótese
nenhuma de admitir mais pessoal. Mas para além
disso há o problema das despesas de funcionamento.
A água, a luz, o telefone...tudo isso sai
do orçamento de funcionamento.
U@O:
Então vamos entrar numa fase de contenção
de despesas?
S.S.: Estamos a entrar numa fase de contenção
de despesas.
U@O:
Adriano Pimpão, presidente do CRUP afirmou
ser necessária prudência relativamente
às promessas do Governo. Concorda com esta
prudência?
S.S.: É evidente que é necessária
prudência. Houve uma reunião do Conselho
de Reitores ao mais alto nível do Governo
e foi garantido aos reitores que não haveria
o corte às universidades. No mesmo mês
em que garantiram que não haveria corte,
cortaram. Ora isto não é sério.
Agora voltam a dizer que os salários não
estão em causa. Mas o problema não
são só salários. É que
existe uma Lei e uma fórmula de financiamento.
E digamos que este é o único sector
da actividade pública que está controlado
e que já demonstrou que não há
derrapagens ao longo dos anos. Não faz sentido
que as universidades sejam penalizadas sob o ponto
de vista financeiro.
O que a Lei de financiamento das universidades diz
é que as despesas de pessoal devem representar
80 por cento e as de funcionamento 20. Estamos muito
longe destes valores.
A situação não é brilhante.
Se me perguntar se devemos fazer um esforço
porque o País está a atravessar um
período difícil, é claro que
sim. Como cidadão sou o primeiro a dizer
que devemos gerir melhor e tentar acompanhar as
dificuldades do País. Esta situação
não se vive só em Portugal e provavelmente
noutros países europeus a situação
não é melhor. Há- que também
fazer um esforço de maneira a que as universidades
não sejam tão penalizadas e que não
se ponha em risco o seu funcionamento.
E depois há outra questão. Provavelmente
vamos dar dinheiro a universidades que podem ter
pessoal docente a mais ou pessoal a mais em geral
e lá está a ir uma esmola para salários.
Eu acho que essa questão nem sequer se deve
pôr. Se existe uma Lei de financiamento e
se as universidades já demonstraram que havia
rigor na sua gestão, então estamos
a beneficiar o infractor. Existem plafonds que são
fixados pelo ME, número máximo de
docentes e número máximo de funcionários.
No caso da UBI nós ainda estamos longe dos
plafonds que nos foram fixados.
Embora eu volte a dizer que compreendo que tem de
haver uma gestão de rigor e que as universidades,
fazendo parte integrante da sociedade e do País,
se adaptem. Mas há limites de adaptação
e neste momento estamos a ultrapassar esses limites.
Na próxima Terça feira vai haver uma
reunião da comissão permanente do
CRUP com o secretário de Estado do Ensino
Superior e com o secretário de Estado do
Orçamento e espero sinceramente que haja
ainda a possibilidade de rectificar o plafond do
orçamento que foi atribuído às
universidades para 2002. Isso é uma questão
em que eu tenho esperança porque se não
houver de facto essa rectificação
o ano 2002 vai ser extremamente complexo.
Não estou a dizer que não vamos funcionar.
Por vezes já se tem levantado o fantasma
do fecho da Universidade e não é nada
disso. Acho que tem de haver bom senso, tem de haver
prudência, e as universidades, professores,
funcionários e alunos, todos temos de compreender
que estamos num País que vive uma determinada
situação económica e não
entrarmos em reivindicações que às
vezes são difíceis de concretizar.
Até porque eu tenho visto algumas movimentações
dos alunos, mas temos que reconhecer que o orçamento
da acção social tem subido. Não
foi cortado, foi aumentado. Também temos
de ver que aqui na UBI, 35 por cento dos alunos
são bolseiros. O plafond de bolsas para o
próximo ano aumentou. O orçamento
para os serviços de acção social
aumentou.
U@O:
Está a fazer um apelo aos alunos para que
não reivindiquem?
S.S.: Não, eu apenas estou a dizer,
tal como disse Adriano Pimpão Presidente
do CRUP, que tem de haver prudência. Temos
todos de fazer um esforço de gestão
para que se ultrapasse esta situação
de crise.
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Formação
profissional nas universidades
U@O:
Qual é a sua posição relativamente
ao acordo de Bolonha e à divisão dos
actuais graus académicos em apenas dois ciclos?
S.S.: Eu julgo, e a declaração
de Bolonha aponta nesse sentido, que os graus universitários
devem ser três. Licenciatura ou Bacharelato,
o primeiro. O segundo grau seria o Mestrado e o
terceiro, o Doutoramento. Estes seriam os graus
universitários à semelhança
do que acontece em todo o mundo. Depois, na minha
maneira de ver, as instituições de
ensino superior deviam também, e voltamos
à questão da rentabilização
de meios humanos e materiais, ter a possibilidade
de conferir diplomas ( diferentes de uma licenciatura)
que habilitem o cidadão ao exercício
de uma profissão. Esta é a minha maneira
de ver o ensino superior.
U@O:
Mas isso implicaria outro tipo de formação.
S.S.: Sim mas, por exemplo, a UBI tem nas
oficinas têxteis um grande investimento. Esse
espaço poderia ser rentabilizado.
Claro que isso dependeria de uma directiva política
do Governo. Para uma instituição poder
conferir o grau de licenciatura tem, em primeiro
lugar, de ter corpo docente qualificado, o que quer
dizer que para conferirmos uma licenciatura têm
de se estabelecer requisitos mínimos.
A outra questão, é uma formação
de carácter mais profissionalizante. Eu julgo
que todo o cidadão tem direito à formação
para poder exercer uma profissão da melhor
forma possível
As instituições de ensino superior,
e estou a falar de uma forma geral, politécnicos
e universidades, poderiam contribuir, elas próprias
ou em associação com outras escolas
para este tipo de formação.
Por exemplo aqui na Beira Interior estamos a fazer
formação profissional para a ESTEBI.
E, pelo que sabemos, são os nossos docentes
que fazem a formação. Muitas das aulas
têm lugar nos nossos laboratórios,
nomeadamente os de técnicos têxteis,
e são de facto, cidadãos que têm
emprego garantido na indústria. Porque não
rentabilizarmos os meios humanos e materiais que
as instituições de ensino superior
dispõem , neste momento, e conferirmos um
diploma que habilite ao exercício de uma
profissão?
Eu vejo hoje que as instituições deviam
caminhar nesse sentido. Mas para isso tem de haver
uma directiva política.
U@O:
Esse tipo de cursos constituem uma lacuna no nosso
sistema de ensino. Acha que deveria ficar a cargo
das universidades essa responsabilidade?
S.S.: Estes cursos têm de ser muito bem pensados.
Para obter um grau académico, é preciso
ter uma formação de base abrangente
que permita ao indivíduo adaptar-se às
mais variadas situações. Hoje não
podemos fazer uma formação universitária
demasiado estreita ou especializada. Temos de ter
uma formação de base que ensine os
alunos a aprender e a pensar. Fundamentalmente é
isso que se deve fazer numa universidade. Mas haverá
outra camada da população que terá
menor aptidão para cursos desta natureza,
mas que tem uma aptidão maior para desenvolver
actividades de carácter manual, por exemplo.
Então porque não darmos uma formação
de base de carácter diferente, é certo,
mas de forma a que possam compreender os fenómenos,
e aí sim, especializá-los. E estamos
então a falar dos diplomas a que me referia
há pouco. Vamos habilitar o cidadão
a exercer uma profissão.
U@O: O Bastonário da Ordem dos Engenheiros
falou à SIC sobre possíveis congelamentos
na acreditação das licenciaturas onde
os alunos são admitidos com classificações
inferiores a dez valores. Essas declarações
preocupam-no?
S.S.:A média do exame nacional pode
ser inferior a dez valores e o Concelho de Reitores
arranjou uma fórmula, através de um
percentil, de fazer uma correcção
da média. Mas também já são
poucas as universidades que mesmo na prova específica
estão a admitir alunos com nota inferior
a dez valores. Eventualmente nas universidades públicas
isso ainda poderá acontecer. É uma
correcção da média. que eu
julgo que deve ser feita. Isto porque não
se compreende que o aluno ao longo de toda a avaliação
do ano lectivo tenha uma média de 12 valores
e depois no exame nacional obtenha uma classificação
de seis valores. Há qualquer coisa que está
mal. Ou os exames são mal elaborados, ou
então a avaliação que se faz
no ensino secundário não é
a adequada. Alguma coisa tem de ser feita. Não
pode haver uma discrepância desta natureza.
Enquanto não se esclarecer esta questão
da diferença entre a média dos exames
e a média contínua dos alunos, acho
que faz todo o sentido uma correcção
da média das provas de Matemática.
Mas nessa questão as universidades são
livres de fixar critérios. A Ordem dos Engenheiros,
na altura, esteve de acordo com esta medida. É
evidente que a ordem tenta ter o máximo de
rigor com o qual eu concordo. A média pode
ser corrigida através de um percentil e eu
concordo com esta correcção porque
tenho de dar o benefício da dúvida
aos alunos. Existe uma diferença muito grande
entre as notas dos alunos e a nota dos exames e
por isso temos de ter algum cuidado enquanto estas
questões não forem esclarecidas.
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